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Cana-de-açúcar enfrenta dificuldades

Em uma década, colheita gaúcha da cana sofreu diminuição de 64%



A cadeia produtiva da cana-de-açúcar no Estado passa por dificuldades desde que o projeto Norobios, da Noroeste Bioenergética, que previa a instalação de uma usina de etanol na região de São Luiz Gonzaga até o ano de 2012, foi abandonado por falta de investimentos. A partir disso, o cultivo da planta, que não consegue fazer frente ao produzido em outros estados em razão dos preços praticados, vem sendo substituído por outras alternativas.

Mesmo assim, a única usina de maior escala do Estado, pertencente à Cooperativa dos Produtores de Cana de Porto Xavier (Coopercana), resiste como produtora de 2% do etanol utilizado internamente no mercado gaúcho. A safra terá início em 15 dias e deve gerar 45 mil toneladas nos 950 hectares plantados pelos associados da cooperativa. Os preços praticados pela tonelada de cana-de-açúcar ficarão em torno dos R$ 65,00 ao produtor. O técnico da União da Indústria de Açúcar (Unica) comenta que a safra de cana-de-açúcar deste ano está atrasada em razão do tempo chuvoso do início do inverno, mas isso não acarretará prejuízos. O último levantamento, feito para a safra 2015/2016, apontava que o Estado tinha 22,3 mil hectares de área plantada com cana-de-açúcar, frente aos 10,8 milhões do País.

Entre a safra 2007/2008, que atingiu 129 mil toneladas, e a de 2015/2016, que foi de 61 mil toneladas, a produção de cana-de-açúcar caiu 64% no Estado. Já a área plantada com a cultura, no mesmo período, diminuiu 38%. O presidente da Coopercana, Elder Weber, porém, acredita que mesmo com a pouca produção da planta no Estado, uma nova usina não representaria concorrência à cooperativa. Pelo contrário, incentivaria a produção.

Durante as tratativas para a abertura da usina da Norobios em São Luiz Gonzaga, cerca de 40 produtores reservaram 8 mil hectares para o cultivo de cana-de-açúcar. O responsável pela Canasul, empresa que viabilizaria a produção para a usina que não vingou, Pedro Plínio Vieira Marques, explica que este espaço foi, majoritariamente, destinado para a produção de soja. Marques acredita que a usina não foi viabilizada já que outras energias, como o petróleo do pré-sal, surgiram como alternativa - o que desviou a atenção de investidores.

Weber também lamenta a falta de investimentos na cultura ao lembrar que, na época, a Coopercana contava com quase 2,8 mil hectares destinados à planta. "Parte disso também foi para a soja e para a pecuária", conta. O prefeito de São Luiz Gonzaga, Sidney Luiz Brondani (PP), explica que a lucratividade do agricultor com a cana, mesmo a planta sendo uma alternativa alimentar e energética, não compensa frente a outras culturas. "O etanol é um produto muito volátil financeiramente no mercado", afirma, lembrando o último aumento do PIS/Cofins sobre os combustíveis. Brondani confirma que parte da produção da região perdeu espaço para a soja e pecuária. A taxação de impostos também é citada como um entrave ao setor. Weber destaca que, no Rio Grande do Sul, a incidência do ICMS sobre o produto é de 30%, enquanto em São Paulo, onde há produção em larga escala, a alíquota do imposto é de apenas 12%.

O presidente da Coopercana lembra que as empresas produtoras de etanol têm benefício através de crédito presumido na ordem de 48% sobre o ICMS incremental declarado. No entanto, Weber manifesta preocupação sobre uma possível revogação da vantagem devido à situação financeira do Estado. A secretaria estadual da Fazenda, através de sua assessoria, informa que o prazo de validade do benefício não está estipulado em lei. 

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