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Os necessários investimentos externos


Argemiro Luís Brum

O advento da Covid-19 nos traz um outro problema, além de todos aqueles que já sabemos. Devido a uma freada ainda maior no consumo das famílias, diante das incertezas causadas pela pandemia, nossa inflação recuou significativamente nos últimos dois meses. Hoje estamos em deflação, com a possibilidade de terminarmos 2020 com uma das menores taxas da história. Paradoxalmente, o governo central não tem motivos para comemorar.

Isso porque, a partir da lei do Teto do Gasto Público, o crescimento das despesas federais no ano seguinte será limitado à inflação em 12 meses, acumulada até junho do ano anterior. Inicialmente, o governo contava com uma inflação ao redor de 3,2%, entre julho/19 e junho/20, fato que permitiria aumentar os gastos públicos em R$ 47 bilhões em 2021. Agora, a estimativa de inflação é de 1,9%. Assim, as despesas públicas no próximo ano poderão crescer apenas R$ 28 bilhões sobre o total deste ano. Como o dinheiro público já estava escasso antes da pandemia, com os gastos extraordinários realizados por conta da Covid-19 e a redução da inflação acima do esperado, a situação se complica ainda mais.

O problema é que, após as despesas obrigatórias, a sobra mínima necessária para manter a enorme máquina pública federal, e realizar algum investimento, deveria ser R$ 89,9 bilhões. Mas o volume estimado fica, agora, em R$ 70,9 bilhões (cf. IFI). E isso se não surgirem despesas extras! Portanto, mais do que nunca o Brasil precisará do capital estrangeiro. Ora, com exceção deste último mês de maio, desde julho do ano passado vem saindo mais dinheiro externo do que entrando no país. Nosso fluxo cambial, entre agosto/19 e abril/20, ficou negativo em US$ 55,3 bilhões, sendo que em 12 meses o total negativo ultrapassou os US$ 60 bilhões. E o saldo positivo de maio se deve exclusivamente ao resultado positivo da conta comercial (US$ 3,962 bilhões), já que as operações financeiras apresentaram déficit de US$ 882 milhões.

Daí resultou o enorme tombo da B3 (ex-Bovespa) e a desvalorização do Real em torno de 40% em menos de cinco meses. Para segurar o câmbio o governo comprometeu 16,1% de nossas reservas cambiais, as quais chegaram, ao final de maio, em US$ 299,3 bilhões, contra US$ 356,9 bilhões no encerramento de 2019. Como não temos poupança suficiente para alavancarmos os investimentos, precisamos voltar a atrair o capital externo. Ora, é sabido que tais recursos não saíram apenas devido à pandemia, mas especialmente devido a péssima condução da política interna em Brasília. Ajudaria substancialmente, portanto, se o governo central, a começar pelo Presidente da República, melhorasse sua postura e gestão em relação ao mundo e ao próprio país.     

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