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Combustíveis, caminhoneiros e a gênese da crise atual (Final)


Argemiro Luís Brum

Como expusemos na coluna anterior, é natural que a sociedade em geral e os caminhoneiros em particular reajam ao preço dos combustíveis. Em qualquer transporte de carga rodoviário, em um trajeto de mil quilômetros neste país, 38% do custo é o combustível! É nesse quadro que a composição do preço do diesel (e da gasolina) merece atenção.

No caso do diesel, 55% do preço ficam com a Petrobras; 13% é incidência da CIDE, PIS/PASEP e COFINS; 16% ICMS; 7% é o custo do biodiesel; 9% ficam com a distribuição e a revenda (postos), lembrando que há 10% de biodiesel em cada litro de diesel vendido. Isso significa dizer que a carga de impostos e taxas totaliza 29%.

No caso da gasolina tal carga sobe para 45%. Ora, pagar um preço cada vez mais alto pelo combustível, que contém tal carga de impostos e taxas, a qual em parte é (ou foi) roubada pela corrupção e outra parte vai para manter a máquina pública inchada e ineficiente, sem retorno praticamente algum de serviços públicos adequados, e nem mesmo estradas decentes, é inadmissível. Rapidamente a greve se torna uma alternativa! Já o governo, em sua fraqueza política, subestimou o movimento e não se organizou para o fato. Em pouco tempo foi surpreendido, demorando a negociar.

E quando o faz, a própria categoria dos caminhoneiros já havia perdido o controle da situação. O efeito econômico disso tudo, apesar das justas razões iniciais dos caminhoneiros (tanto que ganharam o apoio quase geral da sociedade), é terrível. No oitavo dia de paralisação do transporte, a Petrobras já havia perdido R$ 126 bilhões de seu valor.

A economia geral, vê seu PIB caminhar para uma forte queda em 2018, em relação ao projetado inicialmente. Ocorre um desabastecimento contínuo de bens em geral, enquanto as indústrias param, gerando pressão inflacionária que ainda está por vir. O emprego fica ainda mais ameaçado. Ao mesmo tempo, a bolha existente na Bolsa de Valores encontra o motivo para estourar e o índice despenca, perdendo cerca de 10.000 pontos em menos de 10 dias.

Paralelamente, o Real retoma seu caminho de desvalorização, voltando aos patamares de R$ 3,75 por dólar e obrigando o Banco Central a queimar reservas cambiais para segurar o processo. Para piorar o cenário, as medidas anunciadas pelo governo, visando atender as reivindicações dos caminhoneiros, vão transferir para os contribuintes o custo da greve, além de comprometer ainda mais o necessário ajuste fiscal (o rombo fiscal da greve é calculado em R$ 13,5 bilhões).

O que já estava ruim ficará pior no cenário da economia nacional até o final do ano. Com o agravante de que politicamente o país está perdido, com o Executivo e o Congresso Nacional distantes da realidade nacional. E não espere milagres do próximo governo, qualquer que seja ele. Os próximos anos serão muito difíceis, fato que a greve dos caminhoneiros acabou cristalizando à Nação. 
 

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