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O Brasil corta errado


Argemiro Luís Brum

Nestes últimos anos, diante da má gestão pública no passado recente, ficou escancarada a necessidade de um profundo ajuste fiscal em nosso país. Não sendo possível solucioná-lo apenas com arrecadação, os governos, nos últimos anos, passaram a fazer cortes orçamentários e nas despesas públicas.

Porém, atolados em interesses políticos diversos, além de uma Constituição já ultrapassada na matéria, os governos vêm optando por cortar majoritariamente lá onde não deveria fazê-lo, ou seja, na educação, saúde e infraestrutura. Enquanto isso, a máquina pública, inchada e ineficiente, continua em pé e brigando, em muitos casos através de greves, para assim continuar.

Na área da educação brasileira os dados são assustadores. Um exemplo está nos cortes feitos junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Em 2013, o orçamento para este ministério era de R$ 10,2 bilhões (pouca coisa diante das necessidades do país nesta área). Em 2017, o orçamento previsto caiu para apenas R$ 3,2 bilhões, correspondendo a 44% a menos do que o registrado em 2016. Um dos mais recentes editais do CNPq distribuiu tão somente R$ 120 mil, com vigência de três anos, na faixa mais alta (cf. matéria na BBC Brasil, assinada por Maurício Brum, http://www.bbc.com/portuguese/geral-41935911).

Uma miséria, sendo que o valor não compensa a burocracia que o pesquisador deve enfrentar antes, durante e depois de ter conseguido parte da verba. A realidade nacional é tão crítica que, em setembro passado, 23 ganhadores do Prêmio Nobel mandaram uma carta ao Presidente Temer alertando que nenhum país cortou mais de 10% dos investimentos em ciência e tecnologia e que, ao fazê-lo, o Brasil sofreria fuga de cérebros. Portanto, não pode ser surpresa o desejo de milhares de jovens brasileiros em deixar o país, além de pesquisadores já renomados.

Afinal, “...o governo vê a mão de obra qualificada e a inovação tecnológica como desnecessárias” (cf. BBC Brasil). E a realidade brasileira vai ainda mais longe! Nos últimos 15 anos os governos federais autorizaram a proliferação de cursos superiores, inclusive em Ensino à Distância (EaD), com pouco controle efetivo. Uma grande parcela surgiu como “caça-níquel”, sem comprometimento com a formação dos estudantes.

Resultado: formamos jovens com pouca qualificação, em escolas e universidades onde a reprovação por insuficiência é quase proibida. Além disso, a postura oficial comprometeu o futuro financeiro de muitas escolas e universidades sérias. Enquanto as escolas públicas são sucateadas, o ensino privado no país, para ser competitivo em termos financeiros, começa a adotar uma lógica inversa à qualificação: despedir os professores mais bem preparados (mestres e doutores), pois são mais caros. Com isso, o ensino no Brasil, em sua grande parte, virou um comércio, onde formar cérebros para contribuir com o real desenvolvimento do país é secundário. 

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