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Bovespa: nova bolha (?)


Argemiro Luís Brum

A Bolsa de Valores brasileira, através do seu índice Ibovespa, acaba de bater seu recorde nominal (74.319 pontos) neste dia 11 de setembro, ultrapassando o seu pico anterior, atingido no distante 20/05/2008 (73.516 pontos). Foram necessários quase 10 anos para a mesma realizar este feito, atingida que foi pela crise econômico-financeira de 2007/08; pela recessão econômica brasileira; e principalmente pelo estouro da bolha especulativa reinante na Bolsa entre 2006 e 2007.

Neste último caso, os ganhos bursáteis foram muito além da realidade econômica nacional, levando à formação de uma bolha especulativa que estoura em maio de 2008. Afinal, os ganhos anuais bursáteis não eram compatíveis com a geração de riqueza bruta que as empresas que compunham o Ibovespa geravam na oportunidade (em 2007, enquanto o PIB brasileiro cresceu 6,1%, o índice ganhou 43,6%, tendo chegado a ganhos de 91% no acumulado de 2006 e 2007).

Em termos reais, todavia, para a pontuação do Ibovespa se equiparar ao melhor momento de maio de 2008 a mesma deveria atingir, hoje, 126.947. Isso daria conta da inflação (IPCA) de 72,68% ocorrida entre maio/08 e agosto/17. Ou seja, quem permaneceu comprado desde maio/08 está longe de recuperar o que perdeu até o momento. Sob este ângulo há espaço para novas altas! Mas atenção: as novas altas bursáteis (entre o início de 2016 e o dia 11/09/17 o Ibovespa avançou 76,4%) estão indicando a presença de uma nova bolha. Isto porque, diferentemente de 2008, hoje a economia brasileira está apenas saindo de uma brutal recessão, com alto desemprego e uma demanda nacional endividada e inadimplente em níveis historicamente altos, sem falar no tamanho da crise política que grassa no país.

Portanto, há uma euforia exagerada no setor financeiro nacional. Neste sentido, a prática econômica mundial nos ensina que as crises se originam em manias, estas caracterizadas por um padrão frenético de compras de ativos (imóveis e ações) que produz aumentos de preços e do volume de negócios. Isto deixa as pessoas ansiosas para comprar antes que os preços subam mais. Manias geram bolhas e vice-versa.

Em algum momento, por um acontecimento qualquer, os preços param de subir e a bolha estoura. Isto gera pânico (efeito manada) fato que leva a quedas acentuadas dos preços de imóveis e quebra do mercado de ações. Neste momento, por exemplo, o mercado bursátil nacional está apostando tudo em uma sólida recuperação econômica do Brasil, quando na prática os elementos econômicos necessários para isto estão longe de estarem reunidos no país. Enfim, há o desejo de que as coisas aconteçam, porém, sem os fundamentos adequados para isso. Um claro movimento irracional gerador de bolhas. No atual caso bursátil brasileiro, o estouro da bolha virá quando o mercado perceber que entre o desejo e a realidade há uma enorme distância. 
 

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