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Agrotóxico pode ter causado a morte de 12 milhões de abelhas no noroeste gaúcho

Milhares de insetos apareceram mortos ao redor das caixas de produção de mel em propriedade


Pelo menos 200 colmeias de apicultores de São José das Missões, município do Noroeste do Rio Grande do Sul, foram dizimadas e a causa está sendo associada ao uso de agrotóxico em culturas de grãos de propriedade vizinha às áreas afetadas. O uso do inseticida a base de Fipronil teria causado a morte de 12 milhões de abelhas, população estimada para o número de colmeias afetadas, comprometendo a safra de mel da cidade.

O levantamento é feito pelo engenheiro agrônomo da Associação Rio-grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS/Ascar), Mairo Piovesan, responsável por prestar auxílio técnico aos apicultores da região. Segundo ele, no último dia 31 de dezembro os produtores fizeram contato para mostrar o estrago em suas caixas, que estavam tomadas por abelhas mortas.

Em um vídeo, uma agricultora grava os insetos espalhados sem vida pelo solo. Ao narrar a cena, ela esboça a desolação. "Olha a quantidade de abelha morta, a quantidade de abelha morrendo, tudo caído no chão, tudo esparramado. Elas não conseguem chegar até a caixa (onde produzem mel)", descreve a apicultora.

O Fipronil é um inseticida com alta toxicidade, autorizado pela legislação. O produto pode ter sido colocado no mesmo tanque de pulverização do herbicida glifosato e aplicado na plantação de soja para conter o ataque de tamanduás da soja. As abelhas atingidas pelo veneno voltam até suas colmeias, contaminando-as. A mistura das substâncias no mesmo tanque, feita geralmente para economizar na aplicação, é proibida pela legislação, segundo o engenheiro.

O comando ambiental da Brigada Militar (BM) de Frederico Westphalen, responsável pela cobertura de 24 municípios da região, esteve na propriedade de quatro apicultores, que registraram boletim de ocorrência. O agricultor que utilizou o produto teria alegado não ter sido orientado sobre os danos da utilização do Fipronil. "Constatamos 82 caixas atingidas", explicou a comandante do órgão, soldado Juliana Celita Lahr. Segundo ela, as abelhas estavam nas flores da plantação de nabo, que foram atingidas pelo inseticida.

As perdas abrangem a produção de mel já feita, o que ainda ia ser feito – equivalente à metade da safra -, e os novos enxames que poderiam entrar nas caixas. Piovesan estima que a perda atinja 25 quilos dos 40 quilos por caixa ao ano. O total chega a cinco mil toneladas de mel, considerando as 200 colmeias perdidas. A quantidade geraria uma receita de R$ 100 mil na comercialização.

A retomada da produção pode demorar um longo período. “Com manejo de limpeza das colmeias em um período curto, os enxames poderão começar a se alojar novamente. Porém, para se ter produção, somente na próxima safra, que se inicia em setembro”, explica o agrônomo da Emater.

De acordo com o Informativo Conjuntural divulgado pela Emater/RS-Ascar nessa quinta-feira (3), o uso de Fipronil para o controle do ataque do tamanduá da soja preocupa os apicultores das regiões do Noroeste Colonial, Celeiro e Alto Jacuí justamente pelos danos a outras atividades, como foi com a produção de mel. 

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