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Argentina: 71% dos agricultores do país são familiares

Pesquisa mostrou que a produtividade por área dos agricultores familiares é 53% maior em relação aos grandes proprietários


A agricultura familiar está presente, de forma essencial, em todos os países da América do Sul, sendo a maior provedora dos alimentos que chegam à mesa dos mais de 422,5 milhões de pessoas que vivem no continente. Neste segundo semestre de 2017, a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) que representa o Brasil, presidindo, de forma Pro Tempore, a Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul (Reaf), mostra a importância desse setor para o Brasil e também para os países hermanos que compõem a organização. Dessa forma, será possível conhecer um pouco mais sobre o trabalho dos agricultores nas pequenas propriedades da Bolívia, Chile, Equador, Paraguai, Uruguai e também da Argentina, país tema da segunda matéria desta série.

Dados

Segundo o último Censo Nacional Agropecuário da Argentina, realizado em 2002, o país conta com um quantitativo de 218.868 propriedades de agricultores familiares, cobrindo uma área de 23,5 milhões de hectares. Os números representam 2/3 do total de estabelecimentos ligados à agropecuária e 13,5% da área coberta por eles. Mais do que isso, 71% dos produtores da Argentina pertencem à agricultura familiar, embora o valor bruto estimado da produção seja correspondente a apenas 19,2% do valor gerado por todo o setor agrícola. 

Vale ressaltar, que a pesquisa também mostrou que a produtividade por área dos agricultores familiares é 53% maior em relação aos grandes proprietários. No caso da geração de empregos, as pequenas propriedades concentram 87,3% do trabalho de familiares do produtor e aportam 53% dos empregos totais do setor agropecuário em âmbito nacional (sendo 54% desses trabalhos permanentes e 29% transitórios diretos). 

De acordo com a pesquisa “La Importancia de La Agricultura Familiar en la República Argentina”, da coordenadora técnica do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) da Argentina, Edith Obschatko, os principais cultivos desenvolvidos pela agricultura familiar são o tabaco, a erva-mate e a cana-de-açúcar, todos com mais de 85% da produção advinda do setor. Além destes, a participação dos agricultores familiares também é grande nas culturas de milho e de hortaliças, como alface, cebola, tomate, acelga, e em frutas, como laranja e limão. Algo que varia de 70% a 78%.

Quando se fala na agropecuária, os agricultores familiares dispõem de 19% das criações de bovinos nacionais e diversas porcentagens de outras espécies, como por exemplo, a de caprinos, que chega a 77%. 

Assim como no Brasil, os agricultores argentinos são identificados como familiares por suas propriedades de tamanho reduzido, em que a unidade doméstica e unidade produtiva estão fisicamente integradas, e pelo tipo da mão de obra que agrega os membros da família em busca da aquisição do próprio sustento. A definição deu base ao Governo na década de 90 para a seleção dos beneficiários dos programas de desenvolvimento rural, que tinham como objetivo reduzir a pobreza e promover a inserção dos pequenos produtores na economia. 

Agricultores

A presidente da Associação de Mulheres Rurais Argentinas Federal (AMRAF), Monica Polidoro, destaca que a agricultura familiar na Argentina ganha mais sentido ainda quando se pensa na riqueza de produções que ela gera em todo o território, e em quem são as pessoas que desenvolvem esse trabalho. A AMRAF possui cerca de 200 associados em todo o país e sua sede fica localizada na cidade de Santa Fé. 

“O território é muito rico em distintas produções. Em Mendoza, temos vinhos, frutas, azeites, algo que chamamos de economia regional; em Corrente, existem frutas, hortaliças, ervas, como a erva-mate que consumimos muito; em Chaco, as produtoras de algodão, que também criam animais como ovelhas e bois; e no Sul, uma produção forte de soja. Tudo em pequena escala, onde particularmente, nós, mulheres rurais, somos de alguma forma muito essenciais. Somos nós que colocamos a mão de obra na matéria-prima”, ressalta a presidente. 

Para Monica, as políticas para os agricultores no país ainda precisam melhorar muito, e assim, a AMRAF tem buscado junto a outras organizações, diálogos com o Governo. Uma das principais frentes é a luta por políticas que apoiem a valorização do que é produzido. “Queremos impulsionar o que chamamos de valor agregado à matéria-prima das nossas produções em pequena escala”, explica. 

Monica conheceu a agricultura por meio da família de descendentes de imigrantes italianos. Em sua casa, o marido, os filhos e outros familiares se dedicam, junto com ela, à produção de grãos como soja, trigo, além da erva-mate. Algo que é construído em paralelo com outras atividades, mas que os fazem felizes. “A agricultura familiar é uma forma de vida. Nós gostamos dela”, expressa a presidente. 

Território

A Argentina é dividida em onze regiões agroeconômicas. Onde ao Norte estão: Puna, Valles del NOA, Monte Árido, Agricultura Subtropical del NOA, Chaco Seco, Chaco Húmedo e Mesopotâmia. Já em sua região Central estão: Oasis Cuyanos e Pampeana. E ao Sul: os Valles Patagônicos e a Patagônia. Segundo Obschatko, os percentuais da agricultura familiar em cada uma dessas regiões considerando o número de propriedades agrícolas é igual a: 

1. Puna: 87,3%
2. Valles del NOA: 83,2%
3. Agricultura Subtropical del NOA: 73,2%
4. Chaco Seco: 83,6%
5. Monte Árido: 72,5%
6. Chaco Húmedo: 68,7%
7. Mesopotâmia: 79,7%
8. Patagônia: 52,5%
9. Pampeana: 56,6%
10. Oasis Cuyano: 46,6%
11. Valles Patagônicos: 47,5%

As regiões que mais possuem valor de produção de pequenos produtores são: Pampeana, Mesopotâmia, Chaco Húmedo, Monte Árido y Oasis Cuyanos, que aportam 88% do valor total das produções da agricultura familiar. 

Ações

O secretário de Agricultura Familiar, Coordenação e Desenvolvimento Territorial, do Ministério de Agroindustria, Santiago Hardie, explica que neste momento o governo está focado em construir um registro da agricultura familiar preciso que possa dar base a novas ações. No próximo ano, será realizado um novo Censo Agropecuário. “Queremos saber onde estão nossos produtores, como e o que produzem, para que assim possamos trabalhar todo tipo de política que permita a incorporação de novas tecnologias, o acesso à financiamentos e à assistência técnica. Também queremos fortalecer o associativismo para que eles produzam mais e melhor, e também consigam comercializar. É o nosso foco”, ressaltou Hardie.

Reaf

Antes de o Brasil assumir a presidência Pro Tempore da Reaf, a Argentina estava com a posse do cargo. Segundo o secretário técnico da Reaf, Lautaro Viscay, nessa gestão foram priorizados os trabalhos para promover o acesso à Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) de modo a elevá-la junto a outros países. “Cada presidência tem o desafio de impulsionar uma agenda e a Argentina trabalhou muito forte a questão do acesso a novos mercados. Então tudo relacionado a selos e comércios da agricultura familiar tornou-se destaque. Além disso, também fizeram muitas ações de combate à violência de gênero e à violência contra a mulher rural”, explicou Viscay.

Nesta nova gestão iniciada em julho pelo Brasil, o secretário da Sead, José Ricardo Roseno, reiterou que umas das prioridades continuará sendo a Ater, mas afirmou que as demais também já foram pontuadas. “As ações para promover a regularização fundiária e fomentar a comercialização, políticas para a juventude e para as mulheres rurais também estão dentro desses eixos principais. Esperamos que o Brasil contribua para a evolução dessas políticas no âmbito do Mercosul”, disse Roseno.

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