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A lição das crises (Final)


Argemiro Luís Brum

Terminamos a coluna passada elencando pontos que não são mais possíveis de serem mantidos em nosso país se queremos gerar crescimento e desenvolvimento socioeconômico. Além dos já citados, outros cinco pontos, no mínimo ainda merecem atenção: 1) enquanto a renda domiciliar per capita brasileira, em 2018, era de R$ 1.373,00, em 2017 tínhamos 54,8 milhões de pessoas ganhando menos de R$ 406,00 mensais (abaixo da linha de pobreza), enquanto tem procurador da República se queixando por receber R$ 24.000,00 mensais (ZH, 11/09/19, p. 2); 2) em termos específicos da previdência, segundo o IBGE (com dados de 2017 e 2018), a renda média das famílias mais ricas, com aposentadorias e pensões, supera em 20 vezes o valor recebido pelas famílias mais pobres do país (ocorre que os mais ricos representam 2,7% dos aposentados, enquanto os mais pobres somam 23,9%, sendo que as famílias com renda superior a 25 salários mínimos recebem, em média, R$ 4.276,02 com aposentadorias e pensões, enquanto as com renda inferior a dois salários mínimos recebem R$ 207,17); 3) o IBGE ainda mostra que 19,9% de toda a renda nacional fica com apenas 2,7% das famílias (1,8 milhão de unidades familiares), enquanto 23,9% das famílias (16,4 milhões de unidades) ficam com apenas 5,47% da renda nacional; 4) hoje, no Brasil, temos cerca de 55 milhões de pessoas (26,2% do total) abaixo da linha de pobreza e mais de 11 milhões que nem sequer sabem ler e escrever (sem falar nos analfabetos funcionais – aqueles que leem, porém, não entendem o que leem); 5) em 2018, a renda média do 1% mais rico da população brasileira atingia o equivalente a 33,8 vezes o ganho obtido pelos 50% mais pobres (R$ 27.744,00, contra R$ 820,00).

Neste sentido, os 10% mais ricos detinham 43,1% da massa de rendimentos do país, enquanto os 10% mais pobres ficavam com apenas 0,8%, e por aí vamos. Ora, reformas estruturais necessariamente precisam também encaminhar soluções a este descalabro. Esta é a essência das crises nos diferentes países do mundo, e particularmente aqui na América do Sul. Sem atacar tal problema, que é histórico, nunca haverá desenvolvimento. Além disso, os cidadãos passam a acreditar, perigosamente, de que votar e ter democracia não serve para nada, pois nada ou pouco muda não importando a linha política que se coloca no poder.

Entretanto, a questão é outra: é preciso, via democracia, municiar os cidadãos com a capacidade, pela educação e formação de qualidade, de eliminarem a diferença entre os da primeira classe (a minoria de privilegiados, como os números nacionais o mostram) e os da segunda classe (o restante dos brasileiros). Algumas sociedades no mundo, as quais chamamos de desenvolvidas, no transcorrer da história o conseguiram. E a sociedade brasileira, daqui em diante, que caminho buscará trilhar?

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