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Produção agropecuária x conservação ambiental


Alexander Silva de Resende

O agronegócio brasileiro é pujante. O contraste entre a safra brasileira de grãos em 2007 e 2021, com base no levantamento sistemático da produção Agrícola (LSPA-IBGE), mostra o avanço nesses 14 anos. A área colhida de cereais em 2007 foi de 45 milhões de hectares. Em 2021, quase 68 milhões de hectares. Um avanço de 50%.

Além do aumento de área cultivada, houve uma mudança de perfil. O milho de primeira safra, perde força, reduzindo a área plantada em 45% e o milho safrinha amplia sua área em mais de 250%, chegando a quase 15 milhões de hectares. E a soja vira de vez a vedete agrícola do país, com seu misto de proteína e energia, atingindo praticamente 38 milhões de hectares, quase o dobro da área de 2007. A cana de açúcar também se destaca no período saltando de 6,7 para 8,9 milhões de hectares.

No que tange a geografia da produção o grande salto se deu na região Centro-Oeste que colheu 14 milhões de hectares de cereais, leguminosas e oleaginosas, em 2007 e cerca de 29 milhões de hectares, em 2021. Mais que o dobro! Destaca-se também a cana de açúcar. A região Centro Oeste saltou de 650 mil hectares colhidos em 2007 para quase 1,8 milhão em 2021.

Quanto a balança comercial do Agronegócio brasileiro, segundo o Ministério da Agricultura, saltou de 49 bilhões de dólares em 2007, para  87 bilhões de dólares em 2020. Maior preço das comodities agrícolas, dólar em alta e maior produção explicam esses números fantásticos.

Boa parte da agricultura brasileira não faz uso de água para irrigação artificial. Mas 100% da população precisa de água, em quantidade e qualidade. Fora isso, 100% da agricultura precisa de agentes polinizadores para que as flores se transformem em grãos, e assim se transforme na safra espetacular de 265 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas previstas para 2021. O dobro da safra obtida em 2007 e com ganho de produtividade de 25% para o milho de primeira safra e de 50% para o milho safrinha! E a soja? Essa também teve ganho de produtividade de 21%!

Esses números fantásticos, dependem da mão do agricultor, mas também do que chamamos das “mãos de Deus”, para ter uma boa distribuição de água (seja da chuva ou da irrigação) e de agentes polinizadores eficazes e que possam transformar a boa floração em grãos. Mas mesmo estando nas "mãos de Deus" o agricultor tem grande responsabilidade também nesses dois itens, pois fazendo a coisa certa pode ajudar, em muito nessa árdua tarefa divina. O agricultor que não mantém parte de sua área preservada com vegetação nativa em margens de rios, nascentes e  áreas de recargas, terá menor quantidade de água e menos agentes polinizadores. Se não fizer uso de práticas conservacionistas que mantenham o solo coberto com vegetação, e assim reduzir processos erosivos, perderá em qualidade de água. Ou seja, o agricultor pode e deve ajudar naquilo que lhe cabe! Só acredita que produção e conservação ambiental estão em lados opostos, aqueles que não entendem nem de agricultura e nem de meio ambiente.  

Produção de água e polinização, são dois fatores difíceis de monetizar. Para muitos a agricultura feita no planalto do Centro Oeste, só afeta o próprio local. Mas é um equívoco pensar assim. As águas correm para o mar! E tudo que é feito no planalto, vai afetar a disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade nas planícies da região Sudeste, por exemplo, pois é pra lá que boa parte da água que percorre os rios do Centro Oeste migram. Além disso o Centro Oeste é uma importante área de recarga para os rios do Sudeste... Estamos todos interligados, na produção e na conservação do ambiente...

As boas margens obtidas atualmente com o cenário favorável para o agronegócio, deve ser utilizada para buscar alternativas de manejo que conservem melhor, solo, água, e vegetação, para que o nosso agro continue forte.  Entender que a produção só vai bem se a preservação estiver associada é o que fará o nosso agronegócio diferente e forte. Temos exemplos tristes, no Brasil, como  ciclo do café e a pecuária no Vale do Paraíba, que 150 anos depois do início do ciclo econômico do café, acarretou milhares de voçorocas, solos sem fertilidade, baixa produção de água em quantidade e qualidade.

Mas quem conhece o agro brasileiro a fundo, sabe que mesmo com somente 50 anos de agricultura, voçorocas são uma realidade de muitas propriedades no Centro Oeste brasileiro. Não podemos deixar a história se repetir, e, nesses casos, prevenir será muito melhor e mais barato do que remediar.

Aprender com os erros do passado, e modificar o presente, pensando no futuro é de fato o verdadeiro sucesso do agronegócio brasileiro.  E só se faz isso em tempos de bonança. A pressão internacional para termos um agrosustentável deve ser vista como oportunidade e não como amarras ao processo produtivo. 

Um forte abraço a todos!  

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