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O Chato e a Cleide


Rutinaldo Miranda Batista Júnior

 

     Vou te confessar um segredo. Eu tenho um amigo chato. Na verdade, nem é meu amigo. Mas ele acha que temos uma amizade. Sim, uma “amizade”. Dessas amizades vagabundas que surgem de um simples “oi” balbuciado por pura e simples educação. Algo que acontece, quando se depara frente a frente com alguém, numa calçada estreita. E aí, numa outra ocasião infeliz, o sujeito para de repente e do nada começa a falar de sua vida. Naturalmente você fica em estado de choque, sem saber o que dizer. Porque nem conhece o nome desse indivíduo. E ele muito menos sabe o seu. Então, ele continua a falar. “Sabe a Cleide?” Não, é claro que você não sabe. Sinceramente, seria muito bom a tal Cleide ir pro inferno. Mas isso pouco importa. O que ele quer mesmo é falar da Cleide, nem que seja para um poste. E, nesse caso, você é o poste.

     Acontece que a Cleide deixou o meu amigo que nem sei o nome. Assim, de repente. Pegou todas as roupas e sumiu. Evaporou. Nunca mais deu notícias. E eu, do fundo do meu coração, senti uma vontade imensa de parabenizar a Cleide. Essa, sim, é uma mulher de coragem. Quinze minutos com esse chato e eu já quero cortar os meus pulsos. Imagina aturar uma vida toda! A Cleide é mesmo minha heroína. Os chatos definitivamente não merecem perdão. Melhor que vaguem pelo mundo e pelas calçadas da vida assim, pobres egoístas solitários. Arrastando uma tonelada de baboseiras. E eu que não aguento mais ouvir tanta lamúria, invento uma desculpa qualquer. Lembro que estou atrasado para pegar o meu filho na escola. Apesar de ainda não ser pai. Mas quem sabe, um dia, serei. Não é uma má ideia. Basta encontrar alguém legal, para compartilhar uma vida inteira. Quem sabe uma Cleide, logo ali, na próxima calçada.        

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