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O cultivo da soja raras vezes frustra o produtor


Amélio Dall’Agnol

As exportações do complexo soja lideram a pauta das exportações do Brasil e nada indica que essa liderança será perdida no curto prazo, visto que a demanda de soja continua aquecida nos mercados local e mundial e os preços de mercado são satisfatórios, mesmo em anos de supersafras.  A área cultivada com a oleaginosa nas principais regiões produtoras do Brasil continua aumentando e o mesmo acontece nos demais países produtores.

Proporcionalmente à área cultivada com grãos em nível mundial, a área de soja tem sido a que mais cresceu no correr das últimas décadas e, mesmo assim, não houve a formação de estoques gigantes, promotores de queda acentuada nos preços de mercado. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA - United States Department of Agriculture) estima que somente nos Estados Unidos (EUA) serão acrescentados cerca de 2,0 Mha à área cultivada com a oleaginosa na próxima safra, totalizando o cultivo de 35,6 Mha em 2017, contra 33,8 Mha em 2016.

No Brasil, a área cultivada com soja na safra de 2016 foi de 33,9 Mha, levemente superior à dos EUA, o que, infelizmente, não se traduziu numa produção maior, visto que, mesmo com área menor, os norte-americanos colheram cerca de três milhões de toneladas (Mt) a mais, graças à produtividade recorde de quase 3.500 kg/ha, um pouco superior à brasileira, que também foi recorde (3.362 kg/ha). Recorde, também, foi a produção dos EUA (117 Mt) e do Brasil (114 Mt). 

Era expectativa dos brasileiros de que, já na safra 2017/18, o Brasil superaria os EUA na produção de soja, devido à disponibilidade de área apta para expansão, em contraste com os EUA que têm pouca disponibilidade de terras agrícolas, a menos que reduzam o cultivo de outras lavouras, em favor da soja. Provavelmente isso ocorrerá. O USDA informou no início deste ano que o milho cederia para a soja 1,62 Mha (38,04 em 2016 vs. 36,42 em 2017) e o restante, para completar o acréscimo de 2,0 Mha prometido, deveria ser subtraído de outras culturas de verão - algodão, sorgo e girassol. 

O produtor brasileiro está angustiado com a pressão que a sequência de supersafras nos EUA (89, 107 e 117 Mt, respectivamente, para 2015, 2016 e 2017) e no Brasil (85, 97 e 114 Mt, respectivamente, para o mesmo período) pode gerar nas cotações mundiais do produto. Contudo, não é possível afirmar que as cotações de 2017/18 irão recuar mais do que recuaram no ciclo 2016/17, visto que a demanda pelo produto, também, está aumentando, consequência do crescimento da economia mundial e do consequente aumento da renda per capita da população, a qual promove um consumo maior de proteína animal (carnes, queijos, ovos), que têm na soja sua principal matéria prima proteica. 

O espetacular crescimento da economia mundial no correr das últimas décadas (US$ 12 trilhões em 1980 vs. US$ 73 trilhões em 2016) promoveu a renda per capita das pessoas, particularmente a dos cidadãos que habitam os países em desenvolvimento - ainda carentes de proteínas animais. Com mais dinheiro no bolso, esses cidadãos passaram a consumir menos carboidratos (grãos) e mais proteína animal, feita com o farelo proteico da soja, principalmente.  

Embora o óleo não seja a razão principal para cultivar-se a soja, sua produção também está sendo muito requisitada para consumo doméstico e para biodiesel, indicando que a produção da oleaginosa é duplamente estimulada: como alimento humano e animal e como biocombustível.

O Brasil se beneficia do aumento do consumo de soja e de seus derivados pelo mundo, pois é o país com a maior área de terras aptas e disponíveis para maior produção da oleaginosa. Além de possuir área abundante para aumentar sua produção, o Brasil, também, domina a tecnologia para produzir a soja em climas tropicais.

A soja continuará sendo a cultura preferida do agricultor brasileiro: é de fácil comercialização e os preços de mercado raramente são desestimulantes.
 

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