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O sucesso do passado não garante o êxito futuro


Amélio Dall’Agnol

O Brasil ser exemplo de eficiência de produtividade em terras tropicais, conforme amplamente reconhecido pela comunidade internacional, não garante ao País a continuidade desse reconhecimento. O mundo está vivendo um processo de mudanças constantes, fazendo-o diferente a cada dia. Nações que não evoluírem tecnologicamente com a mesma velocidade das mais ligeiras serão atropeladas e ficarão esquecidas pelo caminho.

Veja-se com que presteza mudou a realidade econômica e social da China a partir dos anos 80, quando decidiu abandonar o modelo de economia centralizada e retrógada de Mao Tsetung, para buscar o desenvolvimento, deixando o Brasil cada vez mais isolado na fila dos que buscam protagonismo no mundo desenvolvido. Em 1980, o PIB chinês era inferior ao do Brasil e hoje é quatro vezes maior. Agora, tudo indica que a Índia, outro país integrante do grupo conhecido pelo acrônimo de BRICs, do qual o Brasil faz parte, parece percorrer caminho semelhante, deixando o Brasil a ver navios. Uma vez mais, vamos ficar assistindo?

O passado é uma referência a ser lembrada apenas como marco de comparação com a realidade presente. No âmbito agrícola, como não lembrar de passado recente (anos 50 e 60), quando a figura esquelética, descalça e maltrapilha do Jeca Tatu pretendia caracterizar o homem do campo brasileiro!

Nessa época, apesar do grande contingente de brasileiros vivendo no campo, a produção de alimentos não era suficiente para autoabastecer o país. Nesse período, um agricultor produzia o suficiente para alimentar apenas 20 pessoas na cidade. A partir dos anos 70, no entanto, ocorreu uma verdadeira revolução na produção agrícola brasileira, fazendo com que a produção atual de um agricultor seja capaz de alimentar dez vezes mais pessoas, além de gerar vultosos excedentes exportáveis, os quais respondem pela maior parcela dos superávits da balança comercial do País.

O que aconteceu a partir dos anos 70 foi uma significativa mudança nos processos produtivos agrícolas, patrocinados pelo uso de mais e melhores tecnologias, que aumentaram significativamente a produtividade. Apenas para ilustrar, de 1950 a 1975, o crescimento da produtividade dos principais grãos brasileiros foi de meros 4,4 kg/ha ao ano, segundo estimativas do IBGE. No entanto, a produtividade dos mesmos produtos no período 1975 a 2013 aumentou quase 14 vezes: 60,8 kg/ha ao ano.

Se bem as transformações mais significativas no campo começaram na década de 1970, tendo a soja como motor das mudanças, foi a partir dos anos 1990, quando aconteceram os avanços mais expressivos na produtividade dos principais cultivos do Brasil. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de 1991 a 2016, a produção do arroz aumentou 54,1%, numa área 47% menor, consequência de avanços na produtividade, que passou de 1.905 kg/ha em 1991, para 6.212 kg/ha em 2017. Aumento de 226%.

Coisa parecida aconteceu com o feijão, que teve sua área reduzida em 62% e a produção incrementada em 47,8%. O trigo manteve a produção, mas numa área 58% menor. A área do milho cresceu 30% e a produção aumentou 307%, ressaltando-se que a área do milho 1ª safra caiu 51% (10,2 Mha em 1991 e 5,0 Mha em 2017) e a do milho 2ª safra cresceu 612% (1,7 Mha em 1991 para 12,1 Mha em 2017). A soja cresceu 192% na área e 467% na produção, promovendo a cultura, de uma lavoura marginal no início dos anos 70, à condição de principal lavoura do País ao final dessa década. Um verdadeiro fenômeno.

O sucesso do agro brasileiro desencadeado a partir da década de 1970 garantiu a passagem do Brasil da condição de importador de alimentos para 2º maior exportador. Mas a carruagem anda, não podemos ficar parados curtindo este sucesso. Ele não é garantia de êxito futuro.

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