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PIB: da boa surpresa ao realismo


Argemiro Luís Brum

O surpreendente PIB do primeiro trimestre de 2021 coloca a economia brasileira, provisoriamente, no ponto pré-pandêmico, indicando uma recuperação mais rápida do que se esperava. Agora, os mais otimistas chegam a projetar 5% de PIB no final do ano. Dentre os indicativos favoráveis, que vieram no trimestre, está o crescimento dos investimentos (FBCF), o qual ficou em 4,6%, acumulando 17% em comparação com o primeiro trimestre de 2020. Investimento, em princípio, indica melhoria da capacidade de crescimento no futuro.

Dito isso, a realidade obriga mais cautela com as projeções. Nesta lógica, a possibilidade de um crescimento total no ano ao redor de 3% é mais realista. Isso porque ainda temos presente a pandemia em nosso meio, com um processo de vacinação muito lento. Todavia, mesmo que a sociedade já esteja absorvendo como natural os riscos sanitários, potencializando novos “fechamentos econômicos”, como já temos em partes do Brasil, parece difícil voltarmos à situação extrema de 2020. Mas ainda estamos longe da normalidade.

Tanto é verdade que a inadimplência dos brasileiros voltou a subir, atingindo a 39,5% da população adulta, o desemprego continua crescendo segundo a Pnad-Contínua, e estamos com uma base de comparação muito baixa. Pelo sim ou pelo não, se terminarmos o ano com 3% de PIB, ainda não recuperaremos as perdas de 2020. Se conseguirmos atingir a 5%, eliminaremos as perdas do ano passado, porém, no máximo estaremos nos reaproximando do ritmo baixíssimo dos três anos anteriores (1,2% ao ano na média).

Por outro lado, é importante observar que nos últimos três trimestres estamos crescendo em ritmo cada vez menor, tendência que deverá continuar. No terceiro trimestre de 2020, quando a economia começou a reagir, crescemos 7,8% sobre o trimestre anterior, no quarto trimestre 3,2% e agora 1,2%. Ou seja, na comparação de 12 meses atrás, a recuperação surpreende mais pelo inesperado do que pela performance. Isso significa que a economia perde tração. Afinal, voltar ao nível anterior de atividade é uma coisa, crescer é outra. Por enquanto, na melhor das hipóteses, estamos voltando ao nível anterior, largamente insuficiente. Mas não deixa de ser um passo, diante dos estragos pandêmicos e de gestão pública vividos neste país.

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