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Parceria com Fazenda Malunga será fortalecida

"Amadurecemos aqui a ideia de fazer um convênio mais amplo, trazendo outras unidades, em sintonia com vários portfólios e arranjos da nossa programação"


Manejo de matéria orgânica, microrganismos para biofertilizantes, cultivo protegido, cercas-viva para gado e novos materiais genéticos para hortaliças e frutas: essas foram as principais demandas coletadas pela Diretoria-Executiva da Embrapa na visita realizada nesta segunda-feira (24) à Fazenda Malunga, principal propriedade familiar de produção orgânica certificada do Distrito Federal. Acompanhado de uma equipe de pesquisadores e de chefes da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Celso Moretti, novo diretor de P&D, conheceu as inovações implementadas na propriedade nos últimos anos e também gargalos apontados pelo dono da fazenda, Joe Valle, e pelos funcionários que participaram do encontro.

"Hoje é meu quarto dia como diretor-executivo da Embrapa e esta é a segunda fazenda que visito nesse começo de mandato - na sexta estivemos na Fazenda Pamplona, perto de Cristalina. É muito importante a Embrapa manter-se próxima do produtor e do setor produtivo e o exemplo tem de vir de cima. Pesquisadores e analistas tem que se mirar no movimento sinalizado pela alta Direção", afirmou Moretti, complementando que encontros como esse, para prospecção de demandas, precisam ser priorizados, dentro do possível, na agenda do diretor de P&D. Há dez anos Celso esteve presente na Malunga, mas na época como chefe-geral da Embrapa Hortaliças.

Valle, que também é deputado distrital e atualmente presidente a Câmara Legislativa do DF, pediu que a equipe (formada por 15 representantes da Embrapa) olhasse o que estava sendo feito na propriedade sem preconceito. "Aqui não fala o político, mas o produtor. Falta conhecimento para os produtores familiares do Núcleo Rural Lamarão, muitos deles envolvidos com produção orgânica. Por isso, experimentamos muita coisa aqui, chegamos a fazer registro de tudo o que testamos ou implementamos, mas a carência de conhecimento científico é grande e vocês vão notar isso", avisou ele no início da visita.

No Lamarão existem cerca de 400 habitantes, divididos em mais de 130 famílias - a fazenda Malunga emprega cerca de 180 desses moradores, todos com carteira assinada, segundo Joe. Além da produção orgânica de frutas e hortaliças (25 culturas), a fazenda tem criação de bovinos, suínos, galinhas, ervas medicinais, produção e colheita de grãos, beneficiamento de leite, pães, biscoitos, bolos e começa a investir também em turismo ecológico.

Os pesquisadores conheceram cultivos de hortaliças feitos ao ar livre (sujeitos a altas e baixas temperaturas e a ventos que ultrapassam 90 km por hora) e protegidos (em estufas semiabertas ou fechadas, algumas inovadoras, com altura de 7,5 metros). Também foram apresentados a sistemas diferentes de irrigação, estufas de substratos, piquetes para trânsito de gado de leite, sistemas de produção de adubação verde (gramíneas e leguminosas), biofertilizantes, canteiros de flores (novidade em expansão na fazenda), modelos de barragem de vento dos canteiros (com leucena, capim-elefante e espécies florestais, como a "flor do mel") e manejo e consorciação de culturas para criar vazios sanitários.

Cultivo protegido

O cultivo protegido foi iniciado há 14 anos, decorrente principalmente de um problema comum no PAD-DF, onde está localizado o Lamarão. Joe Valle explicou que a fazenda está cercada de plantações de soja, milho e sorgo e após o período de colheita as pragas existentes na região, com destaque para a mosca-branca, invadem a Malunga.  "O jeito foi apelar para as estufas, que hoje ocupam 65 hectares da fazenda", afirmou. Segundo ele, a relação nutrição-clima-ambiente influencia a presença das pragas e qualquer desequilíbrio de um desses fatores gera estresse na planta, que fica mais fragilizada ao ataque de insetos e micro-organismos.

"Após seis anos registrando sistematicamente tudo o que acontece em cada estufa ou canteiro, por meio de planilhas e análises de solo continuadas, descobrimos que a palavra é gestão do conhecimento e que claramente o problema das hortaliças é luz e água", anunciou o empresário. Mas adiantou que o manejo de matéria orgânica ainda é maior gargalo da sua equipe e que há necessidade de respostas da pesquisa agropecuária para orientar melhor o trabalho na produção orgânica. "Não medimos aqui a quantidade de micro-organismos que inserimos numa parcela a ser trabalhada. Tanto a falta quanto o excesso são prejudiciais para a planta e ainda estamos trabalhando um pouco no escuro nessa questão", assumiu.

A Fazenda Malunga mantém acima do limite do Código Florestal o percentual de mata nativa, mas não deixa de sofrer com a devastação e a exploração do Cerrado ocorrida no PAD-DF. "Notamos nos últimos anos a volta de animais silvestres, mas a população de tatus-galinha desapareceu, devido à caça ilegal muito presente na região. E com o fim dos tatus, um inimigo natural floresceu: a população de formigas, principalmente saúvas. "Chegamos a gastar 600 mil reais por ano com bioiscas para controle de formigas. É um custo alto para quem trabalha com uma margem de lucro tão apertada sistema de produção orgânica", desabafou. Ainda sim a propriedade gera um faturamento anual perto de R$ 15 milhões, com  os funcionários tendo participação nos lucros da empresa.

Abelhas e flores

Outra preocupação da Malunga é a população de abelhas, necessária para a polinização dos canteiros ao ar livre e também dentro das estufas protegidas. Nesse ponto, porém, os produtores da região têm recebido apoio e conhecimento de pesquisadores, como a Carmen Silva Soares Pires e Edison Sujii, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Carminha, como é conhecida na fazenda, há 20 anos atua com controle biológico, com foco na integração de práticas de manejo e diversificação animal e vegetal em unidades de produção de hortaliças em transição agroecológica no DF.

As abelhas também são essenciais para a próxima empreitada da Malunga, na opinião de Joe Valle: a produção de flores. "Brasília é um mercado fantástico para flores, como já se mostrou para o cultivo protegido e cultivos especializados, como minihortaliças e minifrutas", setenciou, mas já adiantando que precisa de novos resultados ou da adaptação de conhecimento gerado em outras partes do mundo para a realidade do Cerrado brasileiro.

"Coloco à disposição da Embrapa as estruturas da Malunga, nossas anotações, nossa equipe, nossos testes com biofertilizantes à espera de validação científica, nossas estufas, tudo para viabilizar a pesquisa de vocês nesse espaço. Temos condições de fazer uma bela parceria, envolvendo 240 famílias do núcleo rural, todos organizados em forma de cooperativa", garantiu.

José Manuel Cabral, chefe da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, ficou responsável por sistematizar as demandas levantadas e apresentar um relatório para avaliação final da Diretoria-Executiva. "Foi uma oportunidade para que vários colegas da Embrapa se mobilizem para fazer análises e propor trabalhos conjuntos, ampliando o que já consolidamos nos últimos dez anos", agradeceu.

Celso Moretti prometeu fortalecer a parceria. "Amadurecemos aqui a ideia de fazer um convênio mais amplo, trazendo outras unidades, em sintonia com vários portfólios e arranjos da nossa programação", finalizou.

Veja fotos da visita à Fazenda Malunga na página da Embrapa no Flickr, clicando aqui.

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