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Surto de Influenza Aviária no Chile representa risco para o Brasil?

País sul americano reportou caso em plantel de Perus na semana passada


O Serviço Agrícola e Pecuário (SAG) do Chile reportou a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), na semana passada, um foco de influenza aviária detectado em uma fazenda de recria de perus de corte em que estavam alojadas 67.500 aves.

Os pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves, Luizinho Caron e Marcos Mores, explicam que o vírus da Influenza aviária (IA) possui uma epidemiologia bastante complexa. Estes vírus são classificados de acordo com as glicoproteínas de superfície, Hemaglutinina (HA) e Neuraminidase (NA), sendo que a HA é mais importante em termos de virulência, pois a HA0 é clivada em HA1 e HA2 e serve como receptor para infectar uma nova célula hospedeira.

Hoje são conhecidas 21 HA e 11 NA, sendo que as de maior interesse para a avicultura são as H5 e H7. Isso porque os vírus de influenza que possuem estas hemaglutininas podem sofrer mutação no sítio de clivagem entre a HA1 e a HA2 e se tornarem de alta virulência.

Os vírus da IA também podem ser classificados em alta ou baixa patogenicidade, nível que é dado pela capacidade do vírus de matar a maioria das aves suscetíveis inoculadas em idade de seis semanas ou pela sequência de aminoácidos do sítio de clivagem entre a HA1 e a HA2.

Segundo o relatório publicado pela OIE, o vírus que afetou a granja chilena possui a hemaglutinina H7, mas de baixa patogenicidade, ou LPAIV (Low Pathogenic Avian Influenza Virus). Portanto, diferente dos vírus de alta virulência. “Algo importante a se destacar é que o Chile é um país da América do Sul que tem sofrido com alguma periodicidade surtos de Influenza aviária de alta ou baixa patogenicidade em seus plantéis de aves. Em 2016, reportou um surto do vírus H7N6 em plantel de perus também no vale central do país. Em maio de 2002, um surto de H7N3 de alta virulência foi notificado em galinhas de reprodução e perus”, contam os pesquisadores.

Segundo eles, o surto não apresenta um risco imediato, mas é um recado importante de que os vírus de influenza estão circulando nas aves silvestres e por isso devemos estar sempre vigilantes com a biosseguridade dos plantéis avícolas. “Apesar de tradicionalmente os surtos na América do Sul não serem tão frequentes como na América do Norte, estes acontecem de forma esporádica e devem ser considerados sempre como uma oportunidade para as autoridades sanitárias e todos os envolvidos com a cadeia avícola repensarem a biosseguridade e em como torna-la mais eficiente, principalmente para a prevenção da IA e doença de Newcastle”, afirmam.

Os pesquisadores também destacaram a rapidez com que o Chile identificou e eliminou o surto de IA. “Isso tem uma importância muito grande no sentido de evitar a disseminação dentro dos seus plantéis e reduzindo dessa forma o risco também para os países vizinhos ou com certa proximidade como é o caso do Brasil”.

Proteção dos planteis

O vírus da Influenza aviária é um agente viral que pode estar presente em aves silvestres, principalmente aves aquáticas . Por isso, é muito importante manter os plantéis de produção longe destas aves. Os especialistas explicam que  Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem um conjunto de normas de biosseguridade que é exigido para o registro de granjas de aves e que têm o objetivo de manter as aves comerciais brasileiras em condições de biosseguridade que mitiguem os riscos para a infecção destes plantéis por influenza aviária e outras doenças de notificação obrigatória. “Dentre estas normas podemos destacar a Instrução Normativa (IN) Nº 56 de 2007 do MAPA e a IN Nº 10 de 2013 da SDA que foi alterada pela IN Nº 08 de 2017, também da SDA, além disso as IN Nº 17 de 2006, IN Nº 13 de 2002 e IN Nº 21 de 2014 todas da SDA, são especificas para controle e prevenção de influenza aviária e doença de Newcastle”, citam.  

Caron e Mores ressaltam que é importante aproveitar estas oportunidades que servem como alerta para revisar as cercas de proteção do perímetro das granjas, as telas anti-pássaros por eventuais buracos que permitam a entrada de aves, outros animais ou roedores. “As composteiras, se estas estão bem protegidas contra o acesso de animais domésticos e selvagens e que a compostagem esteja sendo bem-feita, sem moscas ou outros vetores como o cascudinho. Também é uma oportunidade para fazer a revisão dos procedimentos de biosseguridade, para verificar se estão sendo todos cumpridos a contento, bem como estabelecer as melhorias que se fizerem necessárias”.

É importante lembrar, de acordo com eles, que as normativas de biosseguridade do Mapa para granjas ou as portarias das secretarias de agricultura são o mínimo que necessita ser cumprido, mas é de responsabilidade de cada avicultor ou gerente de granja cuidar do seu patrimônio e sua fonte de renda da melhor forma possível, buscando sanar as vulnerabilidades de biosseguridade diariamente.

Outro ponto importante elucidado pelos pesquisadores é a atenção que deve ser dada a fonte e reservatório de água, bem como o seu tratamento com a cloração e garantindo que a quantidade de cloro, 2 a 3 PPM, seja monitorada para que esteja de acordo com estes parâmetros. “Além disso, observamos que os países vizinhos, vêm tomando medidas legais para impedir a importação de produtos avícolas da área afetada pelo surto. A correta observação de quarentena das pessoas que visitam áreas afetadas pela epidemia, além de lavar toda roupa e calçados lá utilizados, antes de retornar e entrar em contato com aves do plantel nacional”, complementam

Por último, as visitas às granjas de aves sempre devem ser evitadas restringindo-se aquelas necessárias que devem fazê-lo somente mediante autorização das autoridades sanitárias e das empresas e cumprindo-se o vazio sanitário, troca de roupas e calçados e o banho prévio a entrada, com roupas exclusivas da granja.

Plano de contingência

Assim como o Chile, o Brasil possui plano de contingência contra a Influenza Aviária que pode ser encontrado na página do Mapa.

O plano de contingência é um manual básico de práticas para a prevenção, controle e erradicação da Influenza Aviária e doença de Newcastle. O plano de contingência contém informações de orientação para os Serviço Veterinário Oficial bem como a produtores, veterinários e técnicos ligados a avicultura. Além deste documento as secretárias estaduais podem ter seus próprios planos de contingência visando o controle da doença dentro das condições específicas de cada estado.

“Pode-se destacar que, assim como no caso do Chile, a realização de testes de diagnóstico para monitoramento de rotina, além do diagnóstico confirmatório rápido são fundamentais para se fazer a detecção e a contenção dos focos de forma rápida antes que o vírus tenha a oportunidade de se disseminar pelos plantéis de toda uma região ou país”, afirmam Caron e Mores.

Além do plano de contingência, o Mapa também possui o Plano Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) que foi instituído pela Portaria Nº 193 da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, em 1994, e que tem o objetivo de proteger os plantéis brasileiros de aves contra doenças de notificação, em especial a IA e a doença de Newcastle.

 

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