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A deflação também é nociva


Argemiro Luís Brum

A atual equipe econômica acaba de fixar metas menores para a inflação a partir de 2019 e 2020. Parece pouco, mas é uma estratégia que permite sinalizar ao mercado que o governo se compromete a não deixar a inflação oficial sair do controle e, em especial, mostra o interesse em recuperar um dos pontos do tripé de sustentação da estabilidade econômica, construído ainda em 1999 e desastrosamente abandonado entre 2007 e 2014. Hoje a inflação oficial tem por centro da meta 4,5%, podendo oscilar no intervalo entre um máximo de 6% e um mínimo de 3%.

Em 2019 o centro da meta passa a 4,25% e em 2020 a 4%. Neste último caso, o intervalo de oscilação cai para um máximo de 5,5% e um mínimo de 2,5%, já que a tolerância em relação ao centro da meta ficou mantida em 1,5 ponto percentual, tanto para mais quanto para menos.Com isso o Brasil caminha para uma inflação oficial nos padrões internacionais, o qual se situa ao redor de 3% anuais. Dito isto, pode causar estranheza o fato de o país estabelecer um patamar mínimo de inflação quando ela recua.

Afinal, não seria ideal que a mesma fosse zerada e mesmo negativa? Não! Uma inflação perto de zero e/ou negativa (deflação) é tão nociva quanto uma inflação elevada, caso ela venha a durar por muito tempo. Este problema atingiu o Japão, em diferentes oportunidades a partir da década de 1990, e particularmente muitos países europeus depois do estouro da crise de 2007/08. Nestes últimos meses a inflação oficial brasileira, pela inércia da economia, afundada em uma recessão sem precedentes, rompeu o piso da meta estabelecida, recuando para 2,7% ao ano em julho passado (em junho, a inflação mensal chegou mesmo a ser negativa).

A situação ficou “tão confortável” para o governo, que o mesmo se deu ao luxo de aumentar impostos que incidem sobre os combustíveis, um dos elementos de forte pressão inflacionária. Dificilmente chegaremos a um período de deflação anual, e muito menos prolongado. Todavia, vale esclarecer que a nocividade de uma deflação se encontra no fato de que a mesma é provocada, geralmente, por uma demanda retraída diante de um excesso de oferta. A partir daí aumenta o índice de ociosidade da economia, com aumento agudo da concorrência, o que leva a uma queda ainda maior dos preços. Isso leva a uma queda nos investimentos e a uma queda no produto real do país, com aumento do desemprego.

Com o tempo, uma deflação pode provocar uma depressão econômica (um estágio ainda pior do que a recessão). Ou seja, ninguém tem interesse que isto aconteça, especialmente em países como o Brasil de hoje onde parte dos efeitos de uma deflação já se fazem presentes mesmo sem ela existir. O ideal, portanto, é manter uma inflação dentro de padrões aceitáveis. Sua manutenção requer um controle monetário sério, longe de ações desenvolvimentistas demagógicas que tão bem conhecemos.  

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