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Falta e excesso de comida; fome e obesidade


Amélio Dall’Agnol

Estudo do Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI) divulgado em 2010 indicou que eram 1,0 bilhão os famintos há quatro décadas e hoje são 672 milhões (13 milhões no Brasil). A queda da subnutrição foi generalizada, menos na África, onde 20% dos cidadãos ainda passam fome e sem perspectiva de solução a curto prazo. A subnutrição havia diminuído na primeira década do século XX, mas voltou a crescer a partir de 2017, especialmente na região da África subsaariana, por causa de secas e conflitos diversos.

Se bem a desnutrição no planeta diminuiu, em contrapartida, a obesidade aumentou, juntamente com as doenças crônicas que a acompanham. Eram, segundo a FAO, 857 milhões os obesos (ou com sobrepeso) em 1980. Hoje são mais de 2,0 bilhões, com destaque para os cidadãos dos países ricos, onde, tanto são encontrados obesos entre adultos, quanto entre crianças.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), mais da metade da população está com sobrepeso (48,1%) ou está obesa (19,8%). Mais por má alimentação do que por falta dela. Isto não faz sentido num país que ostenta a posição de 3º maior produtor e exportador de alimentos. Produz quatro vezes mais do que consome, dado o relativamente pequeno tamanho da sua população ante os dois primeiros colocados (China e  EUA); que produzem mais, mas têm população várias vezes maior, precisando de tudo o que produzem para atender a demanda da sua enorme população.

Os pobres comem mal porque não têm dinheiro para comprar os alimentos mais saudáveis (e mais caros) e os ricos comem mal porque, podendo escolher os alimentos mais saudáveis, mas fazem a escolha errada, particularmente o uso exagerado de comidas industrializadas, excessivamente energéticas e pouco nutritivas (fast food). Para o pobre, esses alimentos são preferidos, também, porque são mais baratos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso, e mais de 700 milhões, obesos. É uma doença disfarçada de boa saúde, porque o cidadão mal nutrido pode estar gordo, dando a falsa ideia de que está bem alimentado. Mas uma pessoa gorda não necessariamente é uma pessoa bem alimentada.

Na falta de recursos financeiros, é muito comum as famílias de baixa renda trocarem a qualidade dos alimentos pela quantidade, com o objetivo de economizar dinheiro. A consequência é a obesidade, resultado de ingestão excessiva de carboidratos com poucos nutrientes. Por causa disto, no Brasil, segundo informa o Ministério da Saúde, temos mais obesos entre os mais pobres e menos escolarizados (classes C e D), do que entre os mais abastados e bem instruídos.

Estudos da FAO mostram que uma das causas do maior consumo de grãos, açúcares e gorduras deve-se ao menor preço destes alimentos, ante as proteínas animais, frutas e vegetais, tidos como mais saudáveis. Uma das causas do menor preço dos carboidratos resulta da facilidade e, consequentemente, do menor custo de armazenamento destes alimentos, em contrapartida às carnes, vegetais e frutas, que demandam ambientes refrigerados, onde a energia encarece sua conservação. Nem todas as residências dos países pobres ou “em desenvolvimento” contam com geladeira para conservar alimentos à base de proteína animal, frutas e verduras e acabam optando pelo “arroz com feijão” de todos os dias, que dispensa a refrigeração, o que vincula a má alimentação com a pobreza.

A desigualdade social é o maior entrave para conseguir a erradicação da fome no mundo. No Brasil, os 10% mais ricos detêm quase toda a renda nacional e são os que mais desperdiçam o alimento que falta na mesa do pobre.

Alimentar-se não se resume em comer, mas em comer bem.

 

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