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Recessão mundial: mais cedo do que previsto (?)


Argemiro Luís Brum

Quem nos acompanha neste espaço deve lembrar que há cerca de um ano estamos alertando que a economia mundial tende a entrar em crise, semelhante à de 2007/08, em algum momento entre 2020 e 2024. Ora, os acontecimentos internacionais deste mês de agosto permitem destacar que isso pode acontecer já no próximo ano. Dentre os fatores que apontam para isso temos:

1) o litígio comercial entre EUA e China se aprofundou neste mês, com a ameaça estadunidense de taxar em 10% outros US$ 300 bilhões de produtos chineses a partir de 1º de setembro.

A resposta da China, dentre outras coisas, foi levar a guerra comercial para o terreno cambial, desvalorizando sua moeda (yuan) para níveis que não eram vistos há anos. Ora, uma guerra cambial atinge as economias mundiais de forma muito mais profunda.

Segundo economistas do Morgan Stanley, “se os EUA impuserem tarifas de 25% sobre todas as importações chinesas por quatro a seis meses, e a China retaliar, é provável que ocorra uma recessão econômica global dentro de três trimestres”;

2) o risco de recessão na economia dos EUA se mostra muito maior do que há dois meses. Isso porque “a diferença entre os juros de 10 e 3 meses, mostra a maior inversão desde 2007, indicando apostas em desaquecimento prolongado”. Não é por nada que os EUA, seguido de muitos outros países, inclusive o Brasil, reduziram suas taxas básicas de juros neste mês de agosto, após longo período estagnadas. A redução do juro é uma tentativa de animar a economia e evitar a crise.

3) A Alemanha anunciou um PIB próximo de zero no trimestre passado, estando muito próxima da recessão ela também, fato que impacta em toda a economia da União Europeia em particular, já que o país é a locomotiva econômica da região;

4) O resultado das prévias eleitorais na Argentina, no domingo 11/08, derrubou ainda mais os indicadores econômicos do vizinho país, com fortíssima desvalorização do peso e elevação do juro básico local. O país já está na situação de “quebra fiscal”. Nestas condições, associadas ao descontrole político brasileiro em torno das questões ambientais, está comprometido no nascedouro o acordo comercial União Europeia-Mercosul, sem falar no futuro do próprio Mercosul.

5) enfim, se não bastasse a saída do Reino Unido da União Europeia, a Itália ameaça fazer o mesmo. Assim, uma recessão mundial se aproxima celeremente, pegando o Brasil ainda despreparado e às voltas com a pior crise interna dos últimos 120 anos. Os esforços para ajustar as contas públicas locais são muito recentes, ainda incompletos e insuficientes, diante de desafios imensos. Resultado disso, nosso PIB flerta novamente com a recessão, devendo crescer neste ano entre 0,5% e 0,9%, piorando sua fotografia dos últimos dois anos, e confirmando que, até o momento, a reação pós-recessão de 2014-2016 está sendo pífia. 

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