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Segurança alimentar e o consumo de algas


Amélio Dall’Agnol

Já discorremos neste espaço sobre o uso de insetos como alternativa para saciar a fome da humanidade e intuímos que num futuro não muito distante eles poderão ser, não apenas uma alternativa de alimento proteico barato, mas uma das principais ou a principal fonte de proteínas na dieta humana, dada a facilidade de produzi-los em larga escala, num espaço físico e temporal reduzido. 

Se comer insetos pareceu estranho, que tal comer algas, elegendo-as como importante opção de alimento para suprir as necessidades futuras da humanidade! A bem da verdade, as algas já constituem importante fonte de alimento para os povos do extremo oriente, desde tempos imemoriais. Mas seu consumo permaneceu restrito ao oriente durante séculos e é lá onde ainda se registra o maior consumo, fornecendo um recurso que melhora a alimentação da população, tanto desde uma perspectiva nutricional, quanto da culinária e da gastronomia. As algas constituem ingrediente indispensável na cozinha japonesa.

Existe potencial para que as algas assumam mais protagonismo na dieta de todos os povos – não apenas dos orientais - dado seu baixo custo e riqueza nutritiva. Elas são alimento riquíssimo em vitaminas, minerais, oligoelementos, proteínas (com aminoácidos essenciais), hidratos de carbono e pouca gordura, mas boa (ômega 3 e 6). 

Segundo a FAO, produzem-se anualmente cerca de sete milhões de toneladas de algas frescas, das quais metade se destina à alimentação humana direta. O restante abastece a indústria de alimentos, fármacos, cosméticos, fertilizantes, etc. Seu consumo duplicou nos últimos 20 anos e existem sinais de que sua demanda aumentará nos anos vindouros.

As algas podem habitar ambientes terrestres úmidos ou aquáticos, onde predominam os ambientes marinhos. Existem milhares de variedades de algas, classificadas a partir da sua coloração: algas verdes, vermelhas, azuis ou castanhas. Cerca de 50 tipos são comestíveis, a maioria habita os oceanos. Cada alga é única na sua forma, sabor e textura. Em qualquer destes grupos existem algas de grande interesse científico, económico e, também, ecológico.

Embora não sejam plantas, as algas realizam fotossíntese, razão pela qual absorvem o gás carbônico (CO2) e liberam o oxigênio (O2), sendo as principais responsáveis pela produção do oxigênio que respiramos. Cerca de 70% a 90% do oxigênio atmosférico provem das algas, contradizendo aqueles que afirmam ser a floresta amazônica o verdadeiro pulmão do mundo. Falso. As floretas do Planeta respondem por apenas 10% desse oxigênio.

Mais de dois bilhões de humanos ainda enfrentam insegurança alimentar no mundo, dentre os quais, segundo a FAO, 820 milhões passam fome. Estas pessoas poderiam ser salvas, alimentando-se com algas. O Brasil também tem famintos, apesar de ser o segundo exportador global de alimentos. Quantos famintos? Inexistem dados oficiais recentes, mas estatísticas de 2013 indicam que a insegurança alimentar atingia 22,6% da população brasileira, sendo que 3,2% tinham insegurança grave ou seja, passavam fome (IBGE). 

A fome endêmica do passado brasileiro ficou para trás, mas a insegurança alimentar continua sendo um problema, o qual se intensificou após a crise de 2008, principalmente nos tradicionais bolsões de pobreza do Norte e Nordeste. 

Diante das vantagens das algas como alimento nutritivo e barato, seria racional esperar que o Brasil incentivasse a produção e o consumo deste alimento, pois possui uma imensa costa marítima – onde se concentra a produção das algas comestíveis – mas não está explorando esse potencial; por enquanto.

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