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A reestruturação mundial e o Brasil (Final)


Argemiro Luís Brum

No caso dos EUA, a recalibragem das expectativas econômicas aponta que a normalização das cadeias produtivas será apenas em 2022. Neste país, também a saída da crise pandêmica será mais lenta e com obstáculos, havendo a possibilidade concreta de os juros internos subirem, freando a recuperação. Tal choque tende a forçar um recuo dos preços, atingindo as commodities. Por enquanto há dúvidas se, passada a pandemia, a economia voltará à normalidade. Neste contexto, o desemprego mundial deverá se manter elevado, podendo ser acelerado pelo desemprego tecnológico. Assim, se houver um retorno à normalidade, o mesmo será com menos empregos. Especialmente em países como o Brasil, onde há uma clara “desconexão” entre a qualificação do trabalhador e a demanda das empresas. Sem uma política ativa de formação de mão de obra isso não será revertido. E, não o sendo, “o alto desemprego alimentará o velho ciclo vicioso de instabilidade política, que leva ao populismo, que por sua vez traz estragos econômicos institucionais, piorando ainda mais o desenvolvimento socioeconômico”. No Brasil, esta realidade, já presente nos últimos anos, tende a piorar com a desaceleração da economia chinesa, algo que será sentido no segundo semestre de 2022 com mais intensidade. Soma-se a isso os riscos que a política econômica do atual governo acumulou nestes dois últimos anos, o qual se reflete no câmbio, que deveria estar entre R$ 4,00 e R$ 5,00. Assim, o ano de 2022 será muito difícil para o Brasil, com os principais desafios vindo muito mais do cenário interno do que externo. Seremos obrigados a adotar uma política econômica ainda mais contracionista, que freará o crescimento, sem podermos contar com o empuxe suficiente das economias externas. E o Banco Central sozinho não conseguirá resolver o problema. Será preciso apoio do governo como um todo, o qual se mostra cada vez mais fraco, gerando um clima institucional que resulta em um cenário muito complicado, onde a lista de problemas é enorme, à qual se acrescenta o risco de uma inflação elevada permanente (cf. Conjuntura Econômica, FGV, setembro/21).

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