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A contradição do desemprego


Argemiro Luís Brum

Quem acompanha as estatísticas econômicas oficiais deve estar se perguntando o porquê de o desemprego aumentar agora, se a economia está retomando. A dúvida é a mesma, só que no sentido inverso, de quando se estava no auge da pandemia (segundo trimestre). Naquela oportunidade a taxa oficial não retratava o real desemprego no país. Isso, em função da metodologia que o IBGE utiliza para o calcular, embora ela seja reconhecida mundialmente.

Pela mesma, desocupado no Brasil é aquele “que não teve nenhum tipo de trabalho no período de referência, mas que procurou emprego nos 30 dias anteriores ao período da pesquisa, ou que estava pronto para assumir um novo trabalho.”. Por ela, ao término do segundo trimestre deste ano a taxa oficial de desemprego no Brasil subiu para 13,3%, atingindo 12,8 milhões de pessoas. Ora, pelo conceito do IBGE o Brasil possui 132,4 milhões de pessoas na População Economicamente Ativa (PEA). Somando os 41,4 milhões que estão na informalidade, a real PEA chega a 173,8 milhões de pessoas.

Assim, além dos desempregados oficiais, havia 27,98 milhões de pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego (desalentados ou com receio de contrair o coronavírus). Com isso, o total de desempregados no Brasil era de 40,78 milhões de brasileiros. Considerando a PEA, o Brasil, em julho, possuía 30,8% de desempregados. Considerando PEA + informais a taxa de desemprego representava 23,5%.

E considerando a população realmente ocupada no país, que era de 83,3 milhões de pessoas na época, a taxa real de desemprego era de 37,1% em relação a PEA. Agora, com a retomada da economia, mesmo que desorganizada, e com o receio de se contrair a doença sendo superado pelas necessidades econômicas das famílias, a taxa real diminui enquanto a taxa oficial de desemprego aumenta, pois mais gente está em busca de emprego. E como a geração de emprego é menor do que a quantidade de pessoas que saíram em busca de emprego, a taxa sobe significativamente (e ainda irá subir mais nos próximos meses). Isso explica o resultado registrado na quarta semana de agosto: uma taxa de desocupação no Brasil de 14,3%, totalizando 13,7 milhões de desempregados (quase um milhão de pessoas a mais do que no início de julho passado). Para evitar confusão de interpretação, seria de bom alvitre o IBGE estudar uma metodologia mais pertinente para medir o problema ou, pelo menos, explicar com maior riqueza de detalhes o que realmente ocorre com o emprego no país.
 

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