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As eleições e o necessário ajuste fiscal


Argemiro Luís Brum

O Brasil vive em crise quase permanente nas últimas décadas. Crise esta que, na atualidade, leva 15% dos brasileiros ao estágio de “passarem fome diariamente”, e 58,7% da população estarem no estágio de “viver com algum grau de insegurança alimentar”. Em pleno 2022 retornamos à situação do início dos anos de 1990, retrocedendo mais de 30 anos e comprometendo uma geração inteira. E a situação só não está pior graças ao Plano Real, lançado em 1994.

Mas o Plano, embora sendo o melhor movimento econômico de governo em nossa história recente, não conseguiu atingir uma segunda etapa fundamental, a do ajuste eficiente nas contas públicas, após vencida a etapa de estabilizar a economia, via controle sustentável da inflação. A situação, de lá para cá, só piorou. Seja por imperícia de gestão dos governos seguintes, seja por desinteresse de parte da classe governante, pois se locupleta com a situação. A ponto de a estabilização estar ameaçada de afundar. Se é verdade que problemas externos atrapalham, é ainda mais verdade que nossa crise se origina, especialmente, na falta de um ajuste estrutural nas Contas Públicas internas. Portanto, não é hora de afrouxar o controle de tais contas, como vem fazendo o atual governo em sua ânsia de reeleição.

Tampouco é hora de discursos populistas, vindos de todos os lados do espectro político. Precisamos de uma grande reorganização das finanças públicas, deixando de lado os improvisos. Afinal, improvisos, como os que vêm sendo feitos, apenas atenuam a crise no curto prazo, causando um grande risco à frente, culminando em maior desastre econômico. Assim, reestruturar o “teto de gastos” se impõe, mas jamais eliminá-lo. Reformas administrativa e tributária se impõem, acompanhadas de uma imprescindível revisão na política de gastos com pessoal no setor público. Enfim, é necessário um ajuste estrutural de médio prazo, capaz de tornar a dívida pública sustentável, que permita manter a estabilidade econômica, alavancando um maior crescimento da economia e da renda per capita geral. Quem apresentar um programa de governo neste sentido, com responsabilidade na execução, merece atenção dos eleitores. Infelizmente, algo que ainda não se tem. Pior: a julgar pelas pesquisas, os que estão sendo priorizados já demonstraram não estarem aptos a tal tarefa.

 

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