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Os primeiros 45 dias (I)


Argemiro Luís Brum

Os primeiros 45 dias de 2021 no Brasil são de piora na pandemia, apesar do início (confuso) da vacinação; alto desemprego, sem perspectivas de melhora no médio prazo; inflação em elevação, devendo continuar nos próximos meses; crise fiscal do Estado insolúvel, e engolindo nossa capacidade de reação; e setor político paralisado em torno de picuinhas retrógradas. O Brasil corre sério risco de estar iniciando mais uma década perdida em sua economia.

Perdemos o rumo do crescimento e a pandemia escancarou antigas carências. Um dos problemas do Brasil é a baixa qualidade dos serviços públicos, os quais custam fortunas à sociedade, sendo o cerne do Custo Brasil. O caos na saúde, cristalizado pela pandemia, é apenas um aspecto da questão, a qual passa pela educação, apoio à ciência, segurança, habitação, infraestrutura etc. No final de 2019 o Ministério da Economia divulgava que o Custo Brasil consumia das empresas R$ 1,5 trilhão por ano, ou seja, 22% do PIB. Em tal quadro, não deveria nos surpreender o fechamento e a saída do país das fábricas.

Hoje, empregar pessoas no Brasil custa um total anual de R$ 320 bilhões a mais do que a média da OCDE. Em tal realidade, o investimento estrangeiro caiu fortemente no Brasil em 2020, tanto para o setor produtivo quanto para a Bolsa de Valores e para financiar o governo. O capital produtivo teria fechado o ano passado com ingresso de US$ 36 bilhões, ou seja, metade do ingressado em 2019. Já na área especulativa, representada pela Bolsa, fundos de investimentos e títulos da dívida federal, saíram do país US$ 14,8 bilhões, o maior volume desde 2016, quando o país estava na maior recessão em mais de um século.

A participação de investidores externos nos papéis do Tesouro Nacional, que chegou a 20,8% do total em maio de 2015, caiu para apenas 9,47% em novembro de 2020. Diante disso, como rolar mais de R$ 640 bilhões de dívida pública que vencem neste primeiro quadrimestre de 2021? E a pandemia está longe de ser o principal fator deste comportamento. O principal motivo está nas incertezas quanto ao rumo de nossa economia, associadas à má gestão pública federal, incluindo as questões sanitárias, e a péssima política ambiental, de governança e social. (segue)
 

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