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Agricultura de baixo carbono e o aquecimento global


Amélio Dall’Agnol

Existe grande preocupação mundial sobre o crescimento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), assim denominados porque bloqueiam a dissipação do calor emitido pela superfície da terra, transformando a nossa atmosfera numa espécie de estufa gigante. A preocupação maior é com as enormes quantidades de gás carbônico (CO2) sendo emitidas pela queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural) e, de metano (CH4) pelas atividades pecuárias e industriais. 

Na última Cúpula do Clima realizada em Nova Iorque, a ONU divulgou relatório que indica preocupações alarmantes sobre a realidade do aquecimento causado pelos GEE, os quais sinalizam com a possibilidade de causar o derretimento das geleiras e das calotas polares, aumentando o nível dos mares e inundando grandes áreas costeiras, incluindo cidades. Segundo esse relatório, na última década, o nível dos mares subiu 2,5 vezes mais rápido do que no século passado, indicando que nesse ritmo, seu nível aumentará um metro até 2100, obrigando milhares de pessoas a abandonar suas casas. Além da elevação do nível do mar, o degelo do permafrost vai liberar mais de 1,5 mil giga toneladas de gases de efeito estufa que aumentarão a temperatura terrestre, promovendo mais degelo.

Há muitas estratégias para reduzir a emissão dos GEE, dentre as quais salientamos o uso de energias renováveis, como a hidrelétrica, a solar e a eólica. Também, são importantes as bioenergias, como o etanol e o biodiesel. A agricultura também contribui com GEE que promovem o aquecimento global, quando desmata e queima resíduos culturais e florestais, ou queima petróleo nas operações de preparo do solo, plantio, colheita e transporte das safras. Mas a agricultura conta com ferramentas capazes de reduzir as emissões de GEE que ela mesma produz, dentre as quais destacamos a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD), o reflorestamento, a recuperação de pastagens degradadas, a integração da lavoura com a pecuária, a utilização da fixação biológica do nitrogênio em substituição ao fertilizante nitrogenado mineral e o tratamento de dejetos animais, entre outros. 

Foi focando nestas possibilidades que o governo brasileiro se comprometeu na Conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP-15) realizada na cidade de Copenhague (Dinamarca) em 2009, a reduzir, até 2020, as emissões de GEE do conjunto da economia brasileira em cerca de 37%, direcionando este esforço principalmente para o setor agrícola. Dentre outros compromissos, o Brasil se comprometeu acrescentar 8.0 milhões de hectares - aos cerca de 25 Mha já utilizados pelo SPD em 2009. Em 2020 já são 33 Mha, o que indicaria que este compromisso já foi satisfeito. Mas outras promessas ainda não se realizaram.

O SPD é dos maiores ativos ambientais da agricultura brasileira e uma das principais ferramentas na prática da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC). Uma das principais contribuições do SPD na redução dos GEE reside no aumento da matéria orgânica que o sistema proporciona ao solo, estocando nela enormes quantidades de carbono que, de outra forma, seriam lançadas na atmosfera incrementando o aquecimento atmosférico. Os resultados seriam muito melhores se todos os agricultores seguissem corretamente os princípios básicos da tecnologia, como a rotação de culturas e as técnicas de conservação do solo para evitar a erosão. 

A estocagem e o incremento da matéria orgânica do solo proporcionados pelo SPD ajudam na melhoria das características químicas, físicas e biológicas do solo, reduz a perda da umidade por evaporação e aumenta a capacidade de armazenamento de água desse solo, evitando grandes perdas de produtividade, no caso de ocorrerem estiagens não muito severas. 

O agro brasileiro está fazendo a sua parte, quanto ao compromisso do Brasil de reduzir os GEE.

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