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Ainda sobre os combustíveis


Argemiro Luís Brum

Antes que caiamos em tentação populista, tentando atacar o problema da elevação dos preços dos combustíveis no país, importante se faz entendermos o porquê de chegarmos a este estágio, em um momento em que a descoberta do pré-sal nos aponta um caminho de autossuficiência de petróleo. De fato, há uma aparente incongruência a este respeito. Enquanto importa petróleo, gasolina, diesel e outros derivados, o Brasil bate recordes sucessivos de produção de petróleo, chegando a atingir picos de quatro milhões de barris por dia desde 2020.

Nosso problema é que não temos um processo de refino suficiente para dar conta da demanda que aumentou nos últimos anos. Este problema havia sido detectado ainda no governo Lula, e duas novas refinarias passaram a ser construídas. Todavia, as mesmas foram fontes de corrupção generalizada, as quais se somaram a tudo o que se encontrou na Petrobras a este respeito na ocasião. Com isso, a operação Lava-Jato acabou interrompendo a industrialização do setor. No governo Bolsonaro, a situação não melhorou, pois a Petrobras continuou não investindo, deixando de ampliar e modernizar suficientemente seu parque de processamento. Além disso, suspendeu a construção de novas unidades e decidiu vender suas principais refinarias. Assim, temos petróleo, porém, não temos condições de gerar adequadamente os subprodutos necessários.

Hoje importamos derivados de petróleo em maior quantidade (nos 11 primeiros meses de 2021 importamos 72% a mais apenas de diesel, em comparação a 2020, gastando US$ 6,4 bilhões), enquanto o petróleo do pré-sal é exportado (nos mesmos 11 primeiros meses de 2021 exportamos US$ 30 bilhões em petróleo, com aumento de 36% sobre o ano anterior). Pior, importamos 50% a mais de petróleo bruto (US$ 3,7 bilhões), pois as refinarias que temos, pasmem, ainda não foram adaptadas para processar o tipo de petróleo encontrado no pré-sal. Neste contexto, sem realizarmos mudanças estruturais no setor, tudo o que vem sendo proposto, no momento, são medidas paliativas, que podem ajudar no curto prazo, porém, trarão consequências negativas para a economia logo adiante, não passando de subterfúgio, envolto em demagogia eleitoreira, pois seus custos serão ainda mais elevados do que os próprios aumentos de preço dos combustíveis. 

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