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Integração de atividades agrícolas, vantagens


Amélio Dall’Agnol

O sistema integrado de produção agrícola, que envolve atividades agrícolas, pecuárias e florestais (iLPF) numa mesma gleba - em rotação, sucessão ou consorciação - surgiu nas décadas de 60 e 70 no Bioma Cerrado, por iniciativa da Embrapa. É um novo conceito de produção agrícola; intensivo e sustentável. 

O sistema já integra mais de 11 milhões de hectares no Brasil, 83% dos quais no sistema já consolidado de lavoura e pecuária (agropastoril). Em menor escala aparecem o lavoura, pecuária e floresta (agrosilvipastoril com 9%), seguido do pecuária e floresta (silvipastoril com 7%) e, em muito menor escala, o lavoura e floresta (silviagrícola com apenas 1.0%). 

A sistema otimiza o uso da mesma gleba para a produção de carnes, grãos e madeira e intensifica a ciclagem dos nutrientes no solo, reduz a pressão sobre o desmatamento e possibilita a diversificação de cultivos, o que é desejável desde uma perspectiva econômica e ambiental.

No sistema tradicional de cultivo do milho safrinha em sucessão à soja, poderia ser mais vantajoso o estabelecimento de uma pastagem no lugar do milho, particularmente em regiões onde os solos são arenosos e chove pouco no período outono – inverno, período durante o qual é finalizada a 2ª safra de milho. Nessas condições, considerando o alto custo de estabelecer o milho safrinha, aliado ao alto risco climático, criar bois na entressafra da soja parece ser menos arriscado.

A integração da lavoura com a pecuária tem sido uma boa estratégia para recuperar, com menor custo, pastagens degradadas, de vez que, no processo de estabelecer uma lavoura em sucessão a um pasto degradado, a área degradada é corrigida e fertilizada, ensejando alta produtividade da pastagem, quando do retorno da gleba à atividade pecuária. No entanto, a produtividade de uma lavoura que sucede uma pastagem degradada, dificilmente será igual àquela de uma lavoura que sucede outra lavoura, onde o solo sofreu melhorias ao longo de várias temporadas. 

Coisa diferente acontece quando uma pastagem é estabelecida após uma lavoura. O pasto resultante dessa operação será muito mais produtivo do que aquele que existia anteriormente ao estabelecimento da lavoura e será capaz de sustentar várias unidades animal (UA) por hectare, ante pastagens muito degradadas, as quais podem ser incapazes de sustentar 1,0 UA/ha. 

As razões que levam um produtor a adotar a integração lavoura e pecuária ou pecuária e floresta, é a oportunidade de auferir maior renda e otimizar os recursos da propriedade (mão de obra, máquinas, terra, entre outros). Também são benefícios da integração, a manutenção da cobertura do solo, a diversificação da produção, a redução dos riscos de erosão, e ser uma alternativa para reforma de pastagens. Além disto, o sistema reduz a infestação de plantas daninhas, insetos-praga e doenças nas lavouras que sucedem a pastagem. Aumento da ocorrência de inimigos naturais, ausência de cigarrinha na pastagem e de lagarta desfolhadora no eucalipto são algumas das diferenças em sistemas integrados de produção agropecuária quando comparadas a sistemas solteiros de cultivo (Embrapa Agrossilvipastoril), sem deixar de mencionar o acúmulo de matéria orgânica que o sistema proporciona ao solo, melhorando a sua estrutura e a retenção da água, principalmente em solos arenosos, cuja capacidade de retenção é baixa. 

As vantagens do sistema iLPF não residem apenas na melhoria do rendimento das lavouras e das pastagens, mas, também, na melhoria das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, assim como, na possibilidade de diversificar os cultivos que, por sua vez, possibilitam a garantia de renda, também diversificada. 

Segundo a Embrapa, a renda obtida por área cultivada com a iLPF é maior do que a obtida com uma cultura isolada.

Sistemas ILPF alteram a dinâmica de ocorrência de pragas

Menor ocorrência de pragas nos sistemas integrados reduz custos para o produtor e riscos de perdas de produção 

Por: Embrapa 
Publicado em 10/06/2020 às 18:39h. 
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Aumento da ocorrência de inimigos naturais, ausência de cigarrinha na pastagem e de lagarta desfolhadora no eucalipto são algumas das diferenças em sistemas integrados de produção agropecuária quando comparadas a sistemas solteiros de cultivo. As observações são resultado de pesquisas conduzidas na Embrapa Agrossilvipastoril (MT). Elas mostram mudanças na dinâmica de insetos em função da interação entre duas ou mais espécies e da estratégia de ILPF adotada. 

Essa alteração no comportamento e na ocorrência de pragas traz benefícios tanto na diminuição dos custos com o controle quanto na redução dos riscos envolvendo perdas de produção. 

Em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP), a modalidade de integração mais utilizada no País, quando a estratégia envolve a rotação anual, com lavoura no verão seguida de pastagem no inverno, não há a ocorrência da cigarrinha. A praga é uma das mais relevantes para as forrageiras. O inseto adulto suga a seiva da folha e libera enzimas que causam o amarelamento e posterior morte das folhas do capim. Com isso, o pasto perde produtividade e a capacidade de suporte de animais.

De acordo com o pesquisador Rafael Pitta, como nessa estratégia de ILP a pastagem é semeada entre fevereiro e março, a forrageira terá maior volume de massa já no fim do período chuvoso, o que não dá tempo para o desenvolvimento da praga devido a suas características biológicas

“Quando começam a reduzir as chuvas, a cigarrinha (foto à esquerda) deposita o ovo no solo e ele fica em estágio de hibernação esperando as próximas chuvas. O ovo de março, abril, só vai eclodir em setembro e outubro, quando começa novo período de chuvas. Nesse momento, o capim já está sendo dessecado para servir de palhada para a lavoura”, explica Pitta.

Com a ausência da praga, os produtores deixam de ter de fazer o controle químico da cigarrinha. Em áreas de pastagens solteiras, são necessárias, em média, duas aplicações de inseticidas a cada período chuvoso, custando cerca de R$ 80 por hectare somente em produtos.  

ILPF

Em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta com eucalipto, com renques de linhas triplas, a pesquisa mostrou que a lagarta desfolhadora (Glena unipennaria) não ocorre nos sistemas integrados. A praga é comum em sistemas de monocultivo de eucalipto e causou cerca de 50% de desfolha, no mesmo experimento, em áreas de controle cultivadas somente com a árvore. 

Conforme a pesquisa, a praga não foi encontrada em áreas de integração de árvores com lavoura (ILF) nem em sistemas silvipastoris (IPF). Como o mesmo ocorre na bordadura de monocultivos de eucalipto, pesquisadores chegaram à conclusão de que a incidência de luz é a responsável pela mudança no comportamento.

“Observamos isso em sistemas com linhas triplas de eucalipto. Talvez em áreas com maior número de linhas esse efeito da bordadura possa não ser observado em todas as árvores”, pondera o cientista.

A lagarta desfolhadora do eucalipto é uma praga de grande impacto na cultura, sobretudo em regiões com maior cultivo da espécie, como Minas Gerais e São Paulo. O controle pode ser feito com produtos químicos ou biológicos e é caro, uma vez que depende de maquinário específico e com grande consumo de água. 

Diversidade biológica na ILPF

A integração de lavoura com árvores também resultou em maior diversidade de espécies de insetos no sistema produtivo. A pesquisa mostrou que a biodiversidade presente nos monocultivos de eucalipto e de soja se somam nesses sistemas. Essa variedade aumenta a resiliência do sistema. 

“Na lavoura de soja essa biodiversidade é maior ainda. Isso é importante pois, em um possível ataque de alguma praga, a existência de inimigos naturais reduz os danos que poderiam ser causados. Essa biodiversidade reduz o risco do produtor”, afirma Pitta.

Comportamento semelhante também já foi observado em pesquisas analisando os microrganismos do solo em sistemas ILPF.

Nesse caso, a maior diversidade de organismos antagônicos, ou seja, que controlam agentes causadores de doenças, pode reduzir a incidência de fitopatologias.

"Os sistemas integrados mostram uma resiliência maior na manutenção desses inimigos naturais. Na nossa visão, trata-se de um sistema produtivo que favorece esses inimigos naturais, podendo torná-lo menos suscetível às doenças", avalia o pesquisador e chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agrossilvipastoril, Anderson Ferreira.

Mudança de comportamento

Outra variável encontrada nos sistemas de integração lavoura-floresta é o comportamento de alguns insetos-praga. Na lavoura de soja, os percevejos marrons demonstraram maior ocorrência na faixa que não é afetada pela sombra das árvores. Já os percevejos barriga verde tiveram comportamento oposto, preferindo as áreas que ficam sombreadas em parte do dia.  

De acordo com Pitta, essa informação é relevante para direcionar a forma de amostragem no campo antes de decidir pelo controle da praga. Uma amostragem privilegiando áreas com sombra, ou a faixa central dos renques, pode não refletir a real situação do talhão. 

Efeito adverso 

Embora as pesquisas indiquem benefícios dos sistemas integrados, as observações mostraram ao menos um problema que deve ser observado pelos produtores. Em sistemas de ILPF há maior ocorrência de formigas cortadeiras. A praga é mais comum em silvicultura, mas, com a integração, acaba afetando também lavoura e pastagem.

Rafael Pitta explica que há quatro espécies mais comuns de formigas cortadeiras. Algumas delas preferem cortar gramíneas e outras leguminosas. Em ambos os casos, deve-se fazer o controle para evitar perdas.

“Na época da seca, tem que usar a isca granulada. Na época da chuva, a formiga não carrega a isca para o ninho, então a estratégia é usar o termonebulizador, injetando a fumaça no olheiro do formigueiro. Assim, o produto chegará a todas as câmaras do formigueiro”, explica o pesquisador.

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