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Pesquisa agrícola e a sociedade brasileira


Amélio Dall’Agnol

O agronegócio brasileiro é destaque na mídia internacional, dada a dinâmica e eficiência da sua produção agrícola. É notória a proeza que o Brasil realizou no correr do último meio século, como resultado de melhorias tecnológicas nos processos produtivos. Há décadas, o agronegócio é superavitário em suas trocas com o exterior, mesmo quando os demais setores da economia apresentam déficits. É a realidade de 2020, quando se espera uma redução do PIB brasileiro de até 10%, ante um crescimento de 2,4% do agronegócio.

Financial Times, o mais prestigiado jornal da Inglaterra estampou em suas páginas em 2005, o seguinte reconhecimento: “O Brasil está para a agricultura, como a China está para os manufaturados: é uma potência agrícola, cujo tamanho e eficiência poucos competidores são capazes de enfrentar”. O jornal estava correto. O Brasil é uma potência agrícola e se consolida como tal a cada nova temporada. Caminha para a liderança global no fornecimento de produtos agrícolas.

As transformações que deram origem a esse reconhecimento começaram na década de 1970 e caracterizaram-se por significativos investimentos públicos em pesquisa agrícola, utilizados, em boa medida, para capacitar pesquisadores no exterior e construir modernos centros de pesquisa dotados de laboratórios bem equipados, o que deu origem aos desenvolvimentos tecnológicos que mudaram o jeito de fazer agricultura no Brasil. A realização mais importante nessa década foi a criação da Embrapa, em 1973 e no seu entorno, o estabelecimento de centros de pesquisa centrados em produtos, centros temáticos e centros ecorregionais, localizados estrategicamente nas principais regiões agrícolas do país.

Como consequência desses investimentos, tecnologias apropriadas para a realidade brasileira foram desenvolvidas, particularmente as adaptadas para as condições tropicais de baixas latitudes. O desenvolvimento da soja tropical, hoje viável para ser cultivada em todo o território nacional, é um bom exemplo desses avanços que fizeram a produção de alimentos crescer, tornando a comida mais barata, conforme indicado pela variação do valor da cesta básica, reduzido em 50 % no período de Janeiro de 1975 a Abril de 2013, segundo dados do Diese. Mesmo assim, a maioria dos cidadãos não relaciona esses eventos como resultado da aplicação dos conhecimentos gerados pela pesquisa. 

Via de regra, o cidadão comum pouco sabe sobre ciência e tecnologia, mas reconhece a sua importância, embora tenha mais consciência da sua utilidade relativamente ao desenvolvimento de equipamentos eletrônicos e medicamentos. Quase não acredita  que o conhecimento científico auxilia na produção de alimentos, havendo, até, os que pensam que aplicar dinheiro em pesquisa agrícola é um mau investimento. O contínuo crescimento da produção agrícola brasileira vem provando o contrário, ou seja, o investimento em pesquisa gera tecnologias que dão suporte à melhoria e ao aumento de produção. Como consequência, proporciona melhoria da alimentação e renda de toda a população, através da maior disponibilidade de alimentos baratos e de qualidade.

Uma avaliação recente realizada pelo IBOPE CONECTA confirmou essa dissociação e faz um alerta: se o cidadão brasileiro se interessa por ciência, mas não a relaciona com a produção de alimentos, mostra que é necessário aproximar esse tema do cotidiano das pessoas, para que elas reconheçam que a pesquisa não produz só eletrônicos e medicamentos, mas também alimentos de melhor qualidade e mais baratos.

Possivelmente, para aumentar o entendimento da sociedade sobre a necessidade do incremento e da expansão dos desenvolvimentos tecnológicos, será necessário investir em educação básica para aprofundar a noção de que a ciência é a base de toda a inovação e está presente em todos os aspectos da nossa vida. 

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