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Alimento que sobra na mesa do rico, falta na do pobre


Amélio Dall’Agnol

Num mundo onde cerca de 800 milhões de pessoas passam fome porque não têm o que comer ou não têm dinheiro para comprar o alimento, é desconcertante saber que cerca de 35% de tudo o que a humanidade produz é desperdiçado no caminho que vai da lavoura à mesa do consumidor. Quem informa isto é a FAO, a qual diz, ainda, que onde mais se perde o alimento já produzido é no processo da colheita e que frutas e legumes são os que perdem mais. 

No entanto, as perdas mais lastimáveis são aquelas que ocorrem na mesa do consumidor, na reta final da cadeia de consumo. É o alimento descartado por excesso de oferta na mesa dos abastados, tanto de nações ricas quanto das pobres. As perdas no contexto das nações ricas são mais acentuadas nas fases finais da cadeia alimentar (varejo e consumo), enquanto que as perdas nas mais pobres são mais expressivas na fase inicial da cadeia (colheita, transporte e armazenagem). 

Dados de 2016 (FAO) estimam que mais de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidos anualmente nas várias etapas da cadeia alimentar, representando cerca de 1/3 da produção global de alimentos. Se tal desperdício fosse evitado e esse alimento distribuído entre os consumidores, não haveria insegurança alimentar no Planeta e nem demanda por mais terras para aumentar a produção.

O desperdício é impulsionado pelo preconceito contra o reaproveitamento das sobras ou pelo descarte de produtos imperfeitos. Isso ocorre particularmente com as frutas e as verduras manchadas ou enrugadas, que nada diferem quanto ao seu valor nutricional, mas são preteridas pelo consumidor, que induz o varejo a rejeitá-las e o produtor a não colhê-las, porque não conseguirá vende-las. 

O alimento desperdiçado é um péssimo negócio para a sociedade, pois drenou recursos de várias ordens no seu processo produtivo, sem nenhuma utilidade. Sua produção ocupou terras agricultáveis, gastou água, energia, dinheiro e mão de obra para nada. Também, prejudicou o meio ambiente com a morte desnecessária de plantas e animais para abertura do espaço necessário para essa produção inútil, mas que contribuiu com a emissão de gases de efeito estufa, promotores do aquecimento da atmosfera.

O excesso de comida disponibilizada à mesa dos cidadãos mais abastados não apenas incentiva o desperdício, como promove a obesidade, um problema cada vez mais presente entre as pessoas cuja renda per capita cresceu com o avanço da economia global. O Brasil também desperdiça. Segundo o Ministério da Saúde (2014), 52,5% dos brasileiros consomem mais alimento do que precisam e muitos acabam obesos; um problema de saúde pública. 

Segundo a FAO, a demanda por alimentos vai continuar crescendo, razão pela qual sua disponibilidade precisa ser aumentada em cerca de 40%, até 2050. Seria desejável que essa maior disponibilidade se desse, preferencialmente, pelo aumento da produtividade e pela redução do desperdício. 

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