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Mapeamento do agro revela o protagonismo do setor na economia goiana

O diagnóstico contribui para tomada de decisões e elaboração de políticas públicas

Foto: Pixabay

As atividades ligadas à agropecuária estão presentes nos 246 municípios goianos, sendo que em 86 cidades o segmento representa a principal composição do Produto Interno Bruto (PIB). No ranking nacional de produção, Goiás ocupa a primeira posição em culturas como sorgo, tomate e jabuticaba, e está em segundo em girassol, cana-de-açúcar, alho e rebanho bovino. Aparece, ainda, em terceiro na produção de soja, milho, feijão, palmito e pequi. Esses dados tornam o Estado em um dos líderes na produção rural no Brasil e faz do setor um propulsor da economia estadual, favorecendo a geração de emprego, o fortalecimento do comércio e da indústria, incentivando o conhecimento e a busca pela qualificação profissional.

É o que revela a Radiografia do Agro em Goiás, publicação elaborada pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), e que reúne dados consolidados das principais fontes de pesquisa do País, com recortes para o Estado, oferecendo um diagnóstico da produção rural para a tomada de decisões e construção de políticas públicas.

São informações sobre características gerais dos estabelecimentos rurais e dos produtores do Estado, assim como dados de infraestrutura, crédito, agroindústria e sobre as principais culturas da produção vegetal, frutas, silvicultura e produção animal. De acordo com o secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Carlos de Souza Lima Neto, a publicação vem preencher uma lacuna, até então existente, de informações qualificadas sobre o setor produtivo rural no Estado. "Ter dados qualificados, nesse sentido, que sejam capazes de apresentar um panorama de toda a produção, não apenas revela a força do setor agropecuário, como nos permite entender a dinâmica de produção do Estado. Assim é possível ficar claro qual é a aptidão de cada região para determinada atividade agropecuária e pensar em formas de melhor beneficiar e valorizar os municípios e os produtores rurais", avalia. 

Além disso, Antônio Carlos acrescenta que os números positivos apresentados na Radiografia são reflexos do trabalho desenvolvido em campo. “Tanto produtores, quanto trabalhadores rurais não medem esforços para produzir o alimento que chega à mesa da população. Se somos referência e líder em várias atividades é porque todos do campo entendem suas responsabilidades e fazem do segmento o protagonista da economia goiana”, enfatiza.  

Destaques

De acordo com a Radiografia do Agro em Goiás, Rio Verde e Cristalina se destacam entre os municípios goianos, especialmente na área de grãos. Nas culturas de soja, milho e sorgo, por exemplo, assim como na criação de aves e suínos, Rio Verde ocupa a primeira posição no ranking de produção. Segundo o presidente do Sindicato Rural do município, Luciano Layme, Rio Verde é próspero e sabe que o agronegócio é fundamental para o crescimento e elevação do PIB. “A cidade é atrativa para novas empresas e grandes indústrias, mas sem abandonar a atividade que deu início a toda a história, o agronegócio, que é cada vez mais tecnificado e moderno”. Mas o grande destaque, avalia Luciano, é que o município possui terras muito férteis. “São mais argilosas e retém mais água, o que eleva a produtividade, colocando-a em destaque no cenário estadual e nacional. Outro fator é a logística”, informa. “Destaco também o grande potencial de qualificação profissional e de cursos e palestras. A cidade está sempre focada em melhorar o conhecimento na área, por isso, são ofertados cursos em parceria com o Senar, totalmente gratuitos e que ajudam os profissionais da área”, orienta.

Já Cristalina está em primeiro lugar na produção de tomate, feijão, batata, cebola, algodão, trigo, alho e café. O presidente do Sindicato Rural do município, Alécio Maróstica, ressalta que investimento em irrigação é o diferencial de Cristalina para manter produção e produtividade, assim como a economia aquecida. “Se não fosse a irrigação, nós seríamos um município igual tantos outros que exploram em torno de 10 atividades. Com a irrigação, nós exploramos mais de 60 atividades, além do alho, batata, cebola, cenoura, beterraba etc.”, acrescenta. Ele informa, ainda, que a economia não gira só em torno da agricultura, mas da transformação daquilo que a agricultura produz. “Nós temos, em Cristalina, três indústrias de atomatado, milho doce e ervilha, todas se abastecendo da agricultura e da irrigação que nós temos na cidade”, diz. 

Quando se trata de irrigação, a Radiografia do Agro lista que, em Goiás, são mais de 492 mil hectares irrigados, com 8.191 estabelecimentos fazendo uso, o que representa 5,4% do total de propriedades rurais do Estado.

Cultivo maior

Com mais de 14,68 mil hectares, 1,32 milhão de toneladas produzidas em 2019 e 82 estabelecimentos produtores, Goiás ocupa a primeira posição na produção de tomate no País. São 44 municípios que desenvolvem a atividade e Cristalina, Itaberaí e Morrinhos são os destaques no Estado, representando 58,3% do que é produzido em Goiás. Arthur da Cunha Pereira, de 32 anos, um dos sócios da empresa CPA Agronegócios, diz que eles produzem tomate em 260 hectares, em Indiara, desde 2008. Além de produtores, também são prestadores de serviço na cultura de tomate, cultivando ainda o fruto em Buritama, no Estado de São Paulo, onde são mais 150 hectares. A capacidade produtiva nas duas localidades gira em torno de 40 mil a 50 mil toneladas. 

Segundo Arthur, para ser um bom produtor de tomate, tendo rentabilidade e segurança, é preciso estar sempre investindo na atividade. É o que ele e o sócio fazem. Os dois possuem maquinário de ponta, com equipamentos específicos para a cultura do tomate, como transplantadeiras de última geração que conseguem alinhar qualidade e rendimento no campo, colheitadeiras, tratores com GPS, equipamentos de irrigação, entre outros. “É um investimento alto, mas é necessário, porque a gente acredita no negócio”, enfatiza.

O produtor também explica que, em Goiás, existe uma relação boa entre produtores e indústrias, o que permite o desenvolvimento da atividade. “Hoje, a indústria consegue enxergar que o produtor é um parceiro, inclusive algumas dando suporte no fornecimento de insumos e até adiantando recursos para que o produtor possa custear.” Arthur ressalta que o fruto é industrializado no próprio Estado de produção, porque o tomate é perecível e não consegue ser levado a distâncias longas para ser beneficiado. “O tomate que a gente planta, em Goiás, é processado em indústrias do Estado. Quanto menor a distância entre fazenda e indústria, menores são os gastos com transporte e a perda da qualidade do produto, podendo ter um produto final melhor”, destaca. 

Apesar de ser o primeiro lugar em produção no Brasil, Goiás tem oportunidades de avançar em algumas áreas para ampliar ainda mais a produção na cultura do tomate. É o que avaliam os proprietários da CPA. Segundo eles, hoje o gargalo está na venda do produto final, que teve redução nos últimos anos devido aos problemas econômicos que o País vem enfrentando há alguns anos. Eles também citam a boa relação entre indústria e produtor, mas reforçam que sempre pode melhorar ano após ano, tornando-se cada vez mais profissional e beneficiando as duas partes; a criação de mais políticas públicas agrícolas específicas para a proteção do cultivo, especialmente na área de seguros; e o maior avanço em tecnologia e gestão dos negócios. “São algumas oportunidades que temos para agregar no mercado de tomate indústria”, informa Arthur. 

Conhecimento

Proporcionar orientação e assistência técnica ajuda a ampliar a gestão dos negócios e a promover o desenvolvimento da produção e produtividade nas propriedades rurais. De acordo com a Radiografia do Agro em Goiás, 33.419 estabelecimentos goianos já receberam algum tipo de assistência técnica, o que equivale a 22% do total de 152 mil propriedades espalhadas pelo Estado. A Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), jurisdicionada à Seapa, trabalha com essa vertente de orientação aos produtores rurais no Estado. 

De acordo com a engenheira agrônoma, Ana Rita Winder, que desenvolve extensão rural pela Emater, as ações são voltadas, principalmente, para associações e cooperativas compostas por agricultores familiares. “Não focamos apenas o indivíduo produtor, pois a gente vê a importância da manutenção da família e a sucessão familiar. A grande maioria dos produtores que a gente atende é de baixa renda, que não teria condições de pagar um assessoramento. Com essa assistência, conseguimos melhorar as condições de renda dele”, informa. A Radiografia do Agro mostra que mais de 95 mil estabelecimentos rurais, em Goiás, são da agricultura familiar, o que equivale a 62,9% do total das propriedades do Estado. 

Ela cita o exemplo do trabalho que tem sido realizado em Uruana, junto a produtores de melancia, para conquistar a Indicação Geográfica (IG) para o município. “Assessoramos os produtores desde as etapas de produção, embalagem, plantio até na comercialização dos produtos”, destaca. O IG é como se chama a identificação de um produto ou serviço como originário de um local, região ou país, quando determinada reputação, característica ou qualidade possam lhe ser vinculadas essencialmente a sua origem geográfica, sendo passíveis de proteção legal contra uso de terceiros, em termos de Propriedade Industrial. No caso de Uruana, a melancia é a principal atividade agrícola da cidade. Em 2019, foram produzidas mais de 150 mil toneladas na região. Já em todo o Estado, foram 241.684 toneladas, sendo que a fruta é cultivada por 487 estabelecimentos rurais em 23 cidades. Isso faz de Goiás o quarto maior produtor do País. 

Ana Rita Winder informa ainda que a Emater atua para levar aos produtores rurais orientações sobre financiamento rural e apoio na elaboração de projetos para investimentos e custeio, assim como assessoramento para a melhor escolha do crédito rural. Outra atividade é relacionada à pesquisa e campos experimentais. “Realizamos pesquisa de irrigação para banana, porque hoje a maior área plantada de banana no Estado de Goiás é na área de Uruana, por exemplo. A gente fez esse experimento na área do produtor e coletou esses dados por meio da Emater. Queremos ver o resultado no campo e mostrar para o produtor, gerando esse meio de campo entre a pesquisa, o conhecimento e o produtor. A gente leva o conhecimento para ser aplicado ao campo”, afirma.

Mudança cultural no agro

Em 2006, a gestão dos estabelecimentos rurais era feita 90,6% por homens e 9,4% por mulheres. Mais de uma década depois, os números mudaram e mostraram um pequeno crescimento da presença feminina. Agora, de acordo com os dados compilados na Radiografia do Agro em Goiás, 14,8% das mulheres fazem a gestão dos estabelecimentos e o número de homens gestores caiu para 85,2%. 

Para a produtora rural Cláudia do Val, há uma mudança cultural em curso, com quebra de tabus, preconceitos, não só da mulher como de todos os gêneros. “Vejo esse processo como consequência de um nível maior de escolaridade e acesso às especializações, promovendo uma democratização do conhecimento por meio da utilização de ferramentas tecnológicas diversas, inclusive de ensino à distância”, informa. Ela avalia, ainda, que a presença feminina no campo tem crescido, substancialmente, de mulheres na administração de propriedades rurais, sejam como proprietárias, técnicas ou consultoras. “Sob o meu ponto de vista, essa participação crescente ocorre em função das diversas sucessões familiares, onde filhas, esposas, irmãs e netas estão assumindo tais negócios. A aproximação da cidade ao campo também tem levado a um maior interesse, por parte do sexo feminino, à profissionalização em áreas ligadas à zona rural”.

No caso de Cláudia, que atua como produtora rural há 21 anos, a rotina como gestora de uma propriedade rural começou não por escolha própria, mas por causa de um acidente de percurso. “Sou administradora, porém não estava atuando como tal, quando tive um acidente automobilístico em maio de 1999. Como consequência, sofri uma lesão medular que me deixou paraplégica e meu marido, o qual era o gestor da fazenda, infelizmente veio a falecer. Após cinco meses hospitalizada, retornei à minha casa, com desafios inimagináveis. Circunstancialmente, assumi a fazenda com o intuito de me inteirar do seu funcionamento e do seu patrimônio investido”, relata. 

Ela lembra que a ideia inicial era após essa etapa, colocar à venda a estrutura física, assim como todo o gado. “Foi então que comecei a gostar da área, de estar frequentemente em contato com a natureza, enquanto trabalhava, administrando uma fazenda de cria e outra de recria. Vendendo os bois magros para invernistas. Mais tarde, decidi terminar meus animais a pasto com semi-confinamento. Um tempo depois também resolvi fechar alguns animais que não conseguia abater a pasto naquele ano, aumentando minha taxa de desfrute. Atualmente, fecho o ciclo da pecuária de corte, atuando nas atividades de cria e recria de fêmeas e machos, além da terminação intensiva a pasto ou via confinamento”, informa. 

A produtora acredita que os desafios no meio rural são os mesmos das empresas urbanas. “Então, procuro me inteirar diariamente das cotações e, eventualmente, conversar com um consultor de mercado, para verificar a viabilidade de travar algum preço no mercado futuro. Penso, que estamos sendo muito esclarecidos pelas redes sociais, isso nos favorece no sentido de um network mais rápido, que nos auxilia nas tomadas de decisão, afinal, o fator tempo é o mais valioso em qualquer negócio, precisando ser otimizado”. 

Sobre a rotina no campo, ela conta que o desenvolvimento das atividades dentro das fazendas exige que os funcionários sejam treinados e reciclados para os manejos com o gado, solo, pastagens etc. “Tento criar uma cultura de trabalho em equipe, somando esforços e elevando a produtividade. Outra questão de peso é a valorização do empregado, que deve acontecer tanto a nível emocional, com elogios e feedbacks, quanto a nível financeiro, com bonificações proporcionais aos resultados alcançados”, cita. Cláudia do Val informa também que tem agregado, gradativamente, o uso de tecnologia na gestão das propriedades, com o intuito de acelerar o acesso às informações necessárias, assim como, de levantar dados mais confiáveis do sistema de produção como um todo.

Radiografia do Agro em Goiás

1ª posição no ranking nacional

Sorgo
Produção: 895.354 toneladas
Estabelecimentos rurais: 1.033
Municípios produtores: 98
Maiores produtores: Rio Verde, Paraúna e Acreúna

Tomate
Produção: 1.329.790 toneladas
Estabelecimentos rurais: 82
Municípios produtores: 44
Maiores produtores: Cristalina, Itaberaí e Morrinhos

Jabuticaba
Produção: 1.714 toneladas
Estabelecimentos rurais: 65
Municípios produtores: 18
Maiores produtores: Hidrolândia, Goiânia e Aragoiânia

2ª posição no ranking nacional

Cana-de-açúcar
Produção: 73.760.045 toneladas
Estabelecimentos rurais: 3.394
Municípios produtores: 125
Maiores produtores: Quirinópolis, Goiatuba e Edéia

Alho
Produção: 30.865 toneladas
Estabelecimentos rurais: 69
Municípios produtores: 5
Maiores produtores: Cristalina, Água Fria de Goiás e Campo Alegre de Goiás

Girassol
Produção: 27.236 toneladas
Estabelecimentos rurais: 67
Municípios produtores: 29
Maiores produtores: Piracanjuba, Ipameri e Itumbiara

Pecuária de corte
Efetivo: 22.651.910 cabeças
Estabelecimentos rurais: 125.407
Municípios produtores: 246
Maiores produtores: Nova Crixás, São Miguel do Araguaia e Caiapônia

3ª posição no ranking nacional

Soja
Produção: 12.464,6 milhões de toneladas
Estabelecimentos rurais: 7.817
Municípios produtores: 202
Maiores produtores: Rio Verde, Jataí e Cristalina

Milho
Produção: 12.794,4 milhões de toneladas
Estabelecimentos rurais: 19.940
Municípios produtores: 225
Maiores produtores: Rio Verde, Jataí e Montividiu

Feijão
Produção: 344.689 toneladas
Estabelecimentos rurais: 3.892
Municípios produtores: 87
Maiores produtores: Cristalina, Luziânia e São João D´Aliança

Palmito
Produção: 14.406 toneladas
Estabelecimentos rurais: 935
Municípios produtores: 16
Maiores produtores: Itapuranga, Uruana e Morrinhos

Pequi
Produção: 2.017 toneladas
Estabelecimentos rurais: 433
Municípios produtores: 49
Maiores produtores: Santa Terezinha de Goiás, Síto D´Abadia e Niquelândia

Onde acessar
A Radiografia do Agro em Goiás está disponível nas versões português e inglês neste link

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