“Ampliação da área tornará cafeicultura insustentável” – Silas Brasileiro
Agrolink entrevistou presidente executivo do CNC
Agrolink
- Leonardo Gottems
O Conselho Nacional do Café (CNC) manifestou essa semana sua contrariedade à ampliação da área destinada a cafeicultura no Brasil através de financiamentos por meio de recursos públicos. O Portal Agrolink entrevistou com exclusividade o presidente executivo da entidade, deputado federal Silas Brasileiro.
Agrolink - Por que o CNC é contra a ampliação da área destinada à cafeicultura no Brasil?
Silas Brasileiro - O Conselho Nacional do Café (CNC) se manifesta contrário à liberação de financiamentos para plantios de café em novas áreas que não as existentes por dois motivos fundamentais:
a - Ao longo da última década, a melhoria dos tratos culturais e a renovação das lavouras em áreas já dedicadas à atividade cafeeira — com espaçamentos adensados e novas variedades mais produtivas e resistentes a pragas e doenças — já foram suficientes para aumentar em aproximadamente 70% a produção brasileira de café ao mesmo tempo em que se reduziu a área em produção.
b – Aliado a isso, temos a convicção que a ampliação da área, com o emprego dessas novas variedades em melhor espaçamento, desencadeará um excesso produtivo nacional e mundial, impactando diretamente no delicado equilíbrio entre oferta e demanda e, certamente, trazendo mais pressão sobre os já aviltados preços do café. Esse fato tornará a atividade insustentável, em um primeiro momento, do ponto de vista econômico e, subsequentemente, nos aspectos social e ambiental, já que os produtores não terão condições financeiras para a contratação de pessoal e para focar na preservação da propriedade.
Agrolink - Qual é a sugestão da entidade para o governo brasileiro?
Silas Brasileiro - O CNC vem defendendo junto ao governo federal a destinação de recursos para a renovação das lavouras antigas do cinturão produtor brasileiro, permitindo a implantação, seguindo os mesmos padrões de espaçamentos adensados e variedades mais produtivas, tolerantes aos problemas fitossanitários e climáticos, fato que se demonstrou exitoso nessa última década, haja vista o crescimento das colheitas em meio à redução da área em produção.
Agrolink - Como o CNC tem promovido o setor no Brasil e no exterior?
Silas Brasileiro - O foco principal de atuação do CNC é a defesa dos interesses dos produtores de café do Brasil, associados em entidades e/ou cooperativas, principalmente no que diz respeito à rentabilidade da atividade cafeeira. A respeito da promoção do setor nas esferas interna e externa, algumas de nossas cooperativas possuem programas específicos de promoção e marketing, assim como a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, sigla em inglês), também nossa associada, foca diretamente na propaganda e expansão do comércio dos cafés especiais do País.
No que diz respeito à cadeia como um todo, o CNC, junto aos demais representantes do setor privado e o governo federal, define os trabalhos no ambiente do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), que possui, inclusive, o Comitê Diretor de Promoção e Marketing do Café (CDPM/Café), fórum específico para tratar do tema e que foi o responsável pela elaboração do plano de promoção dos Cafés do Brasil, principalmente pensando nos próximos grandes eventos que ocorrerão em nosso país, como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e a Olimpíada.
Entretanto, não podemos nos esquecer que a principal forma de promover o café brasileiro é dar condições para que os cafeicultores tenham renda na atividade e, consequentemente, possam produzir cafés excepcionais do ponto de vista da qualidade e dentro dos princípios da sustentabilidade social e ambiental. Mais do que nosso maior desafio, essa é a nossa maior bandeira.