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“Carne de qualidade tem que valer a perda de eficiência”

Especialista avaliou o comportamento das carnes especiais na pecuária brasileira


Foto: Marcel Oliveira

O mercado de carne nobre e de qualidade no Brasil não é novo mas só recentemente passou a ganhar mais destaque no consumidor. Este comportamento vem abrindo um importante espaço para pecuaristas mais especializados, destinados à produção e comercialização das chamadas carnes nobres. Estima-se ainda que o tamanho deste mercado seja de mais de 200 mil toneladas/ano.

Para o pecuarista é necessário que o custo desta produção seja calculado para evitar prejuízos. A pecuária de agregação de valor foi avaliada pelo engenheiro agrônomo, consultor de pecuária intensiva e especialista em carnes especiais, Roberto Barcellos, em uma live promovida pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). 

Na avaliação do especialista há muito mercado a ser explorado, uma vez que a demanda é maior do que a oferta. “Apenas 2% dos abates é para nicho de mercado, o restante é para commoditie e consumo do dia a dia. O que se consome hoje foi pensado há três anos numa fazenda e o que está sendo produzido hoje vai ser consumido só daqui há três anos quando a demanda será maior e nossa capacidade produtiva não será suficiente”, avalia.

Barcellos diz que todas as raças estão aptas a produzir carne especial mas para ter cortes superiores e com qualidade é imprescindível o tripé entre a genética, a nutrição e o manejo adequado. “Nessa cadeia de carne de qualidade toda a cadeia de produção está envolvida na escolha da genética. Que sêmen vai ser utilizado, de qual reprodutor, para atender as exigências de características do produto final como marmoreio, gordura uniforme, frame maior, frame menor, raça A ou raça B. A partir disso se trabalha o mercado”, conta.

Esse novo caminho aberto para a pecuária de corte deve levar em consideração fatores de planejamento e financeiros. Barcellos, que tem experiência também na indústria, ressalta que nos frigoríficos as métricas são de qualidade e produtividade e que o assunto carne de qualidade é muito novo no Brasil. Para ele a melhor carne vai ser produzida se em algum momento da pecuária de corte o produtor abrir mão de uma eficiência máxima em produtividade para focar na qualidade. “E isso custa caro. Esse custo compensa? A carne de qualidade tem que valer no mínimo a perda de eficiência que o produtor teve ao longo desse processo ao optar por deixar de produzir o macho inteiro e focar no castrado, deixar de produzir uma carcaça mediana para entregar uma uniforme”.

A palavra de ordem dos programas de carne de qualidade é o equilíbrio: se o pecuarista é bem remunerado, se a industria frigorífica tem sua parcela de resultado e rentabilidade, da mesma forma o varejo e chegando ao consumidor que paga a conta. “Se não houver uma distribuição de valores pra dentro dessa cadeia estamos diante de um cenário ruim. Criou-se a demanda e podemos não ter produto. Não estamos incentivando os produtores a esse mercado”, diz.

Barcellos acredita que aliando a eficiência do Boi 777 com a Integração Lavoura Pecuária (ILP) será possível atender a demanda mundial de carne em 2050 mas que, na carne de qualidade, a conta não fecha se for tratada como a pecuária tradicional. “É um projeto a parte. O produtor deste segmento deve buscar exemplos em cafés especiais, vinhos diferenciados e como funciona esse conceito de valor agregado”, finaliza.

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