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"Estamos vislumbrando um 2021 mais otimista", diz Farsul

Gargalos como irrigação e questões ligadas à legislação de defensivos desafiam próximo ano


Foto: Pixabay

No final de 2019 a projeção para o agronegócio gaúcho era otimista, com expectativa de uma grande safra de grãos. Em janeiro veio a estiagem. De acordo com o Irga a seca foi a maior desde a safra 2004/2005, com quase 400 municípios em decreto de emergência e as perdas na economia do agro foram semelhantes àquela safra e também 2012, quando houve outra forte estiagem. 

A situação climática saiu caro. A grande safra freou diante da falta de chuva. A soja teve perdas acima de 40% e o milho acima de 30%. Foram cerca de 8 milhões de toneladas a menos. Os reflexos também foram sentidos no tabaco, gado de leite e pastagens. O balanço foi divulgado nesta quarta-feira (9) em uma coletiva de imprensa da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).

Em 2021 o Brasil deve, novamente, colher uma safra recorde de grãos, estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 268,9 milhões de toneladas. No Rio Grande do Sul a última previsão apontava alta de 38% mas o clima veio para desmotivar o produtor novamente. Com a La Niña a previsão para o Sul é de apenas 100mm de chuva entre dezembro e fevereiro.

A área plantada avançou 3% mas já há perdas significativas no milho, especialmente no noroeste. “Com isso devemos colher metade do que colhemos de milho em 2019 e o cereal pode ter preço ainda maior no ano que vem, podendo impactar as rações. Isso ocorre porque sem o grão por aqui teremos que trazer de fora e isso custa. No arroz, mesmo com maior área, a produtividade também deve ser menor” aponta o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz.

Mesmo com avanço do Valor Bruto da Produção em 19% , puxado pela alta de 51% na pecuária, o Produto Interno Bruto do estado na agropecuária deve ter queda neste ano em cerca de 28%. Para 2021 a projeção é de que o PIB gaúcho cresça 8,82% e o agropecuário cerca de 40%. “O produtor rural está acreditando como nunca na sua atividade porque o setor que mais investe para 2021 é o agronegócio. O produtor investiu como poucas vezes e por isso temos preocupação de continuar levando tecnologia. Estamos vislumbrando um 2021 mais otimista”, destaca o presidente da entidade, Gedeão Pereira.

O gargalo da irrigação

A apresentação dos representantes da entidade focou na dificuldade de implantar a irrigação nas lavouras do Rio Grande do Sul e a burocracia para construir as reservas de água nas propriedades. 

A assembleia legislativa apresentou ao governo do Estado um projeto para desonerar os equipamentos de irrigação. De acordo com o diretor da Farsul, Domingos Velho, somente isso não resolve o problema. O que barra o produtor para investir em irrigação é não conseguir atender a legislação ambiental. Na região Norte, ele cita que, para construir reservatórios, seria necessário invadir áreas de preservação permanente, o que não é permitido por lei. Já na região Sul um decreto que regula o CAR não considera a pecuária como antrópica (realizada pelo homem). Ao fazer o licenciamento ambiental para construir um reservatório de água o produtor fica obrigado a preservar 21% da área, o que torna inviável. “Não é que o produtor não tem interesse em irrigar. Ele não consegue”, destaca. 

No Rio Grande do Sul um levantamento aponta que apenas 6% da área é irrigada. “Não investir em irrigação gera perdas milionárias. Deixamos de gerar crescimento, PIB e empregos. Precisamos vencer isso. Não é um problema do agro e sim da sociedade gaúcha que depende do desenvolvimento da economia”, apontou Luz. 

Deriva e defensivos

O ano de 2021 ainda deve ter um reforço em outras duas questões. A primeira é o controle da deriva de herbicidas hormonais. Com a edição de três Instruções Normativas a aplicação passou a ter regras como capacitação e cadastro de aplicadores, revendas e maior informação para os produtores. Atualmente são monitorados 24 municípios prioritários. Em junho de 2021 esse acompanhamento deve atingir todos os municípios gaúchos que aplicam o produto. “Em dezembro temos informação de que quase não houve problemas com deriva. Trabalho árduo no primeiro semestre e boas práticas agrícolas”, afirmou o diretor.

Outra demanda se refere ao PL 260 que dispõe sobre o controle de agrotóxicos e outros biocidas em nível estadual. Pelo texto, que está na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia legislativa, o Rio Grande do Sul deixaria de ser o único do país que exige o registro no país de origem de fabricação para importar defensivos. A medida quer retirar esta exigência. 

Em novembro a Farsul e outras entidades encaminharam uma carta aberta ao governo do Estado defenderam a alteração para que haja uma maior oferta de insumos e permita o desenvolvimento da agricultura. “Temos que ter condições iguais a outros produtores no Brasil, com acesso a outros produtos. Nossa legislação é muito rígida”, finaliza Velho.
 

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