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A água no centro

Crise hídrica


Se o planeta for visto como um organismo vivo, os rios seriam suas veias e artérias. Afinal, não há vida sem circulação de água. Diante disso, há certo consenso entre especialistas que qualquer política ambiental tem de girar em torno da preservação dos recursos hídricos. Para conservá-los, é necessário cuidar de outros aspectos do meio ambiente. E isso promoveria bem-estar e saúde ao homem. É por isso que a crise de abastecimento em São Paulo não é apenas hídrica. É a crise de um modelo que precisa ser repensado. E que se não se restringe à capital paulista.

Como ocorre em todas as grandes cidades, em São Paulo a ocupação urbana avançou sem controle sobre áreas que deveriam ser de mananciais. Fruto de regras de ocupação do solo frouxas (ou do desrespeito delas), da falta de fiscalização e da ausência de políticas de habitação que contemplem o crescimento populacional.

Essas novas áreas urbanas em geral são carentes de infraestrutura, inclusive de coleta e tratamento de esgoto – o que compromete ainda mais a qualidade das águas que poderiam ser captadas para abastecimento público. Sem saneamento, a saúde dos moradores corre risco.

As novas ocupações também produzem outro efeito, menos aparente, que compromete a disponibilidade hídrica. Sem matas, as chuvas que se infiltram no solo não são retidas pelas raízes da vegetação. É essa retenção de água subterrânea que ajuda a manter o nível dos rios constante – mesmo em períodos de seca. Por outro lado, o desmatamento e sua substituição pelo asfalto e concreto leva as águas dos temporais a provocar enchentes urbanas, que poderiam ser evitadas se a cobertura verde fosse mantida.

A crise hídrica também poderia ser menor se a população desde sempre estivesse consciente a economizar água e se os imóveis fossem adaptados com equipamentos sanitários mais eficientes.

Está evidente que o risco de desabastecimento não se deve apenas à prolongada estiagem. Essa é uma causa climatológica fundamental, mas os efeitos da seca poderiam ser minorados se a água estivesse no centro das políticas ambientais urbanas. Isso implicaria a universalização do saneamento básico – desafio que países desenvolvidos há muito tempo superaram. Também exigiria uma política de zoneamento e ocupação do solo que não se dobrasse à especulação imobiliária e ao populismo que incentiva invasões.

Mas, obviamente, deveria haver a devida contrapartida de investimento em habitação popular. De igual modo, seria preciso preservar remanescentes florestais e recuperar áreas degradadas. Também viria a calhar a aprovação de incentivos para construções mais eficientes no consumo de água. Bem como a promoção de campanhas rotineiras de educação ambiental.

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