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A Cotrimaio já separa a soja transgênica


A impossibilidade de segregação da soja transgênica produzida no Rio Grande do Sul, uma das razões alegadas por entidades ligadas à agricultura para pedir ao governo federal a liberação sem restrições da comercialização da atual safra do Estado, não se repete no caso da Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai Ltda. (Cotrimaio), de Três de Maio, no Noroeste gaúcho. A cooperativa, que há cinco anos investe em um programa de produção de soja não-transgênica rastreada e certificada, conta com uma estrutura de moegas e silos em seus 14 pontos de recebimento da região capaz de separar os grãos comprovadamente convencionais dos sem origem identificada.

"O nosso programa de produção de não-transgênicos é uma aposta no futuro, dando uma remuneração melhor ao nosso associado. Hoje pagamos 4% a mais em relação ao preço de mercado , mas acreditamos que, daqui a dois anos, quando os transgênicos provavelmente já estiverem liberados no Brasil, a diferença será maior. A nossa soja terá uma valorização de pelo menos 10%", afirma o presidente da Cotrimaio, Antônio Wünsch.

Faturamento maior

Na atual safra, a cooperativa espera receber dos seus quatro mil associados integrados ao projeto cerca de 1,6 milhão de sacas (60 quilos), o que deve gerar um faturamento de R$ 60 milhões, 20% a mais em relação ao obtido na última colheita, de R$ 50 milhões. "De toda nossa soja, 75% é comprovadamente não-transgênica. O restante não tem origem identificada, mas provavelmente é quase tudo transgênico", diz o dirigente.

Do volume rastreado e certificado que a Cotrimaio receberá este ano, a maior parte já tem destino definido. Cerca de 300 mil sacas serão industrializados pela própria cooperativa, transformados em farelo e óleo, e aproximadamente 1 milhão de sacas serão vendidos à Bunge Alimentos, que, de acordo com Wünsch Neto, paga o mesmo bônus de 4% e ainda arca com as despesas do processo de certificação. "Este custos preferimos não revelar, porque é o nosso segredo. Mas é muito baixo", afirma.

No curso do processo de certificação e rastreabilidade do grão, com todas as etapas de produção descritas, a soja passa por testes para comprovar a inexistência de alteração genética ainda na lavoura, com kits de identificação, e depois amostras dos grão são submetidas a testes definitivos de DNA em laboratórios.

Produto orgânico

A Cotrimaio mantém ainda um programa de produção de soja orgânica, produzida sem a utilização de qualquer produto químico. A colheita, que este ano deve chegar a 20 mil sacas, é totalmente voltada ao mercado europeu. A remuneração da soja orgânica para o agricultor é pelo menos 35% superior ao grão sem origem comprovada. Em uma região com predominância de minifúndios, as lavouras dos produtores ligados à Cotrimaio têm extensão média de cinco hectares. O problema das demais cooperativas que ainda não contam com a estrutura para segregar a soja convencional da transgênica será discutido nesta segunda-feira, num encontro na Assembléia Legislativa, em Porto Alegre.

"Seja no armazenamento ou no transporte, vai haver algum tipo de mistura (entre o grão transgênico e o normal), o que pode prejudicar até os produtores que plantaram soja convencional", afirma o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul, Sérgio de Miranda.

Estimativas indicam que pelo menos 70% da soja que será colhida este ano no estado é transgênica. O volume total é projetado em 8,6 milhões de toneladas.

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