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A importância da mulher rural no setor cafeeiro

Identidade e a qualidade do café brasileiro, respeitados em todo o mundo, envolvem o trabalho de homens e mulheres do setor


A identidade e a qualidade do café brasileiro, respeitados em todo o mundo, envolvem o trabalho de homens e mulheres do setor. No entanto, historicamente, apenas o trabalho masculino vinha sendo reconhecido nas práticas de agricultura. Ciente disso, a Embrapa Café se envolveu na produção do livro “Mulheres do Café no Brasil”, que oferece o primeiro perfil dessas profissionais no país.

A iniciativa é destaque do Balanço Social 2018, estudo divulgado anualmente pela Empresa que aponta o seu retorno social para a sociedade, que também revela que para cada real aplicado na Embrapa no ano passado, foram devolvidos R$ 12,16 para a sociedade. A novidade será anunciada no próximo dia 24, na solenidade dos 46 anos da estatal agropecuária, que registrou também um lucro social de R$ 43,52 bilhões em 2018. Esse valor foi obtido a partir da análise do impacto econômico de 165 soluções tecnológicas e de cerca de 220 cultivares desenvolvidas pela Empresa.

A obra foi elaborada por 41 autoras e autores em 17 capítulos, que descrevem as cinco principais regiões brasileiras produtoras de café (Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Bahia e Rondônia) e suas singularidades, com ênfase nas mulheres de pequenas propriedades rurais. Entre os patrocinadores se encontram a Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA) e a Diretoria Regional da ONU Mulheres para Américas e Caribe. 

O objetivo foi traçar o perfil das mulheres que atuam cafeicultura, respondendo a algumas questões: Quem são elas? Onde estão? Quantas são? O que fazem? Dessa forma, procurou-se preencher uma lacuna de dados estatísticos fundamentais para a elaboração, urgente, de uma política pública nacional que contemple as mulheres do setor cafeeiro.

Trata-se do esforço de um coletivo de mulheres que foi tecendo uma rede materializada na Rede (virtual) Mulheres do Café. O coletivo foi enredando, pouco a pouco, as pessoas-chave, pessoas certas, com um olhar “feminino” capaz de visualizar o possível no que parecia impossível para o setor cafeeiro. Uma tecnologia social foi sendo gestada junto com a ousadia de se criar um e-book interativo, aberto às sugestões, inclusive do público leitor. Para tanto, formou-se uma rede multidisciplinar com mulheres produtoras de café, artistas, cineastas, fotógrafas, pesquisadoras, agrônomas, cientistas sociais, economistas domésticas, biólogas, historiadoras, estatísticas, geógrafas, cientistas políticas, jornalistas, entre outras ocupações.

O Brasil é o maior produtor, exportador e segundo maior consumidor de café do mundo, e conta atualmente com aproximadamente 300 mil produtores de café em 16 estados da Federação. A safra brasileira de café de 2018 foi estimada em 61,7 milhões de sacas de 60 kg e a produção mundial em torno de 163 milhões. Assim, considerando que no País aproximadamente 81% das fazendas produtoras de café são de base familiar e produzem 38% do café brasileiro, não se pode desconsiderar ou subestimar a atuação das mulheres nesses empreendimentos. Como se vê, as mulheres representam uma grande força de trabalho na cafeicultura nacional.

O setor é responsável por 8 milhões de empregos diretos e indiretos, US$ 5,5 bilhões de receita com as exportações na balança comercial e R$ 24 bilhões de faturamento bruto das lavouras, a cada ano. A despeito desses números positivos para o nosso País, não se tem dado o devido reconhecimento do papel das mulheres, tanto as que atuam como gestoras de quaisquer atividades do agronegócio café, mas, principalmente, das que trabalham diretamente na lavoura e produção.

Como se sabe, a atuação das mulheres no mundo em que vivemos atualmente não é mais o mesmo, pois elas cada vez mais vêm ocupando posições transformadoras no nosso cotidiano. O livro mostra o quão fundamentais elas são para o desenvolvimento do setor cafeeiro nacional e da sociedade. Além disso, as funções domésticas não são mais suas atribuições exclusivas e nem limitam o seu potencial inovador, pelo contrário, o empoderamento da mulher trouxe perspectivas mais positivas para a gestão e inovação de negócios.

Essa questão da igualdade de gênero não se restringe apenas ao Brasil e repercute sobremaneira em outros países. Tanto que mereceu destaque no alinhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODS), estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas) no ano 2000. Tais objetivos pontuam justamente a necessidade de promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres, também na agricultura mundial e nacional.

Para tanto, de acordo com dados da FAO de 2011, as mulheres representam 43% da força de trabalho rural em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. E, mais que isso, ainda segundo a FAO, estima-se que, ao aumentar o acesso das mulheres aos recursos financeiros e tecnológicos elas poderiam aumentar a produtividade de suas lavouras de 20% a 30%, o que reduziria o número de pessoas subnutridas em até 17%.

Para a FAO, as mulheres representam 12,7% dos proprietários de terra no Brasil, porém, tendem a receber menos por seus serviços: cerca de 30% abaixo do que os homens. Costumes e práticas culturais patriarcais, que diminuem a importância social da mulher, são os principais motivos para essa diferenciação. Contudo, pesquisas indicam que as mulheres estão mais abertas à inovação e ao conhecimento, pois 88% delas são independentes financeiramente e 60% têm ensino superior completo, e, muitas vezes, participam das ações de entidades de representação do setor cafeeiro.

Esse estudo revela que 14% das mulheres entrevistadas são as principais provedoras das despesas da família. Entretanto, indica também que 71% já tiveram alguma experiência em que o fato de ser mulher foi uma barreira para ser ouvida ou ascender profissionalmente. Assim, medidas são necessárias para promover e reconhecer o papel da mulher na sociedade como um todo, como é o caso dos objetivos da presente publicação.

Lucas Tadeu e equipe da Embrapa Café, com Wilson Fonseca (MTb 121/MS) e Roberto Penteado (MTb 220/DF) 
Secretaria de Desenvolvimento Institucional (SDI).

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