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A pluma sustentável

Padrão do algodão baiano ostenta quase 80% de sustentabilidade


Foto: Marcel Oliveira

Quando a banda Engenheiros do Hawai disse em uma famosa canção de 1988 que “as nuvens não eram de algodão” certamente não imaginava que três décadas depois o algodão pode alcançar o que quiser com o selo Made in Bahia. Esse é o padrão que atesta que o algodão tem como origem uma produção sustentável. O Oeste da Bahia é protagonista na cultura. O Estado é o segundo maior produtor do país e está finalizando a análise de qualidade de mais uma safra. Na anterior (2017/2018) foi batido um novo recorde em padrão sustentável: 77,7% da área plantada ou 247.840 mil hectares. Nesta safra a perspectiva é crescer em torno de 10% neste aspecto. A Bahia concentra a área agrícola com a maior produtividade de algodão não irrigado do mundo. Cerca de 40% da produção segue para o mercado asiático como Indonésia, Bangladesh e Vietnã.

Confira os números desta safra:

Arte: Marcel Oliveira/ Agrolink

A parceria da entidade suíça Better Cotton Iniciative (BCI) e da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), por meio do programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) iniciou há doze safras no Mato Grosso. Com a expansão da produção baiana e diante de qualidade reconhecida, a iniciativa foi expandida. É necessário cumprir oito requisitos, 225 itens, nas auditorias que atestam o título de produção sustentável. As exigências são: contrato de trabalho, proibição de trabalho infantil, proibição de trabalho análogo à escravidão, liberdade de associação sindical, proibição de discriminação de pessoas, meio ambiente e boas práticas agrícolas. Para que a unidade seja aprovada o percentual é crescente. No primeiro ano são exigidos 85% do cumprimento da norma, com crescimento de dois pontos percentuais por safra. 

Para a Coordenadora de Sustentabilidade da Abapa, Bárbara Bomfim Costa, a fibra do Oeste da Bahia “é altamente sustentável”. Algumas propriedades já conseguem um bônus na venda por ter o BCI mas, segundo Bárbara, o maior ganho se dá na saúde e segurança dos funcionários, reduzindo acidentes, faltas ao trabalho e doenças que fariam com que o ritmo de trabalho da fazenda fosse reduzido. A unidade que passa pelo projeto está respaldada no Ministério do Trabalho com relação à fiscalização trabalhista. São 66 unidades que já têm a certificação na Bahia. Para estar dentro do programa o produtor associado da Abapa não paga nada. Basta que queira receber as auditorias externas. “O produtor consegue não só ter segurança na produção como ter a certeza que está ofertando algo correto, sustentável, para toda a cadeia. Isso coloca o produtor baiano dentro de padrões internacionais de gestão e boas práticas com o meio ambiente.”, define. 

A sustentabilidade é parte do produtor

A região está repleta de cotonicultores que carregam no sangue o agronegócio. Grande maioria migrou de outras regiões em busca de nova vida no Matopiba e de produtividade com a pluma. Entre tantas histórias está a produtora rural Alessandra Zanotto Costa. A família veio do Paraná para Luís Eduardo Magalhães (BA) há quase 40 anos. Mais de dois mil quilômetros para a jovem de 33 anos se encontrar com a cultura do algodão.

Alessandra é Diretora Administrativa do grupo da família que também compreende uma indústria beneficiadora de algodão que atende a produção própria e também supre a demanda de produtores da região. Há seis anos a fazenda participa do Programa Algodão Brasileiro Responsável e do BCI. Ela avalia que os programas ampliaram a visão de sustentabilidade dentro das propriedades tanto com benefícios internos quanto para os colaboradores, além de agregar valor ao produto. “Nosso algodão é rastreado e, através do programa, assim que o produto chegar para virar fio e tecido esse cliente saberá onde ele foi plantado, nossas práticas agrícolas, sobre nossas instalações e sobre todas as pessoas envolvidas no processo”, afirma.

Para quem define o agronegócio como “a vida que alimenta e sustenta o país e o mundo”, o aspecto sustentável virou questão de respeito com a atividade. Nos últimos anos, Alessandra conta que as adequações ambientais, trabalhistas entre outras passaram a ser obrigatórias e não mais um prêmio. “A sustentabilidade já faz parte do nosso dia a dia e é um diferencial na relação com fornecedores e instituições financeiras. Não há mais como pensar em trabalhar, principalmente com o agro sem pensar em sustentabilidade”, define.

Qualidade atestada

Nesta época do ano mais de 100 pessoas trabalham sem parar, 24 horas por dia, de domingo a domingo. A missão: analisar a qualidade da fibra e assegurar um dos melhores algodões do mundo. 

O Centro de Análise de Fibras de Algodão, da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), localizado em Luís Eduardo Magalhães, funciona desde 2000 e é o maior da América Latina. Na safra passada analisou 1850 milhão de amostras e nesta deve atingir a marcar de 3 milhões de amostras. A unidade analisa 100% das amostras da Região do Matopiba (região compreendida entre o Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). O total de hectares analisados fica em torno de 400 mil, sendo 353 somente da Bahia.

Características que agregam valor

Após a colheita, normalmente, o produtor envia o algodão para a usina de beneficiamento, local onde é separada a pluma do caroço e ocorre a prensagem em fardos. De cada fardo são retiradas duas amostras: 150 gramas para a classificação instrumental e mais 150 para classificação visual. A amostra de classificação instrumental é enviada para o Centro de Análise de Fibras de Algodão para a classificação por HVI, moderno equipamento que faz a mensuração das características intrínsecas da fibra e serve de parâmetro para a indústria têxtil e para agregar valor ao produto com qualificação da fibra para comercialização. 

Assim que entra no laboratório a amostra é identificada de forma específica para cada fardo, de acordo com padrão da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), o que assegura rastreabilidade à fibra. A amostra então segue para o processo de climatização para chegar no teor de umidade estipulado na norma internacional de classificação instrumental. Da mesma forma, o laboratório é climatizado para manter essa umidade exigida durante todo o processo. No equipamento de HVI podem ser identificados 14 parâmetros. Entre os principais: comprimento da fibra, resistência, espessura, uniformidade, índice de fibras curtas e maturidade. O equipamento também consegue mensurar o brilho do algodão, cor, amarelamento da fiobra e grau de sujeira, estes mais voltados para a classificação visual. “O algodão do Oeste da Bahia tem brilho maior e grau de amarelamento baixo, fatores que favorecem a qualidade regional. A indústria busca muito essas características porque facilitam, por exemplo, o tingimento”, explica Sérgio Alberto Brentano, gerente da unidade. 

Depois de observadas todas as características é emitido um certificado que é devolvido para o produtor apontando a classificação de cada fardo. Com esses dados ele pode montar cargas de algodão segmentando de acordo com características de nível superior ou mais baixas, agregando valor a determinados lotes. Cerca de 60% do algodão baiano já conta com esse trabalho de certificação. Desta forma o comprador recebe uma fibra selecionada, de acordo com o perfil da fibra que busca.

Brentano ainda destaca que os equipamentos recebem um controle de confiabilidade das análises pela Abrapa e que no último ano foram investidos R$ 8 milhões na compra de cinco novos equipamentos de HVI, importados dos Estados Unidos. “Conseguimos assegurar qualidade, melhorar o preço e ainda entregar o aspecto sustentável”, completa. 

** Créditos das fotos: Arquivo Pessoal / Divulgação Abapa
 

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