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A preservação da história através do turismo rural

Família Lopes foi uma das pioneiras a abrir as porteiras de sua propriedade ao público



Família Lopes foi uma das pioneiras a abrir as porteiras de sua propriedade ao público

Às vésperas da virada do milênio, o casal Syla e Ricardo Lopes observa sua propriedade rural, localizada às margens da BR 293, com olhos de empreendedor. A natureza deslumbrante, os anos dedicados à preservação do bioma Pampa e o encantamento dos amigos que vinham visitá-los foram os caminhos que os levaram a perceber que a Chácara das Roseiras era um local rico para o turismo rural. A partir daí, com a ajuda da filha, Flora Lopes, que é turismóloga, a família se planejou durante sete anos para ser uma das pioneiras nessa modalidade de negócio., participando de cursos de qualificação. 

"Aqui é um ecomuseu histórico", define Lopes, que é carioca, zootecnista e que chegou ao Rio Grande do Sul após seu coração bater mais forte por Syla. Ela carrega a história em seu sangue. Neta de Hugo Moglia, o comprador da propriedade da Chácara das Roseiras. Também é descendente direta do herói da Revolução Farroupilha, General Netto e do intendente de Bagé, José Otávio Gonçalves. E esta ligação dá nome aos setores da pousada: a suíte leva o nome do avô, o chalé homenageia o general e os apartamentos têm o nome de Bento Gonçalves. "Eu me sinto muito feliz, imagino que meu avô também esteja satisfeito, pois estamos conseguindo manter a nossa história", orgulha-se Syla.

Todos com a mão na massa

O casal e um filho são os responsáveis por todo o serviço na pousada. Durante a entrevista, o aroma que permanecia no local era dos biscoitos recém saídos do forno produzidos por Syla. Ela também faz as geleias, os queijos, a comida e tudo que é servido aos hóspedes. Lopes é responsável pela lida campeira, já que criam gado Braford, cavalos Crioulos, ovelhas, peixes e abelhas. "A nossa ideia é que o clima seja sempre muito familiar. E para isso nos dedicamos muito ao trabalho", comenta Syla.

E a valorização dos produtos da região também prevalece. No local são servidos vinhos da Campanha, o churrasco é de carne Braford e nos próximos anos deverá ter os produtos oriundos dos olivais que estão em desenvolvimento.

Foco no bioma

Quando decidiram fazer da fazenda uma pousada, o casal começou a reformar as casas e construir banheiros, lareiras e varandas nas suítes. Uma das principais preocupações do casal é a preservação do bioma. "A nossa plantação é 100% nativa e muita gente faz ofertas de comprar aqui para o plantio de soja, mas nós acreditamos que somos privilegiados por termos esse local assim, com essa natureza. Inclusive as madeiras que utilizamos para fazer as aberturas são aquelas plantadas há quatro gerações pela família", orgulha-se o zootecnista.

Lopes afirma que proporciona aos hóspedes a participação na lida campeira guiada. "É um museu a céu aberto da lida do gaúcho. Também aproveitamos para contar a história do estado e chamar a atenção para a consciência ecológica, mostrando ao turista que se pode viver bem", destaca. Durante a entrevista, uma pomba carijó pousou próximo a Lopes, a espécie está ameaçada de extinção. "Nós tentamos ser os guardiões dessas maravilhas", resume.

Raridade fóssil

Ainda está vivo na memória dos proprietários quem foram os primeiros hóspedes que receberam há quase oito anos. Um grupo de 14 pessoas, de Porto Alegre, passou alguns dias na propriedade. Entre eles havia um geólogo. "Andando pelo campo, ele encontrou uns fósseis de árvores. Pediu para levar para a análise. Foi encontrada dentro do fóssil, uma larva que os exames concluíram ter aproximadamente 300 milhões de anos. Isso nos colocou na rota paleontológica mundial", conta Lopes. 

Mensagem de Tupã

Uma das histórias mais curiosas que o zootecnista destaca, entre as vividas na Chácara das Roseiras, aconteceu durante a gravação do filme O Tempo e o Vento. "Vários atores ficaram aqui, como a Cléo Pires, a Suzana Pires, entre outros, inclusive os índios que participaram das gravações. Fizemos um luau e o cacique Ariel foi até a mata para pedir ao deus Tupã para a tribo participar do filme. Quando ele voltou, disse que havia sido autorizado e que Tupã havia dado um recado, que essa região ia emanar muita luz para a civilização", relembra. 

A atividade

"Essa foi uma forma que encontramos de agregar renda e está dando certo", conclui Syla. Lopes vai além, para ele, o turismo rural é mais uma ferramenta de lucratividade para o homem do campo. E para melhorar a atividade na região, acredita que dois pontos precisam ser melhorados. "É necessária a conservação da Cidade de Santa Fé, pois é um marco para o turismo na região, um ícone nosso e ter mais cursos de capacitação para a rede hoteleira", opina.

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