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A queda do dólar faz usineiro produzir mais álcool e menos açúcar


A queda das cotações do dólar deve provocar mudanças nas estratégias das usinas sulcroalcoleiras. De um lado, a redução da rentabilidade das exportações de açúcar é o argumento que faltava para que as usinas que ainda não aderiram formalmente ao acordo com o governo federal para aumento da produção de álcool em 2003 mudem de idéia. No estado de São Paulo, cerca de 30% das usinas do não assinaram o acordo formalmente, mas aderiram à proposta.

"Com a queda da rentabilidade das exportações de açúcar é maior a garantia de que essas usinas produzirão álcool ao invés de açúcar", diz Antonio de Pádua Rodrigues, consultor da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica).

Rodrigues acredita que a previsão inicial da Unica de reduzir em 16% as exportações brasileiras em relação ao volume do ano passado, para 9,2 milhões de toneladas em 2003 serão mantidas. "O cenário mudaria se os preços e a demanda do álcool se tornassem mais atrativos", avalia o consultor.

Mudança estratégica

Essa, entretanto, não é a linha de pensamento de alguns usineiros. Isso porque a paridade entre os preços do mercado interno e externo pode provocar deslocamento das vendas externas para o mercado interno. Na sexta-feira, a tonelada comercializada no mercado externo valia R$ 400 (sem impostos) enquanto no mercado interno o preço era R$ 600, segundo cálculos do consultor da Unica.

O Grupo J.Pessoa, que tinha previsão de exportar este ano 300 mil toneladas de açúcar, fechou até o momento contratos de venda de apenas 30 mil toneladas. "Ainda não definimos o que faremos com as 270 mil toneladas, ou mesmo se produziremos este volume de açúcar", diz José Pessoa de Queiroz Bisneto, presidente do Grupo J. Pessoa, que soma nove usinas. Na avaliação de João Carlos de Figueiredo Ferraz, diretor da Cristalsev, a queda do dólar pode ser compensada pela alta do preço do açúcar no mercado internacional ao longo dos próximos meses.

"Entre fevereiro e abril os preços registraram alta e devem continuar se recuperando nos próximos meses".

Para Maurílio Biagi, diretor da Companhia Energética Santa Elisa, o mercado internacional é mais suscetível à atuação dos fundos e especuladores do que às notícias fundamentais. "Com a decisão de exportar menos nossa estimativa era de que os preços oscilassem entre 9 e 10 centavos de dólar por libra-peso em abril, mas eles se situaram em 7 centavos. Portanto, tudo pode acontecer no mercado internacional, que as vezes, atua na contramão do previsto", afirma Biagi. Ainda assim a tendência é de alta das cotações, que será sustentada pela redução das vendas externas do Brasil, Austrália, Tailândia e Cuba.

"O mercado interno é atrativo. Os programas sociais vão integrar uma parte excluída da sociedade que não consumia açúcar no ano passado", diz Pessoa. O usineiro, acredita também que a safra de cana-de-açúcar pode sofrer alguma redução. "O volume de chuvas em abril foi muito pequeno se comparado com anos anteriores".

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