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Açúcar surpreende e testa flexibilidade da indústria

Apesar de a maior parte das usinas estar equipada para reduzir a produção de álcool e elevar a de açúcar, inversão esbarra em questões técnicas


O preço do açúcar subiu de 50% a 60% nas bolsas de Londres e Nova York desde janeiro, desafiando os recordes históricos de três anos atrás. No Brasil, com a saca de 50 kg acima de R$ 42, as usinas que destinam a cana para a fabricação do alimento já ganham 59% mais do que na produção de álcool combustível, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O quadro, que poderia fazer com que as usinas flex corressem para o açúcar, não provoca grande euforia. Diante de tamanha pressão dos preços, a flexibilidade da indústria mostra-se limitada e o álcool resiste enquanto principal produto do setor.

Dois pontos porcentuais. Esse deve ser o aumento da participação do açúcar no volume total de cana moída no Brasil. A avaliação é a mesma, tanto na União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que monitora praticamente toda a região produtora do país, quanto na Associação de Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar). No estado, o índice deve passar de 48% para 50%. Em âmbito nacional, de 39,5% para 42,1%.

São aproximadamente 14 milhões de toneladas de cana a mais para o açúcar brasileiro nesta safra. Mas, diante da colheita nacional de 650 milhões de toneladas, o volume é considerado pequeno. Se não pequeno, insuficiente para suprir a demanda aberta pela Índia, que desestimulou seus produtores e agora passa de exportador a importador de açúcar. Os analistas falam num vácuo de 6 milhões de toneladas de açúcar, que pode se repetir em 2010, uma vez que a produção indiana deve ficar na faixa de 17 milhões de toneladas, para um consumo anual de 22 milhões.

A indústria brasileira está vendendo açúcar para a Índia, que dois anos atrás ameaçava a posição do Brasil de líder mundial na produção desse alimento. Rússia e países como Arábia Saudita e Nigéria devem continuar sendo nossos principais clientes, por enquanto.

"Durante a safra da cana não há tanta flexibilidade para mudar do álcool para o açúcar. Além das restrições de ordem técnica nas usinas, o setor tem que seguir contratos e questões de ordem política: o Brasil quer consolidar o mercado internacional de etanol", explica a pesquisadora do Cepea Mirian Piedade Bacchi.

A maior parte das usinas é flex. No Paraná, das 30 em operação, 8 são destilarias e 22 produzem álcool e açúcar. No entanto, algumas não podem dedicar ao alimento mais do que 70% de sua capacidade. Se esse quadro fosse diferente, muitas até deixariam de lado questões políticas num momento de tamanha diferença na rentabilidade, considera a professora Mirian.

Ela conta que o açúcar foi mais rentável no ano passado e deve continuar valorizado. No entanto, pondera, os maiores investimentos no setor são uma aposta no mercado da bioenergia. "As usinas sabem que, se alocarem toda a cana para o açúcar, o preço cai", acrescenta.

O açúcar deve elevar a renda das usinas, mas não tem poder para puxar o preço do álcool, afirma o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues. "Considerando o Centro-Sul, o açúcar deve receber de 42% a 43% da cana (ante 39,5% do ciclo passado). Se considerarmos só usinas que podem produzir tanto álcool quanto açúcar, sem contar as que só produzem etanol, o índice pode chegar a 50% para a cana. O açúcar está rendendo um pouco mais neste ano."

Ele descarta elevação do preço do álcool combustível por causa disso. "Não haverá alterações que desabasteçam o mercado interno ou elevem os preços. O álcool sempre vai ter paridade com a gasolina na bomba." Segundo estado produtor de cana, o Paraná é o terceiro no ranking dos que oferecem álcool mais barato nos postos (atrás de São Paulo e Mato Grosso), com o produto na casa de R$ 1,30 o litro.

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