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Aftosa muda o mapa das exportações de carnes

As restrições internacionais provocaram uma profunda alteração no ranking interno da exportação do complexo carnes


Dois anos após o ressurgimento de focos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, em 2005, os embargos anunciados por 59 parceiros comerciais do Brasil prejudicaram, na verdade, as vendas de carne bovina ao Chile e de cortes suínos à Rússia. As restrições internacionais provocaram, isso sim, uma profunda alteração no ranking interno da exportação do complexo carnes.

A indústria exportadora de suínos de Santa Catarina (-42,5%) e Paraná (-70,3%) registrou forte recuo em suas fatias nas vendas externas, mostram dados comparativos de janeiro a setembro de 2005 com igual período de 2007 obtidos pelo Valor. A perda chegou a US$ 258 milhões.

Na outra mão, apontam as estatísticas do Ministério da Agricultura, cresceram as vendas de frigoríficos de Rio Grande do Sul (119%), Mato Grosso (422%) e Goiás (17%). No geral, porém, as vendas de suínos recuaram 5,7%.

Em relação aos embarques de carne bovina, houve uma brusca freada na participação dos exportadores de Mato Grosso do Sul (79,3%), São Paulo (3,5%), Rio Grande do Sul (2,4%) e Paraná (90%). A conta negativa bateu em US$ 300 milhões. Com isso, ficou aberto o caminho para o avanço das indústrias de Goiás (220%), Mato Grosso (237%), Minas (296%) e Rondônia (348%). No balanço, os embarques de cortes bovinos aumentaram 34,7% no período.

A diferença entre o desempenho do setor de carne suína e o segmento de carne bovina está diretamente relacionada à histórica de dependência da indústria de suínos em relação ao mercado russo. "Houve uma queda efetiva, mas não só em função da aftosa. A dependência exacerbada da Rússia, com a sujeição às políticas de proteção de mercado e distribuição de cotas de importação, prejudicou muito o setor", analisa o coordenador-geral de Organização para Exportação da Agricultura do ministério, Eliezer Lopes.

Ainda assim, observa Lopes, a reabertura do mercado russo ao produto do Rio Grande do Sul, ocorrido em 2006, "salvou" o país de um prejuízo mais grave. "De fato, os números do Brasil não são tão ruins porque o Rio Grande do Sul foi muito bem. Mas são trágicos para Santa Catarina e Paraná, o que gerou uma situação muito desigual", avalia o presidente da Associação da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto.

Os embarques de carne bovina mantiveram a competitividade por causa da estratégia dos frigoríficos de deslocar a produção de Estados inabilitados para áreas livres de aftosa, o que permitiu manter a tendência de crescimento das vendas. "Não perdemos competitividade porque usamos a regionalização para remanejar vendas", diz Eliezer. Mas o Chile, até então quarto maior importador do produto brasileiro, reduziu em US$ 122,5 milhões (-89,7%) suas compras, passando a 17º no ranking.

A União Européia, que hoje ameaça fechar suas fronteiras ao Brasil em razão de falhas sanitárias, elevou as compras de US$ 1,93 bilhão para 2,6 bilhões em dois anos (15,2%). "O prejuízo financeiro foi grande, mas o pior foi perder todo o trabalho que se fazia para conquistar novos mercados, como os Estados Unidos", diz o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antonio Camardeli.

A interrupção, de acordo com a Abiec, abortou a venda de carne bovina in natura para um parceiro que poderia mudar o fluxo de exportações, já que influencia outros países que adotam sua lista de habilitação e baliza outros mercados sofisticados, como Japão e Coréia. "Agora, sofremos com as armadilhas da má intenção. O Chile, por exemplo, não só cortou as compras como fez uma sanção econômica", ataca Camardeli.

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