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Agricultor mato-grossense reduz em 25% a aplicação de calcário

Correção de solo nas lavouras vai ficando para segundo plano. Postura adotada no campo causa impacto no segmento mineral


O agricultor mato-grossense está aplicando este ano menos calcário do que o recomendado pelos técnicos. E o resultado, segundo os agrônomos, pode refletir na queda de produtividade na próxima safra, o ciclo 09/10.

Levantamento do Sindicato das Indústrias de Extração de Calcário de Mato Grosso aponta crescimento de 10,47% no volume de calcário aplicado em 2008 – passou de 3,39 milhões de toneladas para 3,75 milhões de toneladas. Mas, este ano, a aplicação já caiu 25% em relação ao primeiro semestre do ano passado, sinal de que o setor ainda não se recuperou da crise financeira. Por conta deste cenário, as indústrias estimam recuo no uso desta tecnologia até o final da safra, com o volume podendo despencar para 2,81 milhões de toneladas. O que confirmaria a queda de 25%.

A previsão preocupa os agrônomos no momento em que as máquinas trabalham a todo vapor no preparo da terra. Segundo o produtor e agrônomo Wagner Ortolan Júnior, sem a análise e a correção do solo é impossível ser competitivo. "Para a agricultura se dar bem é preciso corrigir a acidez do solo. É o investimento que o produtor tira no primeiro ano com o aumento de produção", afirmou. O efeito residual no solo é outro fator compensador. "Após a primeira aplicação, o calcário garante proteção por mais quatro anos", aponta.

Em Mato Grosso, são 23 indústrias de calcário em atividade. A produção, devido à pequena demanda este ano, está abaixo das expectativas do setor e muito abaixo da capacidade de produção das indústrias, que trabalham atualmente com capacidade ociosa de produção acima de 40%. Em 2004, o setor chegou a produzir 6,415 milhões de toneladas. Se o volume em 2009 cair para 2,81 milhões t, a queda no período será de 56,16%.

A presidente do Sindical, Kassie Regina Riedi Queiroz, lembra que devido às seguidas altas nos preços dos insumos utilizados pelas indústrias de calcário - como energia elétrica, óleo diesel e revestimentos metálicos, além do alto custo com a mão-de-obra e baixo preço de venda do calcário adotado pela maioria das indústrias do Estado - o preço de comercialização chega muito perto do custo de produção do calcário. "A nossa margem está quase zerada, estamos trabalhando no limite", diz.

CRISE – A crise financeira mundial, a exemplo do que aconteceu com outros setores da atividade econômica, teve impacto direto na produção das indústrias de extração de calcário. "Todos estão preocupados e trabalhando arduamente para tentar reduzir custos e sobreviver a este difícil momento", conta Kassie. Segundo ela, o impacto foi duplo: "Este ano os custos de produção aumentaram, enquanto os preços de venda e a demanda pelo produto, que já era baixa, caiu ainda mais".

Como a atividade é sazonal, sempre ocorrem desligamentos de funcionários no setor. "Não temos um levantamento sobre o volume de demissões este ano, mas percebo que houve uma redução desse volume".

Ela diz que as indústrias de calcário estão descapitalizadas e precisam de mais crédito para renovar suas máquinas e equipamentos até mesmo para poder reduzir custos de produção. "Precisamos de mais investimentos também em pesquisas de novas tecnologias de produção. Também é necessária a desoneração dos impostos incidentes sobre a compra de máquinas, equipamentos e insumos, inclusive dos adquiridos em outros estados por não serem produzidos em Mato Grosso, além da desoneração dos encargos trabalhistas que pesam muito sobre as empresas".

Além desses entraves, Kassie Queiroz aponta a precariedade da logística como o vilão das indústrias e produtores. "Talvez o nosso principal gargalo esteja na questão da logística, uma vez que o frete é caro e, muitas vezes, o transporte pode custar mais para o agricultor do que o próprio produto", exemplifica.

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