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Agricultura desperdiça U$ 50 bi/ano

Professor do Departamento de Solos da Esalq aponta que o país precisa superar mitos para produzir mais alimentos


Professor do Departamento de Solos da Esalq aponta que o país precisa superar mitos para produzir mais alimentos

O professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) Godofredo Cesar Vitti, do Departamento de Solos, fez nesta quinta-feira (7), durante simpósio sobre fertilizante e agronegócio, uma avaliação crítica da produção de alimentos no Brasil. Além de apontar os nós da estrutura, que ampliam o desperdício e reduzem o desempenho, destacou a falta de educação da sociedade sobre a realidade do setor.

Ele vê distorções graves sobre a importância do agronegócio para o mundo, sintetizadas em ideias que se tornaram mitos e foram disseminadas inclusive por ambientalistas, como se a produção agrícola fosse um privilégio das grandes culturas, estivesse focada apenas nas exportações e fosse responsável pelo desmatamento, entre outras. “Falta uma cartilha para valorizar o que a gente faz e desmontar esses mitos, mostrando que precisamos de alimentos para acabar com a fome”, sintetizou.

Pragmático, Vitti disse que há problemas emergenciais, políticos e ambientais, e todos dependem de uma política adequada para alavancar a produção de alimentos e atender as exigências da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) para os próximos 15 anos, período em que o Brasil precisa produzir pelo menos 20% a mais do que produz hoje.

A produção atual, diz o professor, pode ser ampliada com investimentos na melhoria de estradas, redução do IPI para máquinas agrícolas, retorno de 75% do ICMS do algodão, estrutura para armazenagem, extensão rural, seguro rural e desburocratização do crédito. No entanto, o que se tem hoje, no entender de Vitti, é uma política do desperdício, com a perda de U$ 50 bi anuais que vão para o ralo.

Sintetizando, no entender do especialista, a produção brasileira está basicamente centrada na região Sul/Sudeste, mas pode avançar para o Cerrado e Semi-Árido. Aproveitando sempre áreas de pastagem. E nem pensar na Floresta Amazônica. Em primeiro lugar por se tratar de uma terra ruim – até para pastagem.

Em relação aos fertilizantes, Vitti observou que não dá mais para ficar dependendo da importação do produto. Mas para isso, a Petrobras e a Vale precisam acelerar suas estrutura de produção, a base de amônia e uréia, no caso da estatal, e à base de potássio, no caso da mineradora. De acordo com o diretor da Esalq, Roque Dechen, as indústrias brasileiras de fertilizantes estão instaladas em Marrocos por ter lá um minério com maior solubilidade, o que facilita a produção. No entanto, ele acredita que a tendência é a expansão da produção no país e o fim da dependência do produto importado.

Esse processo carece também de estudos. Vitti disse que o Brasil investe muito pouco em trabalhos acadêmicos sobre fertilizantes, o que não contribui para ampliar a produtividade. Enquanto isso, o mundo avança mais rápido. Os EUA, por exemplo, produzem quatro vezes mais toneladas de alimentos por hectare que o Brasil. Em forma de crítica ao governo e os políticos pela realidade da agricultura brasileira, Vitti usou o esporte. “Não faturamos a Coma de 2010, mas vamos superfatura a de 2014”.

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