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Agro pede passagem na Rio+20

Brasil pode ser exemplo sustentável na busca pela segurança alimentar e energética


Brasil pode ser exemplo sustentável na busca pela segurança alimentar e energética
 
O agro brasileiro avaliou de forma crítica o Rascunho Zero do documento base da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. As principais sugestões são que o governo brasileiro proponha ações concretas e ressalte os avanços do agro desde a Rio92, como forma de se proteger de eventuais ataques ambientais de países desenvolvidos.

Apenas dois dos mais de 100 parágrafos do Rascunho Zero estão relacionados ao agro, critica o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Erikson Chandoha. “O documento deixa a desejar em relação ao que o Brasil esperava, tanto que foi muito criticado na reunião do comitê de ministros para a Rio+20”, conta o secretário.

Dos principais pontos destacados pelo ministério como prioridade, apenas uma foi incluída no documento: o aperfeiçoamento de mecanismos de comércio justo e sem protecionismo. O tema é relevante diante do cenário de estresse global, na opinião do novo presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Luiz Carlos Corrêa de Carvalho. “A conferência não pode resultar em novas barreiras ao comércio”, alerta ele.

Também estavam na pauta do ministério da Agricultura garantir a liberdade dos países escolherem seus mecanismos de desenvolvimento sustentável; o cumprimento dos compromissos internacionais de financiamento do desenvolvimento nos países mais pobres; o fortalecimento do associativismo e do cooperativismo; e a universalização da segurança alimentar, com acesso a recursos genéticos.

Este último tema encontra eco em uma proposta que o ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues fez ao embaixador André Corrêa do Lago na semana passada, no fórum “Despertando para a Rio+20”, organizado pela Abag. A Lago, que é o diretor de meio ambiente do Itamaraty e o principal negociador diplomático brasileiro sobre o tema, Rodrigues defendeu que o governo dirija a conferência para uma proposta capaz de mobilizar todo o mundo: a busca pela segurança alimentar e energética com sustentabilidade. “Ninguém pode ser contra isso”, justificou Rodrigues.

Em um depoimento em vídeo exibido durante o fórum da semana passada, o ex-ministro do Meio Ambiente e professor da Universidade de São Paulo (USP) José Goldemberg conclamou as entidades de representação da iniciativa privada a influenciar o governo na direção de posições mais práticas para a Rio+20. “Ainda se pode fazer o governo colocar medidas factíveis na agenda, naquilo em que o Brasil é forte”, defendeu Goldemberg.

Conquistas do agro

Entre as áreas “em que o Brasil é forte”, Goldemberg destacou o potencial da produção de etanol e eletricidade a partir da cana-de-açúcar. “A cana deveria ter, pelo menos, tanta prioridade quanto o pré-sal, que está atraindo muita atenção do governo”, opina o especialista em energia.

Além do etanol e da bioeletricidade, outros diferenciais de sustentabilidade do agro brasileiro devem ser ressaltados pelo governo, defende Roberto Rodrigues. “Não sejamos freiras no prostíbulo; vem uma paulada por aí e precisamos ter pedras na mão, bem embrulhadinhas”, diz o ex-ministro.

Um dos exemplos que ele cita é o Código Florestal, que ele defende que se torne uma bandeira internacional brasileira. O projeto de novo Código em tramitação final na Câmara ganhou um artigo que permite que o Brasil proíba a importação de itens agropecuários produzidos em países que não respeitam o mesmo padrão de proteção ambiental.

Diante dos riscos que as exigências ambientais dos países importadores se transformem em barreiras comerciais, Carvalho, da Abag, ressalta ainda mais a importância de o Brasil mostrar sua evolução na direção de uma agropecuária sustentável. Seriam as pedras que o País deve ter na mão para responder às “pauladas” a que Rodrigues se referiu.

Chandoha, do Ministério da Agricultura, vê grande potencial no Plano Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que oferece crédito mais barato para os produtores que diminuírem as emissões de gases do efeito estufa de suas atividades. “O Plano ABC é um dos maiores avanços dos últimos 30 anos em programas de crédito”, avalia.

Uma das principais linhas do Plano ABC é a concessão de crédito para a recuperação de pastos degradados, de baixa produtividade. Quando recuperados e saudáveis, as pastagens suportam um maior número de animais e captam carbono da atmosfera. “A meta é recuperar 15 milhões de hectares de pastos degradados até 2020, o que representa uma área maior que a Itália e maior do que a área de lavoura da Argentina”, compara Chandoha.

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