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Agroecologia é a solução para uma produção rural sustentável

Produtores, consumidores e instituições públicas têm demonstrado, cada vez mais, o interesse em mudar a forma de produção agrícola


Produtores, consumidores e instituições públicas têm demonstrado, cada vez mais, o interesse em mudar a forma de produção agrícola para um sistema mais sustentável e menos agressivo ao meio ambiente. Sob essa perspectiva, será realizado em Curitiba, entre os dias 9 e 12 de novembro, o VI Congresso Brasileiro de Agroecologia e o II Congresso Latinoamericano de Agroecologia.

Uma demonstração do interesse crescente em torno da Agroecologia no Brasil e na América Latina é o número de trabalhos inscritos no congresso, considerado surpreendente. Foram inscritos 1.500 trabalhos, que irão discutir, entre outros assuntos, as alternativas disponíveis para aumentar a produção de alimentos com menos dependência de pacotes tecnológicos, como insumos químicos e agrotóxicos, e com menos agressão ao meio ambiente.

Esses trabalhos foram supervisionados, esta semana, pelo professor Fabio Dal\\\'Soglio, diretor da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo ele, num momento em que epidemias e contaminações ameaçam o mundo, governos, produtores e consumidores deveriam se preocupar mais em direcionar suas políticas públicas e investimentos para sistemas de produção de alimentos mais sustentáveis, que reduzam as possibilidades de transmissões de vírus e de bactérias.

Dal\\\'Soglio citou, como exemplo, a pandemia de gripe suína que está preocupando o mundo inteiro. “Se houvesse menos trânsito de animais, mais criação ao ar livre, com conforto, não haveria tantas mutações de vírus como estão ocorrendo”. O professor atribuiu às grandes criações industriais, ao trânsito intenso de animais e à proximidade com o homem a transferência de vírus dos animais para os homens.

Na avaliação do professor, esse trânsito intenso de produtos acontece também na área vegetal, o que favorece a disseminação de fungos, vírus e bactérias que se transmutam e se transformam em epidemias ameaçadoras para a humanidade. Ele defende o consumo de alimentos produzidos localmente, que irá resultar numa grande economia de estrutura, combustíveis e redução de práticas que elevam o aquecimento do meio ambiente.

Segundo Dal\\\'Soglio, a Agroecologia é uma resposta tranquilizadora a todas essas situações que o mundo está vivenciando. “Ela é uma ciência que trabalha de forma conjunta os interesses dos produtores, dos consumidores e dos cientistas, que resulta em novos comportamentos como o consumo consciente, a redução de custos do agricultor, a redução do aquecimento global, das crises econômica e ambiental. Enfim, é uma ciência que busca a solução para todos esses impasses que estão no olho do furacão das preocupações mundiais”, disse.

Para o professor, o Congresso de Agroecologia ganha importância à medida que reuna, num mesmo espaço, pessoas interessadas em discutir como praticar uma agricultura sustentável, que não agride o meio ambiente, que não suja os rios, que não agride a saúde dos consumidores, que não seja tão onerosa para os produtores. O objetivo é discutir tecnologias que orientem as comunidades a se manterem de forma sustentável e com dignidade.

A Agroecologia é a ciência que vai permitir que a Agricultura Familiar dê as respostas às crises econômica e ambiental, disse Dal\\\'Soglio. O grande desafio do Congresso para consolidar sua prática será a discussão de vários temas importantes para a sociedade que é a discussão de um mundo melhor.

Eixos temáticos - De acordo com o pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), e coordenador da Comissão Técnico e Cientifica que está fazendo a avaliação dos trabalhos inscritos, Moacir Darolt, o evento está sendo organizado conforme grandes eixos temáticos. Entre eles está a segurança alimentar, agrotóxicos, transgênicos, agricultura convencional e transgênica, agroenergia, aquecimento global, saúde, comercialização, e mutações de vírus, que resultaram no que estamos vendo hoje que é essa pandemia de gripe suína. Vários temas que afetam o dia a dia das pessoas serão abordados pelos participantes.

Está sendo esperado um público em torno de 3000 pessoas, entre professores, alunos, cientistas, estudantes, agricultores, consumidores e técnicos. O congresso também abre espaços para a realização do primeiro encontro nacional de grupos de estudantes de Agroecologia, e do seminário que vai privilegiar os relatos das experiências de agricultores.

O professor Dal\\\'Soglio defende a adoção de politicas públicas e investimentos em pesquisa e na academia para promover a produção agroecológica. “Mais escolas estão investindo na mudança de seus currículos e na formação de técnicos e especialistas”, disse. O congresso tem essa função de trazer as diferentes visões das agrociências, das ciências sociais e da veterinária, para criar novas situações para o futuro com uma agricultura sustentável, acrescentou.

No Brasil, podemos perceber essa tendência a partir de iniciativas dos ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que estão direcionando políticas públicas em apoio à agroecologia. “Essa é uma resposta a uma demanda que é mundial”, disse Dal\\\'Soglio. Segundo o professor, com a falta de alimentos para muita gente, a entrada da agroecologia e a transformação do desenvolvimento rural para um sistema mais local e sustentável, estão entre as soluções disponíveis.

Isso porque a Agroecologia tem em sua base a prática da agricultura camponesa, menos dependente de pacotes tecnológicos, o que faz toda a diferença nos custos de produção, e esse é um dos objetivos do congresso, detalhou.

Para o professor, essa demanda deve ser mais intensa para atingir as politicas públicas. É possível viver de forma diferente. A questão toda é dar prioridade à produção sustentável e não ceder à pressão de produtos e tecnologias, que vão criar a dependência da agricultura. Esse é o contraponto da Agroecologia, o desafio de ser aceita na sociedade como uma ferramenta importante de independência. “A redução da dependência de insumos, respeito à natureza, à sociedade, vai na contramão dos interesses econômicos”, alertou.

Na avaliação de Dal\\\'Soglio, o governo deve rever sua postura porque a sociedade brasileira não pode mais ficar na dependência de sistemas de produção não sustentáveis. “Estamos num momento de ter uma postura política para essa área com mais responsabilidade”, concluiu.

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