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Agroindústria recorre à Bolsa para se capitalizar

O campo enxergou na oferta inicial de ações uma estratégia para financiamento


O campo definitivamente enxergou na oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) uma estratégia para seu financiamento. Em 2004, nenhuma empresa do agronegócio estava no Novo Mercado ou nos Níveis de Governança da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). No ano passado, foram quatro e, até ontem, mais seis - considerando as que ainda aguardam aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para a abertura de capital.

O setor representa, desde 2005, cerca de 10% do total de empresas que ofertam ações na Bovespa e hoje é o segundo grupo que mais aguarda análise na CVM - atrás apenas do sistema financeiro. A última empresa do agronegócio a solicitar a abertura de capital foi a Açúcar Guarani S.A.. Os segmentos sucroalcooleiro e o de frigoríficos são os que dominam a oferta de ações neste ano. "Só agora o campo percebeu as oportunidades da bolsa", avalia Raul Beer, sócio-responsável da PricewaterhouseCoopers.

Para Fernando Pimentel, diretor da Agrosecurity o boom deste ano se deve a um "efeito reflexo", ou seja, a entrada de uma grande empresa leva seus concorrentes a solicitarem a abertura de capital. "Se o concorrente abre, você fica desfavorável", afirma. É o caso da Cosan - que provocou o IPO da São Martinho e a solicitação da Açúcar Guarani - e da JBS - que levou o Minerva e o Marfrig a pedirem a análise de oferta de ações pela CVM.

"Entram na bolsa aqueles segmentos que têm poder de expansão tanto em exportações quanto no mercado doméstico", avalia Fábio Silveira, economista da RC Consultores. Os analistas são unânimes na necessidade de investimentos do agronegócio e, diante disso, na procura pela bolsa como alternativa. Beer acrescenta que até 2004, com o IPO da Natura, a Bovespa era "um lugar de transação de ações abaixo da realidade" e que a partir dali "passou a exercer a função de ser fonte de recursos para investimento".

"O cenário está ficando interessante para a expansão dos investimentos com prazo longo e, neste sentido, o melhor caminho é a abertura de capital", acredita Pimentel. Segundo ele, no caso das usinas, o recurso obtido na bolsa tem sido usado para investimento ou liquidação de dívidas. Já os frigoríficos, para expansão. "É o momento de consolidação, em que os IPOs servem para os grandes comprarem os pequenos", afirma o diretor da Agrosecurity.

Pimentel acrescenta que a entrada na Bovespa faz parte da profissionalização do setor, uma vez que os níveis de exigência de governança são altos. Para o estrategista de Renda Variável da Link Corretora, Celso Boin, a abertura de capital era uma "tendência natural" do agronegócio, que em muitos casos tinha empresas familiares. "Além disso, o mercado de capitais vive uma euforia e o custo de captação está baixo", avalia. Em um cenário futuro, além da ampliação da participação do campo na bolsa, Boin avalia que deve ocorrer uma reflexão sobre o real valor das empresas. Ele cita como exemplo a Cosan e a JBS, que estrearam com ações a preços altos, que foram se "ajustando".

O estrategista da Link Corretora acrescenta também que o setor tem muito espaço para crescer, apontando segmentos como o de empresas de plantio de eucaliptos, de comercialização de terras e de biodiesel com boas perspectivas no mercado de capitais. Mas o grande boom, na sua avaliação, é o das empresas de alimentos. "Estas devem se valorizar, pois há uma demanda crescente em nível mundial", afirma.

Foi justamente neste segmento a maior valorização das ações entre as empresas do agronegócio que fizeram IPOs desde 2004. Ontem, a maior alta foi a da JBS: 6,01%, com o papel avaliado em R$ 8,11. No acumulado do ano foi a Perdigão, com valorização de 18,5%, encerrando o pregão a R$ 35,79 a ação.

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