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Agronegócio leva riqueza ao interior de Goiás


A pujança do crescimento do agronegócio brasileiro adquire contornos ainda mais expressivos quando o seu impacto é medido nas cidades que dependem diretamente dos "agrodólares". Localizada no sudoeste de Goiás, Rio Verde (a 234 km de Goiânia) mostra o quanto a renda da agricultura pode se alastrar não apenas para os grandes proprietários, mas também para o restante da população.

Impulsionada pelos negócios da soja e do algodão, a cidade tem um PIB (Produto Interno Bruto) estimado de R$ 790 milhões que deve crescer 7% neste ano. O minguado PIB total do Brasil deve crescer no máximo 1,6%.

Na esteira desse crescimento, um dos sinais externos mais notórios da prosperidade de Rio Verde é a circulação de carros importados. Graças a isso, a revendedora da Citroën, que chegou à cidade em 2001, alcançou o primeiro lugar no ranking nacional de vendas (baseado na relação entre número de carros vendidos e tamanho do mercado) da montadora.

Hoje, o faturamento médio da unidade é de R$ 600 mil, considerado um desempenho surpreendente para uma cidade com população de 140 mil habitantes. Em 2002, foi vendido, em média, um carro de luxo --na faixa de R$ 100 mil-- por mês. "Neste ano, as vendas devem crescer 40%, devido, principalmente, ao lançamento do novo modelo C3 (aproximadamente R$ 30 mil)", diz Anderson Inácio, gerente da loja.

O boom dos preços da soja no mercado internacional no ano passado só veio a dar mais um empurrão nos negócios da cidade, que estavam em expansão desde a instalação de uma unidade da Perdigão, em 2000.

"Na época da colheita de soja é que registramos os picos de venda. Alguns produtores pagam direto com a produção [com cheques de venda antecipada emitidos pelas beneficiadoras de soja da região]", diz Inácio.

Embora não divulgue números, a revendedora da Mitsubishi, a poucos metros da concorrente francesa, também comemora o desempenho. Tiago Zancaner Gil, gerente da loja, afirma que o modelo L200, de R$ 62 mil, é o campeão de vendas.

Grife

O consumo de bens importados e de roupas de grife dos grandes centros urbanos, como Fórum, Zoomp e Triton, é sustentado com avidez da nova classe média da região. Já os mais abastados voam em jatos próprios ou fretados para fazer compras em Goiânia ou mesmo em São Paulo.

Wagner Cabral, professor universitário e promotor de Justiça, ilustra o perfil da classe média de Rio Verde. Ele e a mulher, a psicóloga Valéria Cabral, também são adeptos de carros importados: "Trocamos de carro todo ano".

O caso de Cabral não é exceção. Segundo o gerente da Citroën, há clientes que têm mais de cinco veículos importados na garagem.

"Aqui ainda não tem muitos lugares para gastar dinheiro, só tem um cinema, não tem shopping. O que as pessoas daqui gostam é de comprar carro importado", afirma Merce Silva, moradora da cidade.

Um outro bom termômetro que mede o apetite para o consumo em Rio Verde é o volume de arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) na cidade. No ano passado, foram arrecadados R$ 21,4 milhões. A previsão de arrecadação deste ano é de R$ 80 milhões.

As principais empresas da região, ADM, Cargill e Comigo (maior cooperativa do Centro-Oeste), mantêm firme o ritmo de investimentos na região. A Perdigão, por exemplo, planeja investir mais de R$ 200 milhões até 2007 na expansão do parque industrial no município.

O dinheiro movimentado pela agricultura trouxe mais de 2.000 empresas para Rio Verde nos últimos dois anos e dois estabelecimentos de ensino superior.

Mas a massa crescente de novos moradores --15 mil nos últimos dois anos, segundo estimativas do secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Avelar Macedo-- tem inflado o custo de vida na cidade.

Migrantes

Os "novos" rio-verdenses que migram para a cidade, vêm, na sua maioria, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Boa parte deles atraído pelos empregos da Perdigão. "Precisamos importar mão-de-obra para preencher os cargos de gerência", explica Nelson Hacklauer, diretor de Desenvolvimento de Negócios.

A prefeitura estima que desde a instalação da Perdigão, em 2000, a demanda por imóveis aumentou 20%. Em comparação com Goiânia, por exemplo, o valor de imóveis está bem superior. Em Rio Verde, é difícil encontrar um apartamento de dois quartos --num bairro de classe média-- à venda por menos de R$ 100 mil.

"O preço das casas tem subido demais. O ritmo de novas construções não acompanha o mercado. Hoje sai mais caro comprar um apartamento usado que um novo, na planta", diz Inácio.

A inflação dos preços dos imóveis, porém, não trouxe ainda os efeitos negativos da urbanização acelerada. Nas principais ruas da cidade, aparentemente não há mendigos. Nos bairros de população de baixa renda, as casas são simples, mas de tijolo. Porém os moradores relatam que já perceberam aumento no número de pedintes. A maioria, dizem, é egressa de outras cidades.

Se é difícil coibir o afluxo de pessoas sem emprego para a cidade, a prefeitura afirma que pretende qualificar a mão-de-obra nativa. A prefeitura diz investir 30% da arrecadação no ensino fundamental, além de conceder bolsas para aprimoramento profissional de professores universitários.

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