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Agrotóxico ilegal causa prejuízo de R$ 260 milhões ao Brasil

A indústria dos defensivos agrícolas no Brasil calcula um prejuízo de R$ 260 milhões todos os anos


Uma nova modalidade de crime tem mobilizado as autoridades aduaneiras no Brasil. O tráfico de agrotóxicos ilegais, produzidos na China, Chile e Paraguai, tem se mostrado lucrativo para quem o pratica, mas é desastroso para a agricultura, a saúde, o meio ambiente e a economia nacional. A indústria dos defensivos agrícolas no Brasil calcula um prejuízo de R$ 260 milhões, todos os anos, com o contrabando. Anualmente, o setor movimenta R$ 4 bilhões, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), com sede em São Paulo (SP).

Assim como ocorre com o contrabando de mercadorias, armas e drogas, o Paraná é a principal porta de entrada do agrotóxico ilegal no país, por conta da fronteira com o Paraguai. Só nos últimos três anos, foram apreendidas no estado cerca de 12 toneladas deste tipo de produto. Segundo o Sindag, quase 100 toneladas de agrotóxicos piratas foram descobertos nos últimos quatro anos no Brasil.

A quantidade que não é apreendida, no entanto, pode ser maior. “Pode ser que o contrabandeado seja dez vezes isso. A gente não tem como saber”, afirma o secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida. Para atravessar a fronteira, os contrabandistas usam “mulas” (pessoas que transportam o produto junto ao corpo) e escondem embalagens de 10 a 200 gramas de veneno em pó em meio à produtos como brinquedos, roupas e eletrônicos.

Quando conseguem passar pela aduana, os agrotóxicos são então reunidos em grandes quantidades para serem vendidos no Brasil. As culturas de soja do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul são os principais destinos. A BR-277, entre Foz do Iguaçu e Cascavel, é uma das rotas utilizadas. No ano passado, foram três grandes apreensões neste trecho feitas pela Polícia Rodoviária Federal. Numa delas, 1.136 pacotes de agrotóxico chinês, avaliados em R$ 100 mil, eram transportados dentro de um caixão em um suposto serviço funerário.

Legislação:

Para ser registrado no Brasil, um agrotóxico precisa atender às especificações de três ministérios: Agricultura, Saúde e Meio Ambiente. São realizados testes de eficiência agronômica, exames toxicológicos e é definido um limite máximo de resíduos nas condições brasileiras, um processo demorado e que custa caro. Quando o defensivo agrícola não é certificado, seguramente ele não preencheu algum requisito. “Muitas vezes, os estudos toxicológicos do ingrediente ativo não permitem que ele tenha registro no país”, explica o chefe do setor de fiscalização de agrotóxicos da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab), Alvir Jacob.

A grande preocupação das autoridades é justamente com a dosagem utilizada pelos agricultores. Como o rótulo e a receita agronômica dos produtos estão em língua estrangeira (espanhol, na maioria dos casos), a pessoa que vai aplicar o agrotóxico não lê as especificações. “Ocorre que estes produtos contrabandeados, quase sempre, têm concentração muito maior do os que nós temos aqui. Equivale a dizer que o risco de você fazer uma pulverização com uma concentração altíssima é muito grande”, avalia o secretário do Meio Ambiente. De acordo com o setor de epidemiologia da Secretaria de Estado da Saúde, os defensivos agrícolas são a segunda principal causa de intoxicação no Paraná, com 19% dos casos.

Os outros prejudicados são os próprios agricultores que utilizam o agrotóxico pirata. A Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav) tem registros de 100 mil hectares de plantações que foram “queimadas” pelo uso do veneno contrabandeado. O prejuízo se multiplica. “Para o agricultor aplicar o produto, ele já gastou com semente, fertilizante, óleo diesel, teve que preparar todo o solo para fazer o plantio. Mas a colheita foi queimada”, analisa o presidente executivo da Andav, Henrique Mazotini.

Quando a produção não é danificada, ela pode ser destruída se for descoberto o uso do defensivo pirata. No ano passado, após uma denúncia anônima, a Seab chegou a uma plantação de soja no Sudoeste do estado e descobriu que o herbicida utilizado continha ingredientes com concentração acima da permitida pela norma brasileira. A lavoura foi interditada e as 800 sacas de soja colhidas foram apreendidas para destruição.

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