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Álcool deverá ser a salvação de usineiros


O setor sucroalcooleiro está saindo de uma safra recorde de produção de cana-de-açúcar e entrando em outra ainda maior. O setor, que vinha administrando períodos de escassez, intercalados com excessos temporários de oferta, vai sobreviver agora com uma fase de maior equilíbrio.

As quebras de safra no final dos anos 90, que provocaram bons preços nos anos seguintes, fizeram a área de cana-de-açúcar aumentar seguidamente. Nesta safra de 2004/5, a área de plantio deverá atingir 3,8 milhões de hectares na região centro-sul (mais 9,2%).

Essa nova área deverá gerar 320 milhões de toneladas de cana-de-açúcar disponíveis para as usinas, 7% a mais do que o volume da safra 2003/4, que está terminando.

Esse aumento de produção ocorre em um período de preços baixos, tanto no mercado interno como no externo, o que exigirá esforço ainda maior das usinas na administração de suas contas.

Carros bicombustíveis

O aumento do volume produzido, com queda nos preços, preocupa, diz Eduardo Pereira de Carvalho, da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo). Mas o setor coloca todas as esperanças no potencial do mercado interno, principalmente no consumo de álcool, devido ao avanço da produção de carros bicombustíveis (funcionam com álcool e com gasolina).

"Com esses novos carros, os consumidores podem escolher o combustível que estiver com o preço mais competitivo. Com a competitividade que o setor adquiriu, o álcool será sempre uma boa opção à gasolina", diz Carvalho. Os preços do álcool só deixam de ser viáveis ao consumidor quando ultrapassarem 70% dos da gasolina. Neste mês, a paridade é de 38,5%, mas é atípica -é a menor já registrada na história do combustível.

Só neste ano a produção de carros bicombustíveis deverá atingir 300 mil unidades. Em 2007, de cada três veículos produzidos, dois serão do tipo bicombustível, prevê a Unica. Com isso, as estimativas da entidade são que o consumo de álcool poderá atingir 17 bilhões de litros em 2010. Atualmente, está em 12 bilhões.

A venda de carros bicombustíveis já está dando sustentação aos preços do álcool no mercado interno. O consumo de álcool desses veículos supera o dos carros antigos que saem do mercado.

Clima favorável

A safra de cana-de-açúcar deste ano, ao atingir 299,4 milhões de toneladas, superou em 10,7% a anterior e surpreendeu até mesmo os usineiros. "A produtividade foi superior ao que se imaginava, e atingiu 85 toneladas por hectare", diz Carvalho.

Além disso, a qualidade da cana também foi melhor, com um aumento de 13% na ATR (a quantidade de açúcar ou de álcool extraída por tonelada de cana) nesta safra em relação à anterior. A tonelada de cana rendeu 149 quilos de ATR nesta safra, três quilos a mais do que na anterior.

Carvalho diz que dois fatores foram fundamentais para a boa safra: clima e canavial novo. As chuvas foram excepcionais, e dificilmente ocorre um ano tão bom assim, diz Carvalho.

O resultado desses fatores positivos foi a produção de 20,4 milhões de toneladas de açúcar na região centro-sul, com aumento de 9% em relação aos 18,8 milhões do ano passado. Já a safra de álcool subiu para 13 bilhões de litros, com aumento de 16,8%.

As perspectivas para a safra que será iniciada no final de abril -a 2004/5- não são tão otimistas assim. Já faltou chuva no período de formação de parte dos canaviais, e a ATR deverá ter queda de 1%.

Apesar dessa queda de produtividade, a safra crescerá para 320 milhões de toneladas, 7% a mais do que a anterior porque a área plantada cresceu 300 mil hectares.

Os dados preliminares da Unica indicam produção de açúcar de 22,6 milhões de toneladas para o centro-sul, com avanço de 10% em relação à safra que está sendo encerrada. Já a produção de álcool sobe para 13,3 bilhões de litros, com evolução de 2%.

Ao contrário do que ocorreu em 2003, os produtores vão postergar a safra deste ano em pelo menos três semanas para fugir dos preços baixos. O álcool anidro carburante recuou para R$ 0,48 por litro nas usinas em fevereiro, contra R$ 0,95 no mesmo período de 2003. Já a saca de açúcar (50 quilos), que custava R$ 45 em fevereiro de 2003, agora custa R$ 18.

Esse quadro de preços desfavoráveis fez o faturamento do setor recuar para R$ 11 bilhões nesta safra que se encerra no Estado de São Paulo, 9% abaixo dos R$ 12,1 bilhões do ano passado.

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