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Algodão vira moeda forte no negócio da soja

Produtor paga compra de fertilizantes e agrotóxicos para soja com a fibra


Sem caixa, produtor paga compra de fertilizantes e agrotóxicos para soja com a fibra. O escambo agrícola - troca de insumo por produto -, que já foi tradicional para a soja, virou rotina com o algodão. Estima-se que metade das exportações da fibra neste ano será resultado da permuta por defen-sivos e fertilizantes. Boa parte, como forma de financiamento do custeio de outra lavoura: a soja. Alguns chegaram a plantar algodão para poder financiar as demais culturas.

Problemas de liquidez, escassez de crédito e preços remuneradores pelo algodão estimularam a mudança na forma de compra de insumos. Indústrias de insumos fazem a venda casada do produto com a exportação do algodão.

O negócio é tido como vantajoso para os dois elos da cadeia, segundo produtores e indústria. Há cinco anos, este sistema representava cerca de 10% dos embarques de algodão do País. Agora acredita-se que vai abocanhar metade das exportações.

O produtor Paulo Shimohira, que tem lavouras na Bahia e em Goiás, foi um dos que aderiu ao sistema. Ele comprometeu metade de sua colheita de algodão (3,5 mil toneladas de pluma) para o pagamento dos insumos do plantio de soja, algodão e milho. "Pagar com algodão é melhor porque o prazo é ampliado, já que a colheita é posterior à da soja", explica.

Segundo o analista de mercado Miguel Biegai Júnior, daSafras & Mercado, parte das negociações de exportação é feita diretamente pelas indústrias (que fazem o "papel de tradings") e outra é feita via triangulação - na compra é feito um contrato de venda externa com uma trading que repassa parte do pagamento à empresa de insumos. Acredita-se que 30% das vendas sejam feitas pelo primeiro sistema, 50% pelo segundo e o restante, de outras maneiras."É uma forma de hedge para todos", diz Biegai Júnior. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), João Carlos Jacobsen Rodrigues, confirma a proteção. Segundo ele, como os insumos eram comprados em dólar e pagos em reais, havia a variação cambial, que afetada todos os elos. "Agora, com essa diferença que sobra, a indústria paga um bônus no preço do produtor ou dá o frete até o porto", afirma.

A FMC Agricultural Products é das empresas de insumos que têm operado com este sistema de troca. Mas, segundo Gilberto Antoniazzi, diretor-financeiro da indústria, a decisão de exportar ou não é do produtor. Apenas a Syngenta deve exportar, através deste sistema, mais de 100 mil toneladas de pluma de algodão no ano que vem. "A troca é vantajosa também para a indústria que, ao oferecer o produto diferenciado - exportação com frete - fideliza seu cliente", diz Alfredo Benito, diretor-financeiro da empresa. O sócio-diretor da Agrosecurity Gestão de Agroativos, Fernando Pimentel, diz que o sistema de troca de insumos por produto está se espalhando também o trigo, milho e arroz.

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