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Ameaça de El Niño paira no ar

Mais forte do que nunca, fenômeno climático vai reconfigurar a economia global


Mais forte do que nunca, fenômeno climático vai reconfigurar a economia global, alterando a dinâmica de setores como agricultura e energia

O “garoto” está chegando para bagunçar a economia global. Segundo o monitoramento da Nasa, o próximo El Niño, fenômeno climático que ocorre com o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, deve dar as caras no próximo semestre com características parecidas com as registradas há 17 anos, no fim dos anos 90: períodos de chuva devastadores para o Sul do Brasil e fortíssimas estiagens no Norte e Nordeste, além de um enlouquecimento total nas temperaturas ao redor do globo. Caos climático à parte, o fenômeno também reconfigura a economia mundial, alterando a dinâmica de setores como agricultura, geração energética e abastecimento de regiões.

Em maio, a agência espacial americana divulgou que um de seus satélites detectou que as águas do Pacífico estavam dez centímetros acima da média e “fervendo como 1997” – indícios de que um El Niño poderoso está por vir.

Daquela vez, quando o fenômeno atingiu seu pico desde o final do século 19, as enchentes causadas pelas intensas chuvas em todo o mundo foram responsáveis pela morte de mais de 23 mil pessoas. Não bastasse isso, as mudanças também causaram a quebra de safra de grãos na Ásia e Austrália. Nos Estados Unidos, o aumento da temperatura daquele ano poupou os americanos de US$ 2,2 bilhões de gastos com energia, mas retirou US$ 3 bilhões da economia do país com os aumentos dos custos na agricultura.

“A previsão climática é muito complicada. Só saberemos ao certo depois do inverno, mas certamente estes fenômenos, e problemas, podem se repetir nos próximos doze meses”, afirma o meteorologista especialista em El Niño, Walter Terciotti.

Previsão

No Brasil, a chegada do fenômeno – ainda mais em fortes proporções – preocupa alguns e anima outros. A expectativa é de que na virada do ano as chuvas se intensifiquem do Centro-Oeste ao Sul e a estiagem castigue o Norte e o Nordeste.

Para a geração das hidrelétricas, o aumento das precipitações no Sudeste deve elevar o nível dos principais reservatórios do país. No Centro-Oeste, o aumento moderado das chuvas seria benéfico para a safra de grãos. “Hoje trabalhamos com uma expectativa de aumento de 3,5% na produtividade da soja em uma boa safra de El Niño”, afirma o meteorologista da Embrapa no Mato Grosso, Ademir Batista.

Já no Sul, o aumento das chuvas tende a ser prejudicial. A safra de trigo, que se concentra na região, fica bastante comprometida, encarecendo o custo com seguros agrícolas. Segundo o estatístico especialista em seguros da PUC-RS, Claudio Santello, os bancos negociam os planos com um reajuste de até 5% quando a perspectiva é de precipitações acima da média. “O histórico aponta para um volume três vezes maior de chuvas”, afirma Santello.

No Nordeste, a economia também fica comprometida. A seca derruba a produção agropecuária e os preços sobem acima da média. Ano passado, quando a estiagem foi tão forte quanto em 97, a inflação dos alimentos foi 40% maior do que a média nacional.

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